INTRODUÇÃO
Dá-se o nome de As Antigas Doutrinas da Graça, aquelas
doutrinas bíblicas defendidas durante a história bíblica e história da igreja,
por diversos crentes que lutaram para manter intactos os ensinos bíblicos com
respeito a doutrina da Eleição e Salvação Eterna.
Charles H. Spurgeon, grande pregador do evangelho,
pastor Batista que viveu no século 19, falando sobre as Doutrinas da Graça,
disse:
“Minha
opinião pessoal é que não há pregação de Cristo e este Crucificado, a menos que
se pregue aquilo que atualmente se chama calvinismo[...]”. (ANGLADA,
2009)
Já em sua época, Spurgeon
experimentava uma aversão as doutrinas da graça, contudo, ele não concebia uma
pregação que fosse fiel ao espírito do evangelho que não considerasse as
doutrinas bíblicas que Calvino e tantos outros antes dele pregaram e defenderam.
Por esse motivo, iremos partir do ponto de origem dessas doutrinas, a Sagrada
Escritura. Por meio desse breve estudo iremos caminhar pelas vias da história
até chegarmos ao momento em que essas doutrinas foram sistematizadas.
AS DOUTRINAS DA GRAÇA E AS
ESCRITURAS
A história bíblica da redenção
aponta para a ideia, que, Deus, durante a história, sempre agiu de forma
eletiva com o homem. Essa eleição sempre ocorreu não com vista a uma
retribuição divina as boas atitudes daqueles que foram alvo de sua eleição, mas
contrariando essa perspectiva, Deus escolheu entre os homens aqueles que
estavam perdidos.
No texto escrito por Paulo aos
romanos, o apóstolo apresenta-nos em seus três primeiros capítulos a situação
em que o homem caiu por ocasião da queda de nosso primeiro pai, Adão. Nesses
capítulos Paulo encerra toda a humanidade debaixo do pecado e consequentemente
alvos da ira de Deus. Por meio de sua argumentação, Paulo pretende demonstrar
que não há diferença entre aqueles que são de Israel ou não, todos sem exceção
necessitam da misericórdia de Deus e não possuem em si mesmos nada que os faça
merecer a bondade Divina.
Rm
2:1 Portanto, és inescusável quando julgas, ó homem, quem quer que sejas,
porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu, que
julgas, fazes o mesmo. 2 E bem sabemos que o juízo de Deus é segundo
a verdade sobre os que tais coisas fazem. 3 E tu, ó homem, que
julgas os que fazem tais coisas, cuidas que, fazendo-as tu, escaparás ao juízo
de Deus?
Rm
3:9 Pois quê? Somos nós mais excelentes? De maneira nenhuma! Pois já
dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do
pecado, 10 como está escrito: Não há um justo, nem um
sequer. 11 Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a
Deus. 12 Todos se extraviaram e juntamente se fizeram inúteis. Não
há quem faça o bem, não há nem um só.
Ambos os textos, acima citados,
demonstram aquilo que o Apóstolo entendia, pelo Espírito Santo, sobre qual era
a situação da humanidade diante de um Deus Santo. Esse entendimento Paulino com
respeito a condição humana permeia praticamente todos os seus escritos, em
Efésios, por exemplo, nos capítulos 1 e 2, ele trata claramente tanto da
doutrina da eleição, quanto elucida o motivo pelo qual os homens não podem por
suas próprias forças se achegarem a Deus.
Obviamente muitos outros textos
poderiam ser citados, não só paulinos, contudo, por se tratar de uma
introdução, não pretendo estender o assunto uma vez que cada ponto ficará
devidamente estabelecido durante a abordagem individual de cada tópico dos
chamados cinco pontos do calvinismo. Basta saber nesse momento que as
escrituras demonstram de forma abundante que a queda corrompeu de tal maneira o
ser humano que ele é incapaz de buscar a Deus por suas próprias habilidades,
que o homem natural é escravo do pecado e está constantemente sob a ira Divina.
AS DOUTRINAS DA GRAÇA E
AGOSTINHO.
Santo Agostinho de Hipona, como é
popularmente conhecido, era originário do Norte da África. Converteu-se em
Milão e logo se tornou Bispo de Hipona. Combateu diversas heresias em seu
tempo, entre elas: o maniqueísmo, o donatismo e o pelagianismo. Vamos discutir
em particular seu debate com respeito as ideias heréticas de Pelágio.
