terça-feira, 18 de julho de 2017

Santificação e Pureza.



Texto base: Efésios 4:17-24.


Introdução

Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, remindo o tempo, porquanto os dias são maus.

 Efésios 5:15-16.

Embora o texto acima tenha sido escrito há 2.000 anos, o mesmo retrata a realidade dos dias atuais.
Quando falamos sobre santidade e pureza, não só os jovens são desafiados pelas dificuldades, mas todo cristão verdadeiro, independente da idade. Todos os dias somos bombardeados pelos meios de comunicação, a imoralidade se tornou algo comum, e todos que sustentam valores cristãos são oprimidos por uma política que marginaliza qualquer defesa a moralidade.
Por essas dificuldades se faz necessário que a igreja do Senhor viva os meios de graça, a fim de que por meio delas tenhamos forças e conhecimento para nos manter firmes e lutar contra os ataques a fé.
Além das dificuldades relacionadas às influencias do mundo, também sofremos com distúrbios teológicos doutrinários que obscurecem o real sentido da santidade e pureza. Creio que a agressão feita à doutrina da justificação torna a graça barata e por meio de sutilezas às vezes legalistas, e outras libertinas, desvirtua a necessidade de boas obras. Essa desvirtuação ocorre no sentido em que alguns entendem que precisam de obras para ser salvos, e entram pelo caminho do legalismo e fanatismo religioso. Por outro lado, o liberalismo prega uma salvação que não exige nenhuma responsabilidade daqueles que foram justificados pela graça.
Devemos evitar ambos e buscar o entendimento correto do papel das obras na vida daqueles que foram justificados por Cristo.

Sobre Éfeso

·         [1]Éfeso era a maior, mais rica e mais importante cidade da Ásia Menor. Era chamada “a feira das vaidades” do mundo antigo.[2] Um escritor romano a chamou: “a luz da Ásia”. [3]A cidade tinha uma população estimada em mais de duzentas mil pessoas. Os efésios construíram um teatro que podia oferecer assento para cerca de 24 mil pessoas.[4]
·         Em Éfeso, ficava o mais importante porto da Ásia Menor.[5] Para todos os que desejavam viajar para algum lugar da Ásia, Éfeso era a entrada obrigatória. Mais tarde, quando muitos mártires foram capturados na Ásia e levados a Roma para ser lançados aos leões, Inácio rebatizou Éfeso de “a porta dos mártires”.[6]
·         Éfeso era o centro do culto a Diana (Atos 19:35), cujo templo jônico era uma das sete maravilhas do mundo antigo.[7] Nesse templo, havia centenas de prostitutas sagradas. Tudo isso fazia de Éfeso uma cidade sobremodo imoral.[8] Simon Kistemaker, citando o filosofo grego Heráclito, diz que a moral do templo era pior que a moral dos animais, pois nem mesmo os cães promíscuos mutilavam uns aos outros.[9] Era uma cidade mística, cheia de superstição e também um dos centros do culto ao imperador.
·         Paulo visitou a cidade no final da sua segunda viagem missionária por volta do ano 52 D.C. Em sua terceira viagem, permaneceu em Éfeso por três anos.
·         Apesar de todos os problemas morais da cidade, houve ali alguns sinais de avivamento: as pessoas ao ouvirem o evangelho denunciavam publicamente suas obras; rompiam com o ocultismo, queimando seus livros de magia; e dali o evangelho de Cristo se espalhou para toda Ásia Menor (Atos 19:1-20).

Visão Panorâmica
1.      Autor: Paulo
2.      Destinatários: “Aos santos que vivem em Éfeso e fiéis em Cristo Jesus” (Ef 1.1).
3.      Mensagem: O que Deus fez por meio de Cristo e sua obra de santificação por meio do Espírito.
4.      Tema central: A nova sociedade de Deus, a igreja.
5.      Data e local onde foi escrita: Provavelmente em prisão domiciliar, em Roma, entre os anos 61 a 63 d.C. (Ef 4.1; 6.20).

