domingo, 8 de novembro de 2020

Introdução à carta aos Filipenses


 

1.     INTRODUÇÃO

 

Como todo estudo bíblico, devemos iniciar partindo do pressuposto de que a Bíblia é a inerrante, infalível, e imutável palavra de Deus. Contudo, não negamos que além de uma natureza divina, a escritura possui também uma natureza humana, pois foi escrita por homens que viveram em determinado tempo e que utilizaram sua cultura para transmitir as verdades reveladas por Deus por meio do Espírito Santo em sua Palavra. Isso quer dizer que ao transmitir a mensagem divina, esses autores o fizeram com as ferramentas culturais e os recursos gramaticais que tinham a sua disposição.

Sabendo dessas duas naturezas da Escritura, devemos nos sujeitar a sua autoridade, mas para interpretar corretamente sua mensagem, faremos também uso de recursos que nos aproximará da intenção do autor ao transmitir sua mensagem. No livro “A Bíblia e seus Intérpretes”, o Rev. Augustus Nicodemus Lopes, falando sobre a natureza humana da Escritura, afirma: “O fato de que a Bíblia não caiu pronta do céu, mas que foi escrita por diferentes pessoas em diferentes épocas, línguas e lugares, alerta-nos para o que alguns estudiosos têm chamado de distanciamento.” (LOPES, 2013, p. 23)

Com um espírito de humildade e submissão, iremos nos colocar sob a orientação do Espírito Santo, rogando a Deus que ilumine nossas mentes para que possamos não só entender aquilo que Ele nos transmitiu por sua palavra revelada, mas que também  nos guie para que sua palavra seja efetivamente guardada e aplicada em nossos corações.

 

1.1. Autor, data e local da escrita.

A carta de Paulo aos Filipenses, juntamente com Efésios, Colossenses e Filemom, formam o conhecido grupo de escritos paulinos da prisão. Embora existam aqueles que se opõem, a maioria dos eruditos concordam que essas cartas tenham sido escritas enquanto Paulo estava preso em Roma por ocasião de seu primeiro cativeiro naquela cidade em cerca de 60-62 d.C.

12 E quero, irmãos, que saibais que as coisas que me aconteceram contribuíram para maior proveito do evangelho; 13 De maneira que as minhas prisões em Cristo foram manifestas por toda a guarda pretoriana, e por todos os demais lugares; 14 E muitos dos irmãos no Senhor, tomando ânimo com as minhas prisões, ousam falar a palavra mais confiadamente, sem temor. Filipenses 1.12-14 (ACF).

 

Além de Roma, alguns estudiosos propuseram duas possíveis origens de escrita da carta, Cesaréia[1] e Éfeso[2]. Contudo, por não haver argumentos fortes que justifiquem a escrita em ambas, permanece a aceitação de que Roma é o local de origem. Alguns argumentos podem ser apontados em favor da escrita em Roma, são eles: (MACARTHUR, 2015, p. 461)

 

A) Paulo faz referência à “guarda do palácio”[...] “De maneira que as minhas prisões em Cristo foram manifestas por toda a guarda pretoriana, e por todos os demais lugares;” [...] Filipenses 1.12-14 (ACF).

 

B) Paulo faz referência aos “santos [...] que estão na casa de César”. Filipenses 4.22 (ACF).

 

C) As semelhanças entre os detalhes da prisão de Paulo fornecidos em Atos e nas “epístolas da prisão” também demonstram que essas epístolas foram escritas de Roma.

 

            a) Paulo era guardado por soldados, [...]“E, logo que chegamos a Roma, o centurião entregou os presos ao capitão da guarda; mas a Paulo se lhe permitiu morar por sua conta à parte, com o soldado que o guardava.” [...] Atos 28.16 (ACF); cf. 1.13-14.

 

            b) Paulo tinha permissão para receber visitantes, [...] “E Paulo ficou dois anos inteiros na sua própria habitação que alugara, e recebia todos quantos vinham vê-lo;” [...] Atos 28.30 (ACF); cf. 4.18.

            c) Paulo teve a oportunidade de pregar o evangelho, [...] “Pregando o reino de Deus, e ensinando com toda a liberdade as coisas pertencentes ao Senhor Jesus Cristo, sem impedimento algum.” Atos 28.31 (ACF); cf. 1.12-14; Ef 6.18-20; Cl 4.2-4.

 

1.2. Origem do nome.

Filipos deve seu nome ao grande Filipe II da Macedônia, pai de Alexandre “O Grande”. Atraído pelas minas de ouro que havia no local, Filipe II conquistou a região no século IV a.C. Mais tarde, no século II a.C., Filipos tornou-se parte da província romana da Macedônia[3]. Em 42 a.C., os exércitos de Antônio e Otávio derrotaram os de Brutus e Cassius na batalha de Filipos, colocando, desse modo, um fim à República Romana e prenunciando o Império. Depois da batalha, Filipos se tornou uma colônia romana (cf. At 16.12), e muitos veteranos do exército romano se estabeleceram lá.

Como colônia, Filipos tinha autonomia do governo provincial e os mesmos direitos que tinham as cidades na Itália, inclusive  o uso da lei romana, isenção de alguns impostos e cidadania romana para seus habitantes (At 16:21). O fato de ser uma colônia também era motivo de muito orgulho cívico por parte dos filipenses; eles usavam o latim como idioma oficial, adotaram os costumes romanos e governavam a sua cidade segundo o modelo das cidades italianas. Tanto Atos como Filipenses refletem o status de Filipos como uma colônia romana. (MACARTHUR, 2015, p. 462).

