segunda-feira, 2 de novembro de 2020

RESUMO CRÍTICO - A BÍBLIA E A SUA INSPIRAÇÃO DIVINA, UM CATECISMO DE DOUTRINA BÍBLICA.



 RESUMO CRÍTICO

E-BOOK: A BÍBLIA E A SUA INSPIRAÇÃO DIVINA, UM CATECISMO DE DOUTRINA BÍBLICA.

AUTOR: W.R. DOWNING.

AUTOR DA CRÍTICA: SANDRO FRANCISCO DO NASCIMENTO.

1. INTRODUÇÃO

Sócrates, filósofo grego, desenvolveu um método de descobrir a verdade chamado maiêutica. A maiêutica consiste em, por meio do diálogo, conduzir o interlocutor a dar à luz as ideias que surgem na medida em que questiona ele mesmo aquilo que se dispõe a conhecer. Todo catecismo tem como objetivo conduzir os iniciados a descoberta das verdades ou axiomas bases da fé. É por meio dele, que o povo de Deus é conduzido, de forma didática, ao conhecimento das verdades essenciais da fé cristã.

“A bíblia e a sua inspiração divina, um catecismo de doutrina bíblica”, segue o mesmo pensamento e forma dos diversos Catecismos conhecidos e aceitos como símbolos de fé pela maioria das Igrejas de Confissão Reformada. É possível, por exemplo, encontrar paralelos nos Catecismos Maior e Breve, e, também, na confissão de fé de Westminster, aceitos como símbolos de fé pela Igreja Presbiteriana do Brasil.

Esta crítica, ou resumo, tem por objetivo comentar alguns aspectos do referido livro e como suas proposições podem ser uteis e aplicadas na comunidade da aliança, a Igreja.

2. Tema.

A Religião Cristã tem suas bases doutrinárias, regras de fé (o que crê) e conduta (como viver), nas sagradas Escrituras. “A bíblia e a sua inspiração divina, um catecismo de doutrina bíblica”, das perguntas 7 a 9, aborda as verdades inegociáveis que dizem respeito a palavra de Deus.

2.1. Pergunta número 7: o que é a Bíblia?

Como parte de todo processo de ensino aprendizagem, devemos iniciar os estudos de determinado assunto definindo os termos que o constituem. Obviamente, assim como as demais perguntas e respostas que se seguem, a pergunta 7, parte da pressuposição que as Escrituras são a Palavra de Deus. A verdade que Deus se revelou ao homem, por meio especial nas Escrituras, não é passível de negociação, por este motivo a chamamos de axioma.

O Catecismo nos oferece uma resposta que corresponde aquilo que uma boa teologia Bíblica certamente demonstra com riqueza de evidências textuais, como de fato o faz.

Pergunta 7: O que é a Bíblia? Resposta: A Bíblia é a revelação especial de Deus para o homem, em forma escrita. 2 Timóteo 3:16- 17: “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; 17 para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra”. Veja também: Êxodo 17:14; 24:12; 31:18; Lucas 24:25- 27, 45- 47; João 5:45- 47; Hebreus 1:1- 3; 2 Pedro 1:20- 21; 3:15- 16. (DOWNING, 2016)

2.1.1. Sobre o comentário.

O comentário inicia definindo a origem da palavra Bíblia, Βίβλος, palavra grega que inicia o evangelho segundo Mateus – “Livro da genealogia de Jesus Cristo, Filho de Davi, Filho de Abraão:”. É a partir do significado da palavra grega que se define o conceito de que a Bíblia é o conjunto de sessenta e seis livros, cânon protestante. Esses sessenta e seis livros formam um conjunto harmônico, “[...] não contraditório (coerente), unificado, como a própria palavra de Deus escrita [...]”.

Além de apresentar os diversos aspectos da verdade da escritura, o autor relaciona o conhecimento da palavra de Deus com a vida Cristã. Uma importante contribuição é notada no fato de que o autor procura combater um posicionamento fideísta ou fundamentalista com relação ao relacionamento do crente com a escritura. Isso se mostra claro pelo fato de em sua abordagem, o comentário não só informa, mas ensina como correto uma apropriada aproximação do texto, com base nas ciências de interpretação e a aplicação apropriada do significado do texto para os leitores de hoje.

“Alguns poderiam contestar um Cristianismo “intelectual”, preferindo uma abordagem mais simplista ou “devocional”, não percebendo que o devocional — se legítimo em tudo — deve derivar do doutrinário, e o doutrinário da hermenêutica, e a hermenêutica da exegese (exata leitura do texto). Muitos parecem querer uma religião “coração” e não uma religião “cabeça”, que muitas vezes se t orna um zelo que não convém e sem o conhecimento adequado. Irracionalidade não é espiritualidade, nem o sentimento é a base adequada para a fé ou prática. Nós devemos entender que a ignorância da verdade Divina, o irracionalismo religioso e uma aversão à doutrina e a um estudo e aprendizagem sérios, não são virtudes Cristãs nem características que devam ser imitadas.” (DOWNING, 2016)

Por fim, ele encerra seu comentário enumerando treze motivos que nos devem levar ao estudo sério da Escritura Sagrada.