Esboço geral da carta, proposto por John stott
1.      Introdução à carta (Ef 1.1-2).
2.      A nova vida que Deus nos deu em Cristo (Ef 1.3-2.10).
3.      A nova sociedade que Deus criou mediante Cristo (Ef 2.11-3.21).
4.      Os novos padrões que Deus espera da nova sociedade (Ef 4.1-5.21).
5.      Os novos relacionamentos (Ef 5.22-6.24).

Exposição

Isto, portanto, digo e no Senhor testifico que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos,
Paulo inicia o verso 17 confirmando o que havia falado anteriormente do verso 1-16.
É interessante que a doutrina da eleição não nos coloca numa posição de comodismo quanto nossa responsabilidade moral. Fomos eleitos para uma nova vida em Cristo, não mais andando como andávamos outrora, alienados, escravos do pecado, mas segundo a imagem do nosso Senhor.
Observem que ele usa a expressão “no Senhor”, que indica que o que esta falando tem a aprovação do Senhor.
Quando analisamos a declaração de Paulo, concluímos que há duas ideias combinadas:
a.       Ponham de lado sua antiga forma de vida; cf 2.1-3,12; 4.14,22.
b.      Em sua vida atual, não imitem o ambiente ímpio. A o falar da conduta gentílica Paulo acrescenta: futilidade de sua mente.

Paulo, ao falar da nova vida, usa uma linguagem tipificada. Há uma vida comum à maioria dos gentios, e uma vida comum à vida cristã. Para os efésios o que Paulo estava falando era verificável cotidianamente por quatro coisas que caracterizavam a vida gentílica ou pagã.
1.      Mente vazia.
2.      Vida alienada de Deus.
3.      Coração endurecido.
4.      Corpo entregue a toda sorte de impureza. (Ef 4.19).

O contraste a esta vida é o que Paulo chama de: “Mas não foi assim que aprendestes a Cristo” (Ef 4.20).
Esta afirmação de Paulo nos coloca não só como tendo aprendido com Cristo, mas aprendido o próprio Cristo. Ou seja, Cristo é o professor e também o conteúdo daquilo que temos aprendido.
Em seu comentário sobre Efésios, o Rev. Hernandes dias Lopes diz:
“Cristo é a substância, o mestre e o ambiente de ensino (4.21).”
Stott por sua vez disse:
“Jesus Cristo era o ensinador, o ensino, o conteúdo e o ambiente do aprendizado”.
  O próprio Senhor Jesus em sua oração sacerdotal em João 17.17 disse:
“Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.”
Cristo é o verbo Logoj
 (logos).
Cristo é a verdade. João 14.6.

Em outras palavras, se aprendemos de Cristo, com Cristo e em Cristo, é de se esperar coisas novas e melhores. É uma consequência lógica de se estar incluso na família de Deus.

Paulo então continua usando um argumento de contraste.

Mas vós não aprendestes assim a Cristo, se é que o tendes ouvido e nele fostes ensinados, como está a verdade em Jesus, que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso sentido, e vos revistais do novo homem, que, segundo Deus, é criado em verdadeira justiça e santidade.
Ef 4:20-24.

Nesses versículos Paulo explica o que de fato significa aprender a Cristo. Compreender a vida que Jesus nos deu, e os novos padrões que dela resultam.

“quanto a o trato passado” (“... quanto à antiga maneira de viver”- NVI), “vos despojeis do velho homem”.
A tônica do evangelho é então uma mudança total de vida, abandonando as antigas praticas e adotando praticas dignas da vocação dada por Deus.

·         O velho homem- é o homem carnal, morto em delitos e pecados (Ef 2.1-3), que anda segundo as inclinações da carne (Rm 8.5-11; Gl 5.16).
·         O novo homem- esse é renovado “no espírito do vosso entendimento” (Ef 4.23). A conversão tem haver com mudança de pensamento e atitudes, como Stott disse: “se a degradação dos pagãos se deve à mente vazia, a retidão do Cristão depende da constante renovação da mente”.

Aplicação

1.      Fomos eleitos para a santificação.
Assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor. Ef 1.4.
2.      O Espírito Santo aplica a morte e ressurreição de Cristo a nós para que sejamos santificados.
Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida. Rm 6.4.
3.      Não devemos confundir “justificação” com “santificação”.
No Catecismo Maior de Westminster questão 75 é feita a seguinte pergunta:

“O que é santificação?”