 

1.3. Localização Geográfica da cidade de Filipos. [4]

“O povoado que originalmente era chamado de Krenides, ficava localizado ao norte da Grécia, cerca de 16 km de Neápolis, no mar Egeu. Após a conquista da região, Filipe II, mudou seu nome e redimensionou a cidade com novos habitantes e muitas construções.” (HALLEY, 2001, p. 646)

Filipos era atravessada pela Via Egnácia, que era a principal estrada que ligava  a Ásia e o Ocidente. Por este motivo, Paulo escolheu a cidade como primeira da Europa  a receber o evangelho, o que certamente tinha um papel estratégico dado seu privilégio geográfico. Pela cidade também passava o rio Gangitis (atual Angitis), local onde parece que havia uma pequena comunidade judaica. Essa comunidade judaica ali instalada parece não ser expressiva, a cidade e consequentemente a igreja eram massivamente compostas por crentes gentios.

 

1.4. Classe literária: Epístola[5]

Etimologia- do grego (epistolh,): “carta epístola” (GINGRICH, 1984, p. 83).

Forma de missiva[6] mais formal que uma carta simples. Uma epístola teria uma maior qualidade literária que uma carta, além de conter uma mensagem mais importante, que faz contraste com o caráter informal e, algumas vezes, superficial, de uma simples carta. As epístolas, missivas de natureza mais formal, incluem os tratados religiosos, as orações públicas, os tratados filosóficos, os tratados políticos, as exortações morais [...]. Uma epístola é uma obra de arte; uma carta é um pedaço da vida diária. (CHAMPLIN, 2015, p. 407)

 

1.4.1.      Características de uma epístola.

                       

Uma saudação pessoal, com a usual palavra grega (χάρις) graça, como parte dessa saudação; “(Filipenses 1.1-2).

Uma espécie de ação de graças ou saudação; Dou graças ao meu Deus todas as vezes que me lembro de vós,” (Filipenses 1.3).

Expressão de desejo pelo bem estar dos leitores da epístola, o que, no Novo Testamento, normalmente assume a forma de uma oração; fazendo, sempre com alegria, oração por vós em todas as minhas súplicas,”  (Filipenses 1.4).

O tratamento da mensagem principal a ser comunicada, o que no Novo testamento, inclui instruções doutrinárias e éticas, de mistura com informes pessoais;

Uma benção, que geralmente contém alguma forma de saudação pessoal;

A assinatura, para propósitos de identificação e autenticação. “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com vós todos. Amém!” (Filipenses 4.23) (Gál 6.11; II Tes 3.17).

 

1.5. Principais personagens.

1.5.1.      Paulo.

Pouco se sabe sobre a vida anterior a seu ministério evangelístico. Contudo, em sua enciclopédia, Champlin nos informa que:

[...] Do nascimento de Paulo até seu aparecimento em Jerusalém, como perseguidor dos crentes, temos apenas  informações muito esparsas. Sabemos que ele nasceu em Tarso, - cidade não insignificante - (ver atos 21:39), descrição essa que tem sido confirmada pelas escavações arqueológicas de Sir William Ramsay. Naquele tempo Tarso  (na Cilícia) foi incorporada à  província  da  Síria. [...] Tarso chegou a ser a cidade mais importante da Cilícia. [...] Também se sabe que era um centro cultural, e que ali era muito forte a variedade do estoicismo romano. (CHAMPLIN, 2015, p. 120)

 

Algumas informações encontradas nas escrituras podem nos iluminar quanto fatos de sua vida. “Em primeiro lugar, sabemos que Paulo era judeu de nascimento.” (LOPES, 2009, p. 11) (cf. At 22.3), da tribo de Benjamim (cf. Fp 3.4-5).

 Em segundo, foi criado na fé judaica, isto incluía: Ser circuncidado ao oitavo dia (cf. Fp 3.5); Possuía elevado conhecimento sobre os preceitos da lei (cf. Gl 1.14), “ Dominava com grande desenvoltura o conhecimento da lei e as opiniões mais importantes dos grandes mestres de sua época.” (LOPES, 2009, p. 12). Em terceiro lugar, Paulo foi instruído em Jerusalém aos pés de Gamaliel (cf. At. 22.3).

Na cidade de Davi, Paulo foi instruído aos pés de Gamaliel, o maior e o mais ilustre rabino daquela época, homem culto, sábio e piedoso. Ele foi instruído segundo a exatidão da lei dos seus antepassados. Conhecia bem  de perto as tradições do seu povo. Sabia de cor as inúmeras regras e preceitos criados pelos anciãos. A tradição oral, fruto da interpretação extravagante dos escribas, era observada cuidadosamente por esse jovem. (LOPES, 2009, p. 13)

 

Em quarto lugar, Paulo era um homem erudito, conhecedor da cultura secular. Comentando sobre a erudição de Paulo, o Rev. Hernandes Dias Lopes, diz: “Seu conhecimento transcendia o campo religioso.[...] Trafegava com desenvoltura pelos corredores do passado e citava com precisão os grandes pensadores e filósofos dos tempos antigos.” (LOPES, 2009, p. 13).

