domingo, 24 de novembro de 2019

Uma Introdução aos Estudos Teológicos



INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS TEOLÓGICOS


O período Patrístico- c.100-451 d.C.:
A origem do cristianismo: Palestina, mais especificamente na região da Judéia, em particular na cidade de Jerusalém”;
“No processo de expansão surgiram diversas regiões que se tornaram importantes centros de debate teológico. As três consideradas mais importantes são:
1.      A cidade de Alexandria;
2.      A cidade de Antioquia e a região vizinha da capadócia, na atual Turquia;
3.      O norte da África Ocidental.”

O termo “Patrístico” vem da palavra latina “pater”, “pai”, e tanto designa o período referente aos pais da igreja quanto as ideias características que se desenvolveram durante esse período”.

“O período Patrístico: esse termo representa algo definido de forma vaga que frequentemente é considerado como o período a partir do termino dos documentos do NOVO TESTAMENTO (c.100) até o decisivo Concílio da Calcedônia (451).”

Patrístico: normalmente, esse termo significa o ramo do estudo teológico que trata do estudo dos “pais” (patres) da igreja.”

Patrologia: Esse termo já significou literalmente “o estudo dos pais da igreja”, mais ou menos, da mesma forma que “teologia” significava “o estudo de Deus” (THEOS). Entretanto, em anos recentes a palavra sofreu uma alteração em seu significado. Agora, ela se refere a manuais de literatura patrística, como aquele do célebre acadêmico alemão JOHANES QUASTIN, que fornece a seus leitores fácil acesso às principais ideias dos escritores patrísticos e a alguns dos problemas de interpretação associados a elas.”

PROGRESSOS CRUCIAIS DA TEOLOGIA

A ampliação do cânon do NOVO TESTAMENTO: A palavra cânon deriva da palavra grega Kanon e significa “uma regra” ou “um ponto fixo de referência”.
O cânon das Escrituras refere-se a um conjunto restrito e definido de determinados livros. O termo “canônico” é usado em relação aos livros aceitos como parte do cânon.

A DEFINIÇÃO DOS CREDOS ECUMÊNICOS

A expressão “credo” vem da palavra latina, que apresenta a mesma grafia e cujo significado é “eu creio”, expressão inicial do Credo Apostólico.
Os credos são uma síntese da fé que deve ser comum a todos os crentes. São pontos essenciais, conjuntos de verdades que faria parte da confissão daqueles que seriam batizados.
Por seu caráter universal, os credos diferem das confissões de fé denominacionais.



“Vós quereis ouvir de por que e em que modo Deus há de ser amado? Eu vos respondo: a causa pela qual Deus há de ser amado é o próprio Deus; o modo é amar sem modo. É suficiente isso? Talvez seja, mas para os sábios. Mas eu estou em dívida em relação aos ignorantes (cf.rm1,14): embora, para os sábios, o que foi dito seja suficiente, para outros deve ser explicado.”
(BERNARDO DE CLARAVAL, 2010:9).


TEOLOGIA:

 DEFINIÇÕES a.C.
Para Platão: relaciona o termo com ensino mitológico.
Para Aristóteles: diz respeito a ciência teórica mais importante.

DEFINIÇÕES d.C.

Com o desenvolvimento do cristianismo, são formadas escolas de compreensão da Sagrada Escritura, desde então o termo é utilizado em sentido cristão.
Orígenes, pai que viveu entre II e III séculos, foi o primeiro a utilizar o termo em relação ao conhecimento de Jesus Cristo.
O que Orígenes chama de teologia pode ser entendido como a ação da igreja, presente na escrita do N.T.
“A teologia tem como ponto de partida a fé da Igreja”.
“Querigma: proclamar, anunciar”.
Ortodoxia: sistema teológico considerado único e verdadeiro pela igreja.
CONCÍLIO DE JERUSALÉM (ANO 51 a.C.).

ALTA IDADE MÉDIA: teologia expressa a totalidade da fé cristã. (da queda do império romano em 476 até o século IX).
Neste período, expressão como: sacra doctrina e sacra scriptura são usados como sinônimo de teologia.
No século IX temos o uso comum do termo teologia.