R: A santificação é uma obra da graça de Deus, pela qual aqueles a quem Ele escolheu antes da fundação do mundo para serem santos são, no tempo devido- pela operação poderosa do Seu Espírito a o aplicar-lhes a morte e a ressurreição de Cristo- renovados em toda a sua humanidade à imagem de Deus; têm as sementes do arrependimento para a vida e recebem em seus corações todas as demais graças salvadoras que são estimuladas, aumentadas e fortalecidas para que eles morram mais e mais para o pecado e ressuscitem em novidade de vida.

Reparem que o catecismo afirma que a santificação é uma obra da graça de Deus. Porque diferentemente da justificação e da adoção, a santificação não é um ato, mas um processo. A justificação e a adoção são atos instantâneos, realizados de uma vez para sempre num ponto do tempo, mas a santificação é um processo para a vida inteira; inicia-se na hora em que a pessoa é regenerada e vai até o momento da sua morte, quando a alma adentra o estado de glória.[10]

Na questão 77 o Catecismo pergunta:

“Em que diferem a justificação e a santificação?”
R: Embora a santificação seja inseparavelmente unida à justificação, elas são, contudo, diferentes nisto: Deus, na justificação, imputa a justiça de Cristo; na santificação o seu Espírito infundi a graça e dá poder de exercita-la. Na primeira o pecado é perdoado; na outra é subjugado. Uma liberta igualmente todos os crentes da ira vingadora de Deus- e isso nesta vida, para que jamais sejam condenados; a outra não é igual em todos nem é perfeita em ninguém nesta vida, mas progride para a perfeição.[11]

Ø  Imputar- é um termo jurídico que significa atribuir ou colocar alguma coisa na conta de alguém
Ø  Infundir- significa derramar algo em alguma coisa.

Semelhanças entre justificação e santificação.[12]
·         Elas estão inseparavelmente unidas; não há justificação sem santificação, nem santificação sem justificação. Quem tem uma, tem também a outra.
·         Deus é o autor e a fonte de ambas, justificação e santificação.
·         Tanto a justificação quanto a santificação são procedentes da graça de Deus, ou amor e favor especial para com pecadores.

Pontos que diferem entre justificação e a santificação.[13]

JUSTIFICAÇÃO
SANTIFICAÇÃO
Um ato da livre graça de Deus
Uma obra da livre graça de Deus
Um ato mediante o qual Deus imputa a justiça de Cristo
Uma obra mediante a qual Deus infunde graça e poder
Um ato em que Deus perdoa o pecado
Uma obra em que Deus subjuga pecados
Total e igual para todos os casos
Difere em grau em diferentes pessoas
Completa e perfeita nesta vida
Incompleta e imperfeita nesta vida
Um veredicto judicial que livra da condenação e outorga a vida eterna
Um crescimento espiritual do caráter cristão, plantado e regado divinamente

4.      A santificação é uma necessidade da igreja, jovens e adultos.
5.      Uma vez que a santificação não é plena nesta vida, devemos instruir e compreender as limitações de nossos irmãos, sempre nos fortalecendo e não nos conformando com nossos pecados.
6.      Busquemos a santificação, pois o Senhor é Santo.







Que o Senhor aplique sua palavra em nossas vidas.






[1] Rev. Hernandes Dias Lopes, Ouça o que o Espírito diz às Igrejas, p. 43-44.
[2] Barclay, William. Apocalipsis, p.70
[3] Barclay, William. Apocalipsis, p.70.
[4] Kistemaker, Simon. Apocalipse, p.148.
[5] Ladd, George. Apocalipse, p.30.
[6] Barclay, William. Apocalipsis, p.70.
[7] Stott, John. O que Cristo pensa da Igreja, p.16.
[8] Barclay, William. Apocalipsis, p.72.
[9] Kistemaker, Simon. Apocalipse, p.150.
[10] Catecismo Maior de Westminster Comentada por Johannes Gareerhus Vos.
[11] Catecismo Maior de Westminster Comentada por Johannes Gareerhus Vos.
[12] Catecismo Maior de Westminster Comentada por Johannes Gareerhus Vos.
[13] Catecismo Maior de Westminster Comentada por Johannes Gareerhus Vos.