“Quando pregou na capital intelectual do mundo, a Atenas de Péricles, Sócrates, Platão e Aristóteles, não hesitou em citar alguns poetas atenienses (At 17.28). Quando escreveu a Tito, na ilha de Creta, fez referência a Epimênides, um filósofo cretense, do século 6º a.C (Tt 1.12). Paulo tinha uma cultura enciclopédica. Festo, mesmo fazendo troça do apóstolo, precisou se curvar à realidade insofismável de que Paulo era um homem de muitas letras (At 26.24).” (LOPES, 2009, p. 13)

 

Em quinto lugar, Paulo era um fariseu (cf. Fp 3.5-6; At 26.5; Gl 1.14). Os fariseus eram um “importante grupo religioso da palestina” (ERICKSON, 2011, p. 79), que seguia com grande rigor os preceitos da lei judaica. Eram legalistas, “compunham o grupo religioso mais ortodoxo de Israel.[...] estavam do lado oposto dos saduceus, grupo religioso que negava a ressurreição e a existência dos anjos.” (LOPES, 2009). Sua presença é datada do século II a.C. até o final do século I d.C.

Em sexto lugar, “[...] Paulo era um membro zeloso do Sinédrio [...]” (LOPES, 2009, p. 14) (cf. At.7.59-60; 9.1-2). O sinédrio era um grupo formado por setenta homens maduros e que tinha como função principal legislar e julgar a vida religiosa e moral do povo.

Em sétimo lugar, Paulo possuía cidadania romana (cf. At 22.27). Mesmo sendo filho de judeus, por ter nascido em uma província romana, Tarso da Cilícia, Paulo recebeu cidadania romana. Sua cidadania não se deu por pagamento (cf. At 22.28a), mas por direito de nascimento (cf. cf. At 22.28b).

Para mais informações sobre a vida “conhecida” do apóstolo, sugiro a leitura do livro “Paulo: O Maior Líder do Cristianismo”, de autoria do Rev. Hernandes Dias Lopes, cuja referência está na bibliografia deste livro. Em sua obra, o Rev. Hernandes, faz uma abordagem descritiva e piedosa de todas as informações que a própria Escritura nos dá sobre a vida e ministério evangelístico do apóstolo Paulo.

 

1.5.2.      Timóteo.

 

Missionário de ascendência judia (sua mãe) e gentia (seu pai, grego). Sua mãe se chamava Eunice, e sua avó, Lóide (cf. 2Tm 1.5). Timóteo era natural de Listra, uma cidade na província romana da Galácia, parte da atual Turquia (cf. At 16.1-3).

Sobre sua conversão, sabemos que foi fruto da pregação do apóstolo Paulo (cf. 1Tm 1.2), acompanhando-o logo após em sua segunda viagem missionária, 51 .d.C. ( cf. At 16.3). Era escolhido por Deus para o santo ofício e foi consagrado pelos presbíteros e Paulo (cf. 1Tm 1.18, 4.14; 2Tm 1.6). Timóteo esteve bastante ativo junto com Paulo em suas viagens missionárias. Sobre seu papel missionário, Halley, diz:

[...] provavelmente redigiu esta carta ditada por Paulo. Ele ajudara a fundar a igreja de Filipos, de modo que Paulo incluiu seu nome na saudação. Também ajudara a escrever outras cartas: 1 Coríntios, Colossenses,  1 e 2 Tessalonicenses e Filemom. (HALLEY, 2001, p. 646)

 

Segundo MacArthur, Timóteo havia sido “preparado por Paulo para dar continuidade ao seu ministério em Filipos (1:1-2:23).” (MACARTHUR, 2015, p. 464) (cf. Fp 2.19-23).

 

1.5.3.      Epafrodito.

 

Foi um mensageiro da igreja de Filipos, enviado à Roma para entregar ofertas ao apóstolo Paulo (cf. Fp 2.25-30, 4.18). Segundo Champlin[7], o fato de Epafrodito ter sido delegado para entregar as ofertas enviadas pela igreja a Paulo, sugere que ele era um dos líderes da igreja. Não se sabe se no caminho ou se após ter chegado a Roma, mas nos é informado que Epafrodito adoeceu a ponto de quase morrer (cf. Fp 2.27-30). Por fim, Paulo resolve enviá-lo de volta para Filipos levando consigo a carta, que além de assuntos concernentes a comunidade, também contêm recomendações quanto o serviço e caráter de Epafrodito (cf. Fp 2.28-30).

 

1.5.4.      Evódia.

 

Seu nome vem do grego e significa “cheirosa”[8]. Era membro da igreja de Filipos, e tinha uma antiga querela com Síntique, outra mulher crente da mesma comunidade. Visto haver esse tipo de relacionamento belicoso dentro da comunidade da igreja, Paulo exorta a ambas que tivessem uma mente concordante (cf. Fp 4.2-3). O motivo da querela entre Evódia e Síntique é desconhecido, mas Champlin comenta que, normalmente as querelas possuem erros de ambos os lados, e por esse motivo o apóstolo Paulo dirigi sua exortação as duas.

 

1.5.5.      Síntique.

 

O nome de Síntique, assim como Evódia, tem sua origem no grego e significa “afortunada”. Era membro da igreja de Filipos, onde também residia. Apesar de alimentarem uma querela, Síntique e Evódia  trabalharam juntas em cooperação com o apóstolo Paulo. Quando o apóstolo escreveu essa carta, no entanto, essas duas irmãs haviam entrado em choque uma com a outra. Não sabemos o motivo pelo qual elas criaram um sentimento animoso mútuo, mas o apóstolo pede a um amigo, que ele chama de “verdadeiro companheiro”, que as ajudem a superar suas diferenças (cf. Fp 4.2-3).