A controvérsia girou mais especificamente
sobre qual o estado do homem após a queda. Pelágio
defendia que apesar da queda, o homem não havia sido corrompido totalmente pelo
pecado e que este poderia, sem o auxílio Divino, responder positivamente a
graça de Deus (livre arbítrio). Agostinho, por outro lado, defendeu que o
homem, após a queda, tornou-se totalmente depravado, não podendo por suas
próprias habilidades voltar-se para Deus e sua Graça.
RESULTADO
O Pelagianismo foi condenado
oficialmente pela Igreja antiga nos concílios de Cartago (418 d.C.), de Éfeso
(431 d.C.) e finalmente no Concílio de Orange II (529 d.C.). (MAIA)
O SÍNODO DE DORT
Dort ou Dordrecht é uma cidade
da Holanda, que fica nas proximidades de Roterdã. Na época, Dort era uma das
principais cidades, a província mais
poderosa da República. (DORT, 2016)
A palavra “sínodo” significa,
na estrutura da Igreja Reformada, uma assembleia de pastores e presbíteros,
representantes das igrejas locais. Existem sínodos provinciais ou regionais, e
sínodos nacionais. (DORT, 2016)
ORIGEM DO NOME
“ARMINIANOS”
O nome arminianos deriva do nome
de um teólogo holandês que era pastor da igreja reformada em Amsterdã e foi
nomeado, em 1603, professor de teologia na Universidade de Leiden, a mais antiga e mais famosa da
Holanda, Jacobus Arminius, ou em português, Armínio. Um ano depois, Armínio
apresentou uma tese sobre a doutrina da predestinação, onde afirmava que a
eleição não era baseada no Eterno Decreto de Deus, mas na presciência Divina. Sua tese foi contestada por um
teólogo chamado Francisco Gomarus, Gomaro. Neste mesmo ano, Gomaro, apresentou
uma tese onde reafirmou o posicionamento já antes estabelecido e aceito sobre a
doutrina da predestinação. Em sua tese, ele reafirmou que Deus elege pecadores,
com base em seu Eterno propósito, sem prever neles qualquer boa obra que os
faça merecer sua graça Salvadora e que os demais são deixados em seu estado
natural de queda para que recebam a pena devida exigida pela justiça divina.
OS REMOSNTRANTES
Após a morte de Armínio, seus
alunos colheram anotações de sala de aula e formularam seus posicionamentos com
base na tese defendida por seu mestre. Eles pediram que fossem considerados
seus posicionamentos e que, a doutrina da salvação, com base nos seus escritos,
fosse revista e alterada. Por esse motivo o Sínodo foi convocado para tratar da
questão, o que ocasionou a resposta por parte daqueles que defendiam a doutrina
da salvação com base no Eterno decreto de Deus.
Composição do sínodo:
·
39 pastores;
·
19 presbíteros;
·
19 comissários políticos- havia na época uma
relação estreita entre a igreja e estado;
·
Representantes das universidades e seminários
regionais;
·
Foram convidados também representantes das igrejas
reformadas estrangeiras.
O sínodo teve início no dia 13 de
novembro de 1618, sob a presidência do pastor da Frísia, Johannes Bogerman, que
tinha como seu secretario particular o pastor inglês, puritano, Guilelmus
Amesius. (DORT, 2016)
DECISÕES TOMADAS NO
SÍNODO
No livreto publicado pela editora
Cultura cristã, “Os Cânones de Dort”, nos é
apresentado uma informação muito interessante sobre a posição dos
arminianos no decorrer do Sínodo.
“Nas
primeiras sessões, o Sínodo discutiu a
agenda e decidiu chamar treze dos teólogos arminianos mais importantes para
defender sua doutrina. Episcopius, professor da Faculdade de Teologia em Leiden
e sucessor de Armínio, e doze pastores compareceram em dezembro de 1618. Para
eles, o Sínodo não passava de uma conferência e eles lhe negavam competência
para agir como tribunal em questões de doutrina. Eles não queriam ser tratados
como réus. A tática do grupo arminiano era obstruir as reuniões do Sínodo com
debates formais. O Sínodo queria discutir os artigos da Remonstrância, mas o
grupo arminiano se recusava a expor claramente sua posição doutrinária. Após
quatro semanas de debates inúteis, o presidente do Sínodo dispensou o grupo dos
arminianos. Com isso, o Sínodo passou a julgar a doutrina arminiana com base em
seus escritos. Os cinco artigos dos arminianos foram discutidos e uma comissão
preparou o texto dos cânones ou regras de doutrina em que se condenava a
doutrina arminiana e se expunha a doutrina reformada.” (DORT, 2016)
Por algum motivo, parece que os arminianos, ou não estavam
seguros de sua posição, ou tentaram utilizar alguma tática para atrapalhar a
condução do Sínodo. Contudo, no dia 6 de maio de 1619, sendo aceitos por todos
os delegados, os Cânones de Dort foram solenemente promulgados.