“Por que estudar a Bíblia? A seguir estão as principais razões corretas: (1) glorificar a Deus, (2) estar em comunhão com Cristo, (3) conhecer a vontade de Deus, (4) ser obediente a Deus, (5) crescer em direção à maturidade espiritual, (6) promover a nossa santificação , (7) preparar para o ministério da Palavra, (8) compreender o nosso propósito, (9) manter a pureza da igreja, (10) edificar os outros, (11) evangelizar os não- convertidos, (12) defender inteligentemente a fé e (13) se preparar para a eternidade.” (DOWNING, 2016)

2.2. Pergunta número 8: Quais são os termos importantes acerca da Bíblia como a Palavra de Deus escrita?

A exemplo da pergunta de número 7, a oitava pergunta deve obrigatoriamente partir do pressuposto de que a Bíblia é a Palavra de Deus escrita. Essa verdade é tão importante para a teologia cristã, que o autor inicia o comentário com a seguinte afirmação: “Se a Bíblia é a própria Palavra de Deus preservada em forma escrita — e ela é (conferir a ênfase) — então há certas coisas que são necessariamente verdadeiras [...]”. A partir desta perspectiva a resposta a pergunta nos oferece sete predicados que qualificam a Escritura.

“Resposta: Os termos importantes acerca da Bíblia como a Palavra de Deus escrita são: “inspiração”, “autoridade”, “infalibilidade”, “inerrância”, “suficiência”, “canonicidade” e “iluminação”.” (DOWNING, 2016)

2.2.1. Sobre o comentário.

Ao falar da inspiração da Escritura, o autor deixou um pouco a desejar ou pelo ao menos sua atenção não teve como foco todo o aspecto da revelação divina. Sua abordagem foi totalmente direcionada para o aspecto divino da Escritura —“A Bíblia é a Palavra inspirada de Deus, e não apenas a obra ou as palavras dos homens”, não houve nenhuma ênfase na necessidade de se entender a Bíblia em sua natureza humana, no sentido de definir o termo. Ignorar essa parte importante do conhecimento das naturezas da Escritura faz com que haja necessidade posterior de elucidação, fato que também não ocorreu, quando o autor apresenta de forma mais clara a necessidade de estudar a Escritura por meio das ciências exegese e hermenêutica. Para um cristão menos instruído, que possui apenas o conhecimento superficial da Escritura e que tem tendências a interpretação mais espiritualizada dos textos, o não conhecimento das implicações da natureza humana da Escritura, certamente, fará com que ele no mínimo ignore a necessidade de se fazer uma exegese do texto e por meio da hermenêutica compreender o significado pretendido pelo autor ao escrever de determinada passagem.

Há mais três termos importantes com os quais alguém deve estar familiarizado: exegese, hermenêutica e aplicação. Exegese (mostrar o significado do texto — significado da palavra, gramática e sintaxe — na língua original) refere- se à leitura do texto, ou seja, ela responde à pergunta: “O que o texto diz?”. Hermenêutica é a ciência de interpretação. Ela responde à pergunta: “O que o texto quer dizer?” (Lucas 10:26). Aplicação refere- se ao texto da Escritura, uma vez que ele pode ser aplicado a uma determinada situação: “Como esta passagem é ou pode ser legitimamente aplicada às nossas modernas era e situação?”. (DOWNING, 2016)

2.3.Pergunta número 9: que se entende por “inspiração” das Escrituras?

Nesta pergunta, a falta de informação sobre a natureza humana da Escritura é parcialmente solucionada — “Inspiração” é a obra de Deus sobre os corações, mentes e mãos dos homens para nos dar a própria Palavra de Deus em forma escrita”. Ou seja, por sua soberana providência, Deus utilizou homens para transmitir sua palavra de forma que pudesse ser compreendida. Cada um desses homens que recebeu a graça divina de ser objeto do propósito divino de comunicar sua Palavra, as transmitiu por meio de suas culturas, línguas e conhecimento de mundo. A inspiração divina não só os capacitou a escrever por suas próprias palavras, utilizando-se de seus idiomas, como garantiu que tudo quanto eles transmitiram não viesse a conter qualquer erro. Por esse motivo podemos afirmar que a Palavra de Deus é infalível e inerrante.