 

1.6. Propósito.

Embora a linguagem de Paulo ressalte o caráter amoroso com o qual ele se dirige a igreja, outros assuntos também o levaram a escrever a epistola. Em seu comentário, MacArthur, nos oferece ao menos cinco objetivos tencionados por Paulo ao escrever essa carta, são eles:

“Os objetivos de Paulo ao escrever essa epístola eram diversos. (MACARTHUR, 2015, p. 464)

A)  “[...] expressar, por escrito, o seu agradecimento pela oferta dos filipenses (4.10-18).”

B)  “[...] que os filipenses soubessem por que ele havia decidido mandar Epafrodito de volta, para que não pensassem  que o serviço dele para Paulo havia sido insatisfatório (2.25-26).”

C)  “[...] Queria informa-los a respeito de sua situação em Roma (1.12-26).”

D)  “[...] Exortá-los à unidade (2.1-2; 4.2).”

E)  “[...] adverti-los contra os falsos mestres (3.1-4.1).”

 

 

1.7. Principais doutrinas.

Segundo MacArthur[9], as principais doutrinas encontradas em Filipenses, são três:

 

1)  A humildade de Cristo;

2)  A submissão de Cristo;

3)  E a provisão de Cristo para os Cristãos.

 

Sua humildade pode ser evidenciada pelo fato de, sendo Deus, submeter-se,  servindo e se entregando em sacrifício pelo seu povo. Nos versos 7 e 8 do capítulo 2, Paulo demonstra a humildade do Salvador no fato de ter ele assumido a forma de homem, sendo obediente aos propósitos salvíficos da Santíssima trindade até a morte. No capítulo 3, dos versos 7 ao 14, o apóstolo aponta para a verdade que devemos ter uma atitude de submissão e gratidão a Cristo.

 

Além dessas três doutrinas, MacArthur[10] diz que Deus é apresentado por três características relacionadas ao Seu caráter. 

 

1) “Deus é glorioso”- 2.11;

2) “Deus é misericordioso”- 2.27;

3) “E Deus é providente”- 1.12.

 

1.8. Esboço.

 

        I.            Saudações de Paulo (Fp 1.1-11)

     II.            As circunstâncias de Paulo (Fp 1.12-26)

  III.            As exortações de Paulo (Fp 1.27-2.18)

a.       Permanecer firme em Cristo (Fp 1.27-30)

b.      Ser humilde como Cristo (Fp 2.1-11)

c.       Ser uma luz para o mundo (Fp 2.12-18)

  IV.            Companheiros de Paulo (Fp 2.19-30)

a.       Timóteo (Fp 2.19-24)

b.      Epafrodito (Fp 2.25-30)

    V.            Avisos de Paulo (Fp 3.1-4: 1)

a.       Avisos contra os falsos mestres (Fp 3.1-16)

b.      Avisos contra os inimigos da cruz (Fp 3.17-4.1)

  VI.            A alegria de Paulo (Fp 4.2-9)

VII.            A gratidão de Paulo (Fp 4.10-20)

VIII.            A despedida de Paulo (Fp 4.21-23)

 

1.9. Conclusão.

O estudo correto da escritura é de fato exaustivo. Devemos dedicar tempo e esforço para adentrar nos corredores da história e do tempo, com o fim de transpor os abismos existentes entre nós e o autor inspirado. Uma vez que possuímos um conhecimento apropriado sobre o contexto que cercava a ocasião da escrita, somos capazes de olhar para o texto com uma visão mais precisa sobre as informações nele encontradas. Sem esse processo de introdução não poderíamos, por exemplo, ter uma ideia precisa sobre o que Paulo quis dizer quando falou aos Filipenses que “ele poderia confiar na carne”, que no contexto diz respeito a sua ascendência hebreia e seus vários ritos fervorosamente defendidos pelo apóstolo antes de sua conversão. A partir do próximo capítulo, iremos escavar o texto e retirar dele a mensagem de Deus para nós e sua igreja.

Referências

 

ABATE, E. Comentário Bíblico Africano. 1ª. ed. São Paulo: Mundo Cristão, 2010. 1475 p. ISBN 978-85-7325-554-6.

CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. 13ª. ed. São Paulo: Hagnos, v. 5, 2015.

ERICKSON, M. J. Dicionário Popular de Teologia. Tradução de Emirson Justino. 1ª. ed. São Paulo: Mundo Cristão, 2011.

GINGRICH, F. W. Léxico do Novo Testamento. Tradução de Júlio P. T. Zabatiero. 1ª. ed. São Paulo: Vida Nova, 1984. 83 p. ISBN 978-85-275-0085-2.

HALLEY, H. H. Manual Bíblico de Halley. 1ª. ed. São Paulo: Vida, 2001.

HENDRIKSEN, W. Comentário do Novo Testamento: Efésios e Filipenses. Tradução de Valter Graciano Martins. 2ª. ed. São Paulo: Cultura Cristã., 2004. 409 p.

LOPES, A. N. A Bíblia e seus Intérpretes: Uma Breve História da Interpretação. 3ª. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2013. 23 p. ISBN 978-85-7622-479-2.

LOPES, H. D. Paulo: O Maior Líder do Cristianismo. 1ª. ed. São Paulo: Hagnos, 2009. 11 p. ISBN 978-85-7742-062-9.

MACARTHUR, J. Comentário Bíblico MacArthur. 1ª. ed. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2015.

MOODY. Comentário Bíblico. [S.l.]: [s.n.].