ACONTECIMENTOS DO PERÍODO MEDIEVAL:

Fundação de escolas e surgimento das universidades- passado o período turbulento dos reinos bárbaros no sul da Europa (até o século VIII).
A teologia chega as universidades- a dialética como contraposição de ideias, de argumentos, ganha espaço na reflexão. Surgimento das “summas” teológicas.
Surge a teologia da reforma protestante- Lutero protesta contra a escolástica.
Modernidade- a partir do século XVI, surgem a teologia moral e a teologia positiva. Críticas humanistas, tensão entre universidade e igreja.

INFLUÊNCIA DO RACIONALISMO:

Século XX traz a expressão “voltar as fontes”.
Concílio Vaticano II (1962-1965), “traz a filosofia de que conversando a gente se entende”.
Os primeiros teólogos eram leigos, não Clérigos, que formularam e contribuíram com a reflexão teológica.
Ex: AGOSTINHO DE HIPONA.

OS PRINCIPAIS MÉTODOS DA TEOLOGIA

Na teologia cristã temos como referência a sagrada escritura, a prática eclesial, o magistério e a linguagem.
Patrística- teologia dos primeiros pais da igreja.
·         De acordo com a região, o método patrístico assume características latinas ou gregas;
·         Predomina na antiguidade, durante o império romano no Ocidente e no Oriente;
·         Tem como método exegético a leitura do antigo testamento a partir de Jesus Cristo.
Escolástico-
·         Dois grupos identificados: o Tomista e o Franciscano;
·         No desenvolvimento, há a escolástica posterior e a teologia reformada;
·         A teologia atua como a inteligência da fé, o modo racional de entender o como. Ciência e religião caminham interligadas.
Moderna-
·         Põem em evidencia os desafios atuais, como pessoais e sociais;
·         Influência do iluminismo, valorização e progresso da ciência para a teologia.

PONTOS IMPORTANTES SOBRE A TEOLOGIA ATUAL

Pressupostos para a teologia:

·         A linguagem rigorosa, própria do meio acadêmico;
·         Resposta aos dramas da realidade a partir da perspectiva da palavra- mistério;
·         Autocrítica;
·         Mistagógica: em permanente aprofundamento da fé;
·         História: em processo de aprendizagem na caminhada no tempo;
·         Plural: diversidade de teologias;
·         Interdisciplinaridade: recebe contribuição de outras áres do conhecimento;
·         Fidelidade à palavra-Mistério.


A TEOLOGIA COMO CIÊNCIA

Ciência é o conhecimento em que definimos sua causa para demonstra-la. A partir do desenvolvimento da ciência, obtemos o conhecimento sistematizado por meio de um método.
Ciência = do grego scientia.
Palavras-chave: ciência, conhecimento, definimos, causa e demonstra-la.
Na teologia, “o que faz uma ciência não é seu assunto (objeto formal)”. (BOFF, 2014, p.21).
Palavras-chave: teologia, assunto (objeto material), modo (objeto formal).
“Teologia é a ciência que apresenta a Revelação de modo crítico, sistemático e amplo, buscando a compreensão do MISTÉRIO revelado em si mesmo e suas consequências para a existência humana”.
“O modo de fazer e o objeto da teologia são inseparáveis”.

REFERENCIAL E BUSCA:

·         Verdade como referencial e busca,
·         Na convivência com a pluralidade de verdades, a pesquisa teológica é entendida no campo da religião e esta tem seu espaço limitado ao privado;
·         A teologia reivindica seu estatuto como ciência, e o espaço público, tanto pelo seu pressuposto antropológico como pelo diálogo com a filosofia e com a área de ciências humanas.


HISTORICIDADE E USO DOS MÉTODOS HISTÓRICOS:

·         Como campo de conhecimento, a teologia se desenvolve na história, aprofundando a revelação, as leituras da realidade, a relação entre Deus e a humanidade, da humanidade entre si, identificando aspectos e iluminando questões;
·         O avanço do saber é progressivo e diretamente relacionado à significação da vida, tanto em seu entendimento como em seu agir.