Pergunta 9: O que se entende por “inspiração” das Escrituras? Resposta: “Inspiração” é a obra de Deus sobre os corações, mentes e mãos dos homens para nos dar a própria Palavra de Deus em forma escrita. 2 Timóteo 3:16: “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça”. 2 Pedro 1:20- 21: “Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. 21 Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo”. Veja também: Isaías 8:20; 1 Coríntios 2:9- 14; Hebreus 1:1- 3. (DOWNING, 2016)

2.3.1. Sobre o comentário.

O autor inicia o comentário explicando o significado do termo “inspiração”.

O termo inspiração deriva do Latim inspiro, “respirar para dentro”, referindo- se aos autores humanos. A questão real, no entanto, é que as próprias Escrituras são “inspiradas por Deus”, ou seja, soprada por Deus (theopneustos ) — 2 Timóteo 3:16. (DOWNING, 2016)

Aqui fica mais evidente o motivo pelo qual devemos estudar a Escritura — “A inspiração é desta forma tanto verbal (estende-se às verdadeiras palavras, e, portanto, às nuances de gramática e sintaxe nas línguas originais) quanto plena (completa ou igual em todo)”. Pelo fato de haver a participação humana na escrita da Bíblia, se faz necessário que as deficiências quanto à compreensão dos distanciamentos dos textos sejam transpostas, o que só é possível por meio do estudo sério e orientado. Isso não quer dizer que a Bíblia seja um livro enigmático, nem que seja compreendido somente por uma minoria intelectual. O exame simples da Escritura pode levar qualquer crente sincero ao entendimento das verdades essenciais necessárias a salvação — “A grande verdade da revelação Divina é que Deus falou aos homens (Hebreus 1:1- 3). Ele não só falou aos homens, mas falou em termos compreensíveis.”, mas existem de fato algumas passagens ou doutrinas que são melhor entendidas, ou somente compreendidas, por meio de uma abordagem mais detalhada do texto.

Por fim, o autor apresenta informações muito pertinentes no que diz respeito as traduções e as chamadas paráfrases das Sagradas Escrituras.

“Há uma nítida diferença entre uma tradução e uma versão. O excesso de versões modernas torna esta discussão necessária. A tradução estrita começa com a língua original e, ao passo que, expressando- se em outro idioma, mantém- se o mais próximo possível do texto no idioma original com suas complexidades gramaticais, de sintaxe e expressões idiomáticas — mesmo ao sacrifício de estilo. Uma versão difere de uma tradução na medida em que ela é uma versão de uma tradução anterior, em uma segunda língua, ela usa a gramática, sintaxe e expressões dessa segunda língua e torna muito maiores as concessões para a suavidade da leitura e da expressão do pensamento. Em suma, uma tradução se detém mais perto da linguagem original, enquanto que uma versão se detém mais de perto da segunda língua.” (DOWNING, 2016)

As lições aprendidas neste paragrafo são muito valiosas, pois um trabalho de tradução, desde que devidamente realizado, é a aplicação das ciências interpretativas anteriormente citadas para a compreensão do significado das palavras, do significado pretendido, e das melhores formas de se empreender aplicações que não façam violência ao texto. Devotar-se de forma demasiada as chamadas versões, que como muito bem coloca o autor, são baseadas em traduções do texto original, pode em alguma medida comprometer o sentido real do texto.

“Muitas “versões” modernas são totalmente inadequadas, uma vez que elas não se baseiam em qualquer texto dado, mas são, na realidade, paráfrases, e algumas realmente mudam o sentido do texto e por isso alteraram o seu ensinamento doutrinário. Não há substituto para um conhecimento e um estudo das línguas originais.” (DOWNING, 2016)

3. Conclusão.

“A bíblia e a sua inspiração divina, um catecismo de doutrina bíblica”, apesar de não expor de forma tão mais detalhada as implicações do aspecto humano da Escritura, certamente pode alcançar bons resultados se devidamente apresentado aos alunos. Infelizmente, com o crescimento dos movimentos “avivados” que têm cada dia representado mais os cristãos protestantes com sua ênfase na subjetividade da fé e pouco ou nenhum interesse no estudo das Escrituras, os catecismos estão cada vez mais associados a igreja romana. Os crentes sequer sabem o que é um catecismo e ignoram o fato de que toda igreja, consciente ou não, possui uma confissão de fé.

O mais importante sobre os símbolos de fé é que eles estão sujeitos as verdades reveladas nas Escrituras Sagradas. As escrituras são o Norte que direciona a mente e vida da igreja, e estudar as escrituras e tudo que provém da fiel interpretação delas é ser fiel a Deus e sua Palavra revelada.

Bibliografia

DOWNING, W. R. A Bíblia e a Sua Inspiração Divina: Um Catecismo de Doutrina Bíblica. 1ª. ed. São Paulo: Estandarte de Cristo, 2016. ISBN 978- 1- 60725- 963- 3.

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