 

 



[1] Alguns têm afirmado que Paulo escreveu as epístolas da prisão durante os dois anos em que esteve preso em Cesareia (At 24.27). Entretanto, durante esse período, suas oportunidades de receber visitas e de proclamar o evangelho foram severamente limitadas (cf. At 23.35). As “epístolas da prisão” expressam a esperança de Paulo por uma sentença favorável (cf. 1.25;2.24; Fm 22). MACARTHUR, J. Comentário Bíblico MacArthur. 1ª. ed. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2015.

[2] Outra alternativa que tem sido apresentada é que Paulo tenha escrito as “epístolas da prisão” em Éfeso. Porém, em Éfeso, assim como em Cesareia, nenhuma decisão conclusiva poderia ser tomada sobre seu caso, por causa do seu direito de apelar para o imperador. E Lucas também estava com Paulo quando este escreveu Colossenses (Cl 4.14); entretanto, aparentemente ele não estava com o apóstolo em Éfeso. A passagem de Atos 19, que registra a estadia de Paulo em Éfeso, não é uma das seções de Atos escrita na terceira pessoa [...], No entanto, o argumento mais poderoso contra Éfeso ter sido o ponto de origem das “epístolas da prisão” é que não há evidências de que Paulo sequer sido preso em Éfeso. MACARTHUR, J. Comentário Bíblico MacArthur. 1ª. ed. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2015.

[3] MACARTHUR, J. Comentário Bíblico MacArthur. 1ª. ed. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2015.

[4] HALLEY, H. H. Manual Bíblico de Halley. 1ª. ed. São Paulo: Vida, 2001.

 

[5] “chama-se epístolas, 21 dos 27 livros do Novo Testamento. São cartas escritas por apóstolos. Treze são paulinas, isto é, escritas pelo apóstolo Paulo: Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito e Filemon. Havendo ainda a Epístola aos Hebreus que muitos supõem ser também do apóstolo Paulo. As três epístolas pastorais, na ordem em que foram escritas, são: 1 Timóteo, Tito e 2 Timóteo. Não são dirigidas a uma igreja, mas a pastores. Cinco das epístolas, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1 João e Judas, são católicas, isto é, gerais ou universais, porque foram dirigidas à Igreja em geral. A Igreja Primitiva contava sete epístolas católicas, incluindo 2 e 3 João. Essas, contudo, são epístolas pessoais dirigidas a indivíduos.”

[6] “(Substantivo feminino) 1 Carta; bilhete em que uma mensagem é enviada a alguém. 2 Bilhete; mensagem enviada a alguém com o intuito de comunicar alguma coisa. 3 Epístola; correspondência que se envia a alguém. Etimologia (origem da palavra missiva) – do francês: missive/ de lettre missive.”

[7] CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. 13ª. ed. São Paulo: Hagnos, v. 2, 2015, p.400.

 

[8] CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. 13ª. ed. São Paulo: Hagnos, v. 2, 2015, p.608.

[9] MACARTHUR, J. Comentário Bíblico MacArthur. 1ª. ed. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2015, p.465.

[10] MACARTHUR, J. Comentário Bíblico MacArthur. 1ª. ed. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2015, p.465.

sábado, 7 de novembro de 2020

Hermenêutica Básica


 


 

Primeira Regra da hermenêutica – É preciso, o quanto seja possível, tomar as palavras em seu sentido usual e comum.

Porém, tenha-se sempre presente a verdade de que o sentido usual e comum não equivale sempre ao sentido literal.

Vejamos alguns exemplos:

 Gênesis  6.12 Viu Deus a terra, e eis que estava corrompida; porque todo “ser” vivente havia corrompido o seu caminho na terra.” (JFAA) -  E viu Deus a terra, e eis que estava corrompida; porque toda “carne” havia corrompido o seu caminho sobre a terra.”(JFAC); a palavra “carne” (no sentido usual e comum significa pessoa)
A palavra “carne”  (no sentido literal significa tecido muscular).

Leitura complementar:

“Em Gêneses 6.12 [...] Tomando aqui as palavras “carne e caminho” em sentido literal, o texto perde o significado por completo. Contudo, tomando em seu sentido comum, usando-se como figuras, ou seja, carne no sentido de pessoa e caminho no sentido de costumes, modo de proceder ou religião, o texto já não tem só significado, mas um significado terminante, conclusivo, dizendo-nos que toda pessoa havia corrompido seus costumes.” (p.39-40) (E e P.C, 2007)

 

Segunda regra da hermenêutica: “É de todo necessário tomar as palavras no sentido que indica o conjunto da frase”.

Em outras palavras, a segunda regra da hermenêutica atenta para o fato de que as palavras devem significar aquilo que o sentido do texto aponta, ou seja, seu significado está ligado ao sentido contextual da frase como um todo.

“Existem na linguagem bíblica, assim como em qualquer outra, palavras que variam muito em seu significado, conforme o sentido da frase ou o argumento apresentado. Por isso, é importante averiguar e determinar sempre qual o pensamento especial que o autor se propõe a expressar, e desse modo, fazendo desse pensamento uma diretriz, será possível determinar o sentido positivo do termo complexo.” (E e P.C, 2007)

Um exemplo vulgar que podemos utilizar é a seguinte frase: “Comprei pão e fiz o café. Por favor, frite os ovos!” Uma leitura natural dessa frase, levando em consideração a intenção expressa pelo contexto, torna impossível que qualquer pessoa confunda os ovos a serem fritos com ovos de chocolate, isso porque o contexto claro da frase exclui tal possibilidade.