ETAPAS DO SABER TEOLÓGICO:

·         Fixar os dados da revelação (objetos material e formal, fonte);
·         Determinar as questões que estes dados suscitam (problema e delimitação);
·         Refletir sobre os dados (objetivos e fundamentação teórica).

OBJETO MATERIAL E OBJETO FORMAL
·         Identificar o objeto de estudo, que, na teologia, é Deus e sua revelação;
·         Definir qual a perspectiva da pesquisa;
·         Estabelecer uma relação objetiva (objeto material) e uma relação subjetiva (objeto formal).

FONTE:
A teologia é uma ciência que busca compreender o que crê, a fé é a fonte subjetiva.
·         Sagrada Escritura: primeira fonte da teologia;
·         Tradição: é o processo dinâmico de nossa identidade como pessoa e da comunidade, que orienta na vivencia da fé, na continuidade histórica.

Ø  Tradição apostólica, norma de qualquer tradição eclesial;
Ø  Tradição eclesial, em continuidade com a apostólica, atualizando-a e desenvolvendo-a nas diferentes culturas e épocas.
·         Magistério;
·         História.

PROBLEMA:
Definimos a questão que queremos resolver.

DELIMITAÇÃO:
Precisamos aprender a limitar nossa análise para torna-la viável. E necessário considerar o assunto, a extensão e os fatores envolvidos.

OBJETIVO (PARA QUÊ):
Na pesquisa teológica, a relação entre Deus e a humanidade é o objetivo último.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA:
Fundamentamos teoricamente o assunto que pesquisamos, apresentando os conceitos centrais, as abordagens possíveis e as perspectivas desejadas.
Teologia é sempre uma continuidade, precisamos considerar e respeitar autores que já estudaram sobre o tema.


Para quem deseja conhecer mais, indico essa obra do Alister E. McGrath!

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

A grande comissão continua.


 

Pregação Expositiva

Sermão pregado na Escola Bíblica Dominical , Dia do Senhor, Cabo de Santo Agostinho, 03/11/2019.
Por: Presb. Sandro Francisco do Nascimento.

Texto base: Mateus 28:18-20.

Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os, em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.

Introdução

Autor e Data

Ao contrário das cartas paulinas, por exemplo, o Evangelho segundo Mateus, não trás o nome do autor. Apesar disso, a tradição tem atribuído a autoria a Mateus o publicano. Nos Evangelhos de Marcos e Lucas, ele é chamado pelo nome de Levi (Mc 2.14; Lc 5.27).[1]

Eusébio, por volta de 265-339 d.C., cita Orígenes,(185-254 d.C.), aproximadamente:

Entre os quatro Evangelhos, que são os únicos indiscutíveis na Igreja de Deus  debaixo do céu, aprendi pela tradição que o primeiro foi escrito por Mateus, que havia sido publicano, mas que posteriormente tornou-se apóstolo de Jesus Cristo, e foi preparado para os convertidos do judaísmo (história eclesiástica, 6:25).

Alguns autores identificam Mateus como sendo um judeu da palestina e que teria escrito para judeus da dispersão. A base para esta afirmação está ligada ao fato de ele citar profecias do A.T por mais de sessenta vezes. Além disso, Mateus sempre se refere ao “reino de Deus” como “reino dos céus”, um equivalente para não se referir ao nome de Deus, pois para um judeu, falar o nome de Deus era algo ofensivo.
Alguns estudiosos sugerem que tenha sido escrito antes do ano 70 d.C., por volta das décadas de 50 ou 60 d.C.

Propósito

O propósito, como parece evidente, é apresentar Jesus como o Messias prometido. A genealogia que leva Jesus até Abrão tem como objetivo demonstrar que Jesus é o cumprimento fiel de todas as profecias do A.T, a aliança é literalmente cumprida em Cristo, Nele, Abrão, pai da fé, se torna pai de todos aqueles que por meio da fé são alcançados pelo sacrifício de Jesus. Essa verdade é constantemente enfatizada na teologia paulina, em Cristo, somos feitos filhos de Abraão, com quem a aliança foi primeiro estabelecida.