Ao longo dos anos, a estudada resposta do Sínodo de Dort às
“heresias” arminianas tem sido apresentada na forma de um acróstico formado
pela palavra Tulip: (SPENCER, 2000)
T
|
Total depravity
|
Depravação total
|
U
|
Unconditional election
|
Eleição incondicional
|
L
|
Limited atenement
|
Expiação limitada
|
I
|
Irresistible grace
|
Graça irresistível
|
P
|
Perseverance of the saints
|
Perseverança dos santos
|
CONCLUSÃO
Nossa intenção foi de apresentar
um breve histórico de como foram formadas e estabelecidas as doutrinas da
graça. Uma abordagem minuciosa será apresentada na exposição individual de cada
um dos cinco pontos. Contudo, é de extrema importância que o aluno detenha esse
conhecimento introdutório para que tenha em mente o contexto que define o
espírito da época, isso o fará entender o porquê certas decisões tomaram seus
rumos atuais.
Bibliografia
ANGLADA, P. R. B. Calvinismo: As Antigas Doutrinas
da Graça. 3ª. ed. Belém: Knox Publicações, v. 0, 2009.
DORT, O. C. D. Os
Cânones de Dort. 3ª. ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2016.
MAIA, C. R.
http://misscristianerodrigues.blogspot.com/. misscristianerodrigues.
Disponivel em: <http://misscristianerodrigues.blogspot.com/2011/02/controversia-de-agostinho-e-pelagio.html>.
SPENCER, D. E. TULIP:
Os Cinco Pontos do Calvinismo à Luz das Escrituras. 2ª. ed. São Paulo:
PARAKLETOS, 2000.
Sl 14:2 O SENHOR olhou
desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia
algum que tivesse entendimento e buscasse a Deus. 3 Desviaram-se todos e
juntamente se fizeram imundos; não há quem faça
o bem, não há sequer um. Paulo cita o Salmo 14-2.3.
Ef 1:3 Bendito o Deus e Pai de
nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas
as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo, 4 como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos
e irrepreensíveis diante dele em caridade, 5 e nos predestinou para
filhos de adoção por Jesus Cristo, para si
mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, 6 para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado. 7 Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua
graça, 8
que Ele tornou abundante para conosco em toda a sabedoria e prudência, 9 descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si
mesmo, 10
de tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que
estão na terra; 11
nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo
sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas,
segundo o conselho da sua vontade, 12 com o fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que primeiro esperamos em Cristo; 13 em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da
vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo
da promessa; 14
o qual é o penhor da nossa herança, para redenção da
possessão de Deus, para louvor da sua glória.
Ef
2:1 E vos vivificou, estando vós mortos em
ofensas e pecados, 2
em que, noutro tempo, andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que, agora, opera nos filhos
da desobediência; 3
entre os quais todos nós também, antes, andávamos nos
desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos
por natureza filhos da ira, como os outros também. 4 Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos
amou, 5
estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou
juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), 6 e nos ressuscitou
juntamente com ele, e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo
Jesus; 7 para mostrar nos séculos
vindouros as abundantes riquezas da sua graça, pela sua benignidade para
conosco em Cristo Jesus. 8 Porque pela graça sois salvos,
por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. 9 Não vem das obras, para que ninguém se glorie. 10 Porque somos feitura
sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para
que andássemos nelas.
Agostinho nasceu em 13 de novembro de 354 d.C., em Tagasta,
na África (hoje Argélia) e faleceu em 28 de agosto de 430 em Hipona. Foi um dos
maiores pensadores da Igreja. Era filho de Patrício, homem de recursos, pagão,
mas que se converteu nos últimos anos de sua vida e sua mãe Mônica, cristã que
sempre dedicou a vida à sua formação, conversão e esperanças (ao filho), embora
Agostinho tenha vivido dissolutamente e desregradamente até os 32 anos, quando
ocorreu sua conversão. (MAIA)