 

Vejamos alguns exemplos:

·         O primeiro exemplo que vamos tomar é o uso da palavra fé. A palavra fé é comumente identificada com o sentido de confiança, contudo, esse não seja seu único significado nas Escrituras. Em Gálatas 1.23 - “ouviam somente dizer: Aquele que, antes, nos perseguia, agora, prega a fé que, outrora, procurava destruir.” – podemos compreender que a palavra fé aqui é utilizada com o sentido de crença, “o evangelho”. Em Romanos 14.23 – “Mas aquele que tem dúvidas é condenado se comer, porque o que faz não provém de fé; e tudo que não provém de fé é pecado.” – a mesma palavra é utilizada com o sentido “certeza”, “convicção”.

·         O segundo exemplo é o uso das palavras salvação e salvar. Seus usos mais frequentes são relacionados ao sentido de libertação do pecado e de suas consequências. No entanto, em Atos 7.25 – Ora, Moisés cuidava que seus irmãos entenderiam que Deus os queria “salvar” (grifo meu) por intermédio dele; eles, porém, não compreenderam.” – a palavra salvar diz respeito a libertação temporal dos hebreus, pois eram escravos no Egito. Em Romanos 13.11 – E digo isto a vós outros que conheceis o tempo: já é hora de vos despertardes do sono; porque a nossa salvação está, agora, mais perto do que quando no princípio cremos.” – a palavra salvação diz respeito a volta de Cristo. Em Hebreus 2.3 – como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram;”“salvação” se refere a “toda revelação do Evangelho”.

·         O terceiro exemplo que vamos utilizar é a palavra “graça”. Seu significado mais comum ou conhecido é “favor”. Contudo, ela pode ter outros significados. Em Efésios 2.8 - Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus;”“a palavra “graça” significa a pura misericórdia  e bondade de Deus manifestadas aos crentes  sem mérito nenhum da parte deles” (E. Lund, P.C. Nelson, 2006. P. 45.), ou seja, não só um favor, mas um “favor imerecido”. Em Atos 14.3 - “Entretanto, demoraram-se ali muito tempo, falando ousadamente no Senhor, o qual confirmava a palavra da sua graça, concedendo que, por mão deles, se fizessem

 

 

sinais e prodígios.” – a palavra graça significa a pregação do evangelho. Em 1Pedro 1.13 – Por isso, cingindo o vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que vos está sendo trazida na revelação de Jesus Cristo.” – a palavra “graça” equivale à bem-aventurança que ele, Cristo,  trará na sua vinda.

 

Leitura complementar:

Sangue: Falando de crucificar a Cristo, disseram os judeus: "Caia sobre nós o seu sangue, e sobre nossos filhos!" (Mat. 27:25). Guiados por nossa regra vimos que sangue, aqui, ocorre no sentido de culpa e suas consequências, por matar um inocente. "Temos a redenção, pelo seu sangue" (Ef. 1:7); "Sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira" (Rom. 5:9). O conjunto das frases torna evidente que a palavra sangue equivale à morte expiatória de Cristo na cruz. (E e P.C, 2007)

Exercício:

·         Definir os significados da palavra carne nos textos:

a.       Ezequiel 36.26;

b.      Efésios 2.3;

c.       1Timóteo 3.16;

d.      Gálatas 3.3

·         Respostas:

a.       Uma disposição terna e doce, ou seja, um coração que seja receptivo aos mandamentos de Deus que os queira amar e cumprir;

b.      Os desejos sensuais, desejos pecaminosos, frutos de nossa natureza caída;

c.       Refere-se a forma ou natureza humana. Cristo de fato assumiu forma de homem;

d.      Justificação pelas obras, dizendo respeito as cerimônias judaicas.

 

Terceira regra da hermenêutica: “É preciso tomar as palavras no sentido indicado no contexto, a saber, os versículos que antecedem e precedem o texto que se estuda”.

Obviamente, há momentos em que a leitura de uma frase ou verso somente não é suficiente para o entendimento adequado do sentido do texto. Por este motivo, quando não conseguimos entender o significado das palavras em uma leitura considerando o contexto da frase, é necessário que procuremos contextualizar tais palavras em seu contexto mais amplo, a saber as frases que a antecedem e precedem (que vem antes e depois). “É no contexto que achamos expressões, versículos ou exemplos capazes de nos esclarecer e definir o significado da palavra obscura.” (E e P.C, 2007)

Vejamos alguns exemplos:

·         Em efésios 3.4, encontramos a seguinte afirmação do apostolo Paulo: “Ao lerem isso vocês poderão entender a minha compreensão do mistério de Cristo”. Qual o significado da palavra mistério nesse texto? Ao ler os versos anteriores e posteriores ao 4 descobrimos que ele está falando sobre a inserção dos gentios no plano salvífico de Deus desde a eternidade. (cf. 2.11-3.6)

·         Em Gálatas 4.3, o apóstolo diz: “Assim também nós, quando éramos meninos, estávamos reduzidos à servidão, debaixo dos rudimentos do mundo”. Qual o significado da palavra “rudimentos”? Ao examinarmos os versos de 9-11, percebemos que os rudimentos aos quais o apóstolo se refere são a prática dos costumes judaicos. Nesta carta, Paulo procura orientar aos irmãos da Galácia que não sejam conduzidos pelos legalistas judaizantes, grupo que queria impor aos irmãos as práticas da antiga aliança. O argumento principal que Paulo utiliza é o fato de ser Cristo o ápice da revelação divina (cf. 4.4). O fato daqueles irmãos quererem retroceder às práticas judaicas é algo tão grave para Paulo que ele diz que essa atitude constitui em pregar e viver um outro evangelho, não o de Cristo (cf.  1.6-10).