Em seu comentário do A.T. e N.T, John MacArthur diz:
“Mateus demonstra a realeza de Cristo ao se referir a ele por “Filho de Davi” (1.1; 9.27; 12.23; 15.22; 20.30; 21.9,15; 22.42,45)”.

Exposição

1.      No verso 18b, Jesus estabelece a base pela qual os seus discípulos podem ter a liberdade de pregar o Evangelho. “toda a autoridade me foi dada no céu e na terra.”

                                I.            O Cristo prometido, tendo cumprido fielmente os termos da aliança, agora reivindica a recompensa. A lei de Deus agora foi legalmente satisfeita e a salvação pode finalmente, em Cristo, ser proclamada a todas as nações.
                             II.            Hendriksen, em seu comentário, faz distinção entre a autoridade de Cristo antes da ressurreição e após. Diz ele: “Antes de seu triunfo sobre a morte, o uso desse dom estava sempre restringido de algum modo”.
Ou seja, enquanto Cristo não fosse morto e ressuscitado como previa o cumprimento da lei, ainda faltava vencer um inimigo do povo de Deus, a saber, a“ morte”.
2.    Em um primeiro momento de sua missão, Jesus ordena que as boas novas sejam pregadas inicialmente a Israel, Mt 10.5-7. No verso 19, no entanto, agora fica claro que as boas novas devem percorrer por todas as nações. Para Hendriksen, o “ide”, ou “vão”, também aponta para a ideia de que seguir a Cristo não consiste somente em vir a igreja, mas em ir  e levar as boas novas para os outros. ... Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os, em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo...”.
                                I.            Segundo Hendriksen, a tradução literal deste verso é: “Havendo ido, portanto, façam discípulos...”. Neste caso, diz Hendriksen: ...tanto o particípio quanto o verbo que o segue pode ser - no presente caso deve ser – interpretado como tendo forca imperativa, “Façam discípulos” é por  natureza um imperativo. É um mandamento enérgico, uma ordem...
                             II.            Tanto Hendriksen, quanto Sayão, concordam que o verbo principal é: ...“façam discípulos”..., sendo assim, batizando e ensinando, são os meios pelos quais se produzirá discípulos.

3.     O batismo deve ser feito em um único nome: o Pai, Filho e Espírito Santo “batizando-os, em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. O batismo tem para aqueles que são incluídos na aliança, um sentido de união com o Deus Trindade.
4.      O ensino deve seguir a vida daqueles que são chamados a aliança a fim de que eles obedeçam a todas as coisas que Cristo ordenou. “ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado”. Ele finaliza o verso vinte com um consolo: “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século”.



Aplicações

1.      Devemos pregar o evangelho?! Devemos pregar o evangelho por pelo menos três motivos:
·         Jesus nos deu autoridade para pregar as boas novas do evangelho, somos seus representantes legais;
·         Pregar o evangelho não é uma opção, todos os eleitos de Deus são ordenados a proclamar as boas novas;
·         O evangelho é o meio pelo qual Deus chama seus eleitos.

2.      A pregação do evangelho tem função dupla, atrair os eleitos e sentenciar os reprovados.
Muito recentemente, conversando com um amado irmão, presbítero da IPAD, Igreja Pentecostal Assembleia de Deus, ouvi algo que me deixou estarrecido. O referido irmão, disse-me que soube por alguns irmãos calvinistas, que por causa da doutrina da eleição não se fazia necessário evangelizar os perdidos, ao contrário, diziam eles, “os eleitos irão ser chamados soberanamente, sem a necessidade da pregação”.
Essa afirmação não possui qualquer amparo bíblico, os eleitos de Deus são atraídos pela pregação. O Espírito Santo trabalha neles para que ouvindo a palavra entendam e venha a se arrepender.

3.      Devemos evangelizar com fervor, com alegria, pois Cristo prometeu estar conosco e essa é a garantia de que a nossa pregação irá operar segundo a vontade soberana de Deus, seja salvando, seja condenando.













Que o Senhor pois nos abençoe!



[1] Hangus,Joseph, História, Doutrina e Interpretação da Bíblia, p. 621, editora Hagnos.