Algumas vezes, uma palavra obscura só poderá ter seu significado revelado quando encontramos seu antônimo ou sinônimos. A palavra “aliança” encontrada em Gálatas 3.17, por exemplo, tem seu significado explicado no final do versículo pela palavra “promessa”. Ou seja, Paulo afirma que a lei promulgada no Sinai, quatrocentos e trinta anos após a promessa feita a Abrão, não anula a “aliança” antes estabelecida. (cf. 3.13-18)

Leitura complementar:

Às vezes, uma palavra que expressa uma ideia geral e absoluta, deve ser tomada num sentido restritivo, segundo determine alguma circunstância especial do contexto, ou melhor, o conjunto das declarações das Escrituras em assuntos de doutrina. Quando Davi por exemplo, exclama: "Julga-me, Senhor, segundo a minha retidão, e segundo a integridade que há em mim", o contexto nos faz compreender que Davi só proclama sua retidão e integridade em oposição às calúnias que Cuxe, o benjamita, levantara contra ele (Sal. 7:8). Tratando-se do administrador infiel temos indicada sua conduta como digna de imitação; porém, pelo contexto vemos limitado o exemplo à prudência do administrador, com exclusão total de seu procedimento desonesto (Luc. 16:1-13). Falando Jesus do cego de nascimento, disse: "Nem ele pecou, nem seus pais", com o que de nenhum modo afirma Jesus que não houvessem pecado; pois existe no contexto uma circunstância que limita o sentido da frase a que não haviam pecado para que sofresse de cegueira como consequência, segundo erroneamente pensavam os discípulos. (Jo. 9:3). (E e P.C, 2007)

Exercício:

·         Definir os significados dos termos, “batizados no Espírito Santo e no fogo”, e, o significado da palavra “fruto”.

a.       Mateus 3.11;

b.      Mateus 3.10.

·         Respostas:

a.       Em Mateus 3.11, considerando o contexto dos versos (10-12), o batismo com o Espírito é a reunião do seu povo por meio da obra regeneradora do Espírito Santo, enquanto que o batismo com ou no fogo, diz respeito ao destino eterno daqueles que não fazem parte da igreja e que não serão regenerados e salvos pela obra do Espírito Santo.

b.      Em Mateus 3.10, a palavra fruto diz respeito as obras dignas de uma genuína conversão e consequentemente um verdadeiro arrependimento. João se dirige, na ocasião, a dois grupos de “hipócritas”, “fariseus e Saduceus”, que iam até ele simplesmente para serem vistos pelos homens, mas que não produziam em suas vidas nenhum fruto de um verdadeiro arrependimento. (cf. 7-10)

 

Quarta regra da hermenêutica: “É preciso tomar em consideração o objetivo ou desígnio do livro ou passagem em que ocorrem as palavras ou expressões obscuras.”

Em alguns casos a observação do contexto da frase ou mais amplo, versos anteriores e posteriores, não é suficiente para se concluir o significado de determinadas expressões no texto Bíblico. Nesses casos, devemos recorrer a seguinte pergunta: “o que o autor pretendeu tratar ao escrever isto?” Ou seja, há alguma circunstância ou conjunto de circunstâncias que motivaram a escrita de determinado documento? Podemos considerar a pergunta em três perspectivas: 1) Qual a finalidade do livro? 2) Qual a finalidade dessa passagem? 3) Qual a finalidade desse texto dentro do Canon?

Normalmente, para se chegar a todas essas respostas devemos nos exercitar na leitura mais atenciosa e repetitiva do texto. Essa leitura irá fazer com que o intérprete perceba determinadas ênfases, ou mesmo declarações claras sobre o propósito pretendido pelo autor. Embora seja uma tarefa que demanda muito trabalho, essas perguntas podem ser facilmente respondidas com o auxílio de materiais de estudos que proporcionam ao intérprete ou estudante da Bíblia acesso ao conhecimento reunido por diversos eruditos no assunto. Alguns exemplos:

 

·         Bíblias de estudo;

·         Comentários bíblicos;

·         Enciclopédias bíblicas;

·         Softwares de estudos bíblicos...

 

Vejamos alguns exemplos:

·         Romanos 15.4, Porque tudo o que está nas Escrituras foi escrito para nos ensinar, a fim de que tenhamos esperança por meio da paciência e da coragem que as Escrituras nos dão.” Nesse texto, assim como em 2Timóteo 3.16-17, 16 Pois toda a Escritura Sagrada é inspirada por Deus e é útil para ensinar a verdade, condenar o erro, corrigir as faltas e ensinar a maneira certa de viver.17 E isso para que o * servo de Deus esteja completamente preparado e pronto para fazer todo tipo de boas ações. – a intenção da Escritura é claramente exposta.

·         Em Mateus 19.16-17 (Lucas 18.18), a resposta dada por Jesus ao jovem rico “parece” sugerir um ensino de justificação pelas obras da Lei. Contudo, ao observar atentamente o desígnio de Cristo, constatamos que sua intenção foi na verdade confrontá-lo pela própria perspectiva de justiça própria, aquele jovem possuía um ídolo em seu coração que ocupava um espaço que deveria ser só de Deus, ele era um idólatra, não amava a Deus o suficiente para se desfazer de suas riquezas. Isso fica muito claro nos versos 23-26, ocasião onde Jesus despreza a crença de que as riquezas constituíam um sinal de posição elevada diante de Deus. Os discípulos ficaram “atemorizados” com a alegação de Cristo, então ele responde: Para os seres humanos isso não é possível; mas, para Deus, tudo é possível.  Mateus 19.26, deixando claro que a salvação não depende do esforço humano ou de qualquer senso de justiça própria que possa possuir.

·         Outro exemplo, que tem gerado não pouca controvérsia e equívocos, é a aparente contradição entre Paulo e Tiago, meio irmão de nosso Senhor. Ao ponto que Paulo parece desprezar totalmente a Lei e as obras, Tiago parece enfatizar e ensinar a justificação pelas obras da Lei.  Assim percebemos que a pessoa é aceita por Deus pela fé e não por fazer o que a lei manda.”Romanos 3.28; “Assim, vocês vêem que a pessoa é aceita por Deus por meio das suas ações e não somente pela fé.”Tiago 2.24.


Leitura complementar:

“É importante notar que as aparentes contradições desaparecem se levamos em consideração o desígnio. Quando Paulo diz que o homem é justificado  declarado sem culpa) pela fé sem obras, enquanto Tiago afirma que o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé, a aparente contradição desaparece a partir do momento em que consideramos o desígnio diferente das cartas de um e de outro (v. Rm 3.28; Tg 2.24). Paulo combate e refuta o erro dos que confiavam nas obras da lei mosaica como meio da justificação e rechaçavam a fé em Cristo. Já Tiago combate o erro de alguns desordenados que se contentavam com uma fé imaginária, descuidando das boas obras e se opondo a elas. Por isso, Paulo trata da justificação pessoal diante de Deus, enquanto Tiago se ocupa da justificação pelas obras diante dos homens." (E e P.C, 2007)

 

Exercício:

·         Definir o significado da expressão - “Todo aquele que é nascido de Deus não pratica o pecado, [...] ele não pode estar no pecado.”(1 João 3.9) – à luz do propósito do texto em questão, carta e sua relação com o propósito da Escritura.



·         Resposta:

a)      Se opor ao ensino de que por serem cristãos poderiam viver de toda forma, praticando pecado e vivendo uma vida que em nada se harmoniza com a graça de ser justificados em Cristo.

b)      Ele contrasta a vida pecaminosa – com prazer- daqueles que são por natureza “filhos do diabo”, pois não foram justificados pela fé em Jesus e por isso não se parecem com ele nem o reconhecem.

·         Qual o desígnio ou propósito dos seguintes livros da Bíblia?

a)      Provérbios;

b)     Gálatas;

c)      Tito;

d)     Filemom.

 

Quinta regra da hermenêutica: É necessário consultar as passagens paralelas, "explicando cousas espirituais pelas espirituais". (I Cor. 2.13)

As passagens paralelas são aquelas que fazem referência uma à outra, que possuam relação entre si ou que tratem do mesmo assunto. Os paralelos podem ser divididos em três tipos:

1.      Paralelos de palavras: usado quando o conjunto da frase e o contexto não são suficientes para explicar determinada palavra. Em Gálatas 6.17 Quanto ao mais, ninguém me moleste; porque eu trago no corpo as “marcas” de Jesus”, por exemplo, é elucidado quando comparamos com os textos paralelos em 2Coríntios 4.10 levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo.”, e, em 2Coríntios 11.23-25São hebreus? Também eu. São israelitas? Também eu. São da descendência de Abraão? Também eu. São ministros de Cristo? (Falo como fora de mim.) Eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; muito mais em prisões; em açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes. Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites menos um; fui três vezes fustigado com varas; uma vez, apedrejado; em naufrágio, três vezes; uma noite e um dia passei na voragem do mar”. As marcas dizem respeito aos suplícios sofridos por ao evangelho de Cristo.

“Tais suplícios eram tão cruéis que, se não deixavam o paciente morto, causavam marcas que permaneciam no corpo por toda vida. [...]as marcas no corpo de Paulo não eram chagas ou sinais da cruz milagrosa ou artificialmente produzidas, como julgam alguns, porém marcas ou sinais dos suplícios sofridos pelo Evangelho de Cristo.” (E e P.C, 2007)

2.      Paralelos de ideias: Para conseguir ideia completa e exata do que ensina determinado texto, talvez obscuro ou discutível, consulta-se não somente as palavras paralelas, mas os ensinos, as narrativas e fatos contidos em textos ou passagens que se relacionem com o dito texto obscuro ou discutível. Tais textos ou passagens chamam-se paralelos de ideias. Ex.: "Sobre esta pedra edificarei a minha igreja". (Mt 16.16) Quem é esta pedra? Se pegarmos em I Pd 2.4, a ideia paralela: "E, chegando-vos para ele, (Jesus) pedra viva [...]" entenderemos que a pedra é Cristo.

3.      Paralelos de ensinos gerais: Para a correta interpretação de determinadas passagens não são suficientes os paralelos de palavras e de ideias, é preciso recorrer ao teor geral, ou seja, aos ensinos gerais das Escrituras. Exemplos: - O ensino de que "o homem é justificado pela fé sem as obras da lei", só será bem compreendido, com a ajuda dos ensinos gerais na Bíblia toda.

Segundo o teor ou ensino geral das Escrituras, Deus é um espírito onipotente, puríssimo, santíssimo, conhecedor de todas as cousas e em todas as partes presente. Porém há textos que, aparentemente, nos apresentam um Deus como o ser humano, limitando-o a tempo ou lugar, diminuindo em algum sentido sua pureza ou santidade, seu poder ou sabedoria; tais textos devem ser interpretados à luz dos ensinos gerais das Escrituras.