domingo, 17 de fevereiro de 2019

Cristo, o Alvo









 Por:Sandro F. do Nascimento.
Texto base: Hebreus 12.1-3.

Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o autor e consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus. Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando em vossa alma.

Introdução

Muita discussão se tem levantado sobre a carta aos Hebreus, uma delas, diz respeito à sua autoria. Keener, em seu comentário Histórico-Cultural do novo testamento, afirma:

“Na companhia de Lucas-Atos e de algumas “cartas gerais”, o texto de Hebreus exibe o estilo grego mais sofisticado do novo testamento; seu autor provavelmente tinha formação retórica e habilidades literárias sofisticadas”.[1]

Os biblicistas não sabem ao certo quem foi o autor da Epístola aos Hebreus. Martinho Lutero sugeriu que o autor era Apolo. Ele baseou-se em Atos 18.24-28, onde Apolo é mencionado como um judeu instruído, helênico, de Alexandria, no Egito. Tertuliano (escrevendo em 150-230 d. C.) disse que a Epístola aos Hebreus era de autoria de Barnabé. Adolf Harnack e J. Rendel Harris especularam que ela foi escrita por Priscila (ou Prisca). William Ramsey sugeriu que o autor fora Felipe. Contudo, a posição tradicional é de que o apóstolo Paulo escreveu esta Epístola.

Objetivo

O objetivo da Epístola era assegurar aos Cristãos judeus de que sua fé em Jesus, como o Messias, era correta e legítima. Além disso, a Epístola também pretendia prepara-los para o eminente desastre, a destruição de Jerusalém por Roma.

Exposição

1)      “Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas,”.
·         O autor usa uma conjunção conclusiva para dar continuidade aquilo que deve ser o clímax de sua fala. No capítulo anterior, ele elabora uma lista com os nomes dos chamados heróis da fé, uma galeria formada por indivíduos que seguramente encontraram oposição superior ao enfrentado pelos leitores da carta. A conclusão dele então é a seguinte: tendo em vista os obstáculos enfrentados pelos heróis da fé, vendo a promessa de longe, foram féis ao propósito e cumpriram a carreira. Daí a metáfora de estar rodeado por uma grande nuvem de testemunhas, a ideia é um estádio lotado de testemunhas, uma multidão.

·         Metaforicamente, os heróis, agora, formam uma plateia que assiste a maratona.

2)      “desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos,”.

·         Imaginemo-nos em uma competição, quais os vestuários devemos utilizar para que possamos ter melhor desenvoltura, velocidade, menos desgaste físico? Quais treinamentos devemos ter para que possamos vencer? Qual a melhor alimentação?
A ideia é propriamente essa, que nos dispamos, nos livremos, abandonemos, tudo que pode nos impedir de chegar à final.

·         Pecado- Simon J. kistemaker, comentando a carta diz: “...Um obstáculo em si mesmo não é um pecado, mas porque retarda um competidor, pode-se tornar um pecado. O pecado embaraça, assim como uma túnica que chega aos pés embaraçaria um corredor nos tempos antigos. Livre-se desses obstáculos, diz o autor de Hebreus”.[2]
Ou seja, é bem provável que os desvios apareçam na nossa caminhada cristã, contudo, o desvio por si só não é pecado, mas o desvio sendo alimentado se torna pecado.

3)      “corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta”.

·         Segundo Simon J. kistemaker, o autor parece ecoar 2 Timóteo 4.7- “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé” - no fim de sua carreira quando apóstolo sabia que sua morte estava próxima.

·         O imperativo está acompanhado de – “com perseverança” - upomonh-hipomoné- é a capacidade de suportar circunstâncias difíceis, ao que tudo indica, levando em conta o contexto que os circundava (provavelmente perseguição, tanto por parte dos judaizantes, quanto por parte dos romanos), é compreensivo o conselho para que perseverem.
·         O percurso da corrida obviamente foi proposto por Deus, fomos vocacionados.

4)      “olhando firmemente para o autor e consumador da fé, Jesus,”.

·         Nossa carreira deve ser perseverante, contudo, nossa perseverança só pode ser possível, se olharmos para Cristo. O atleta vê de longe a linha de chegada, seus olhos contemplam só o destino que lhe aguarda, nada, absolutamente nada pode tirar sua atenção do alvo. É precisamente por este motivo, o alvo seguro a sua frente, que ele não desanima diante das dificuldades.
·         Cristo é o alvo. Ele é o autor e consumador da fé.
Simon J. kistemaker, observa que: o autor não colocou Jesus entre os heróis da fé, Ele é o autor da salvação (2.10). Podemos traçar um paralelo com a afirmação de Paulo aos Filipenses (1.6)- “que começou boa obra em vós há
de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus”.

5)      “o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus. Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando em vossa alma”.
·         Sobre o significado de “a alegria que lhe estava proposta”, Simon J. kistemaker, apresenta duas possibilidades interpretativas:

                                I.            A primeira proposta é entender que Cristo troca a alegria celeste pelo sofrimento terreno.
                             II.            A segunda, entende que Cristo suportou o sofrimento, por causa da alegria que haveria de ter após sua morte e ressurreição.

Contextualmente, a segunda opção parece ser a correta. Se formarmos um paralelo entre esta afirmação e textos com Isaias (53.4-6), chegaremos a conclusão de que, “Deus destinou o caminho de sofrimento para Jesus e depois encheu-o de alegria, Salmo (16.11) ;Atos(2.28)”.[3]

·         Jesus, não fez caso da vergonha, suportou o fardo de ser condenado a pena mais vergonhosa de sua época. Os judeus que exigiram à pena de Cristo sabiam o que Deus havia falado sobre os que eram condenados à morte de cruz, “o que for pendurado no madeiro é maldito de Deus (Dt 21.23; veja também G1 3.13)”.

·         Por fim, o escritor os instrui a considerar Cristo, não só considerar, mas que considerem Cristo com atenção. A ideia parece apontar para que eles refletissem com atenção em toda oposição enfrentada por Cristo, como Ele foi obediente mesmo diante da aposição. Se Cristo que é o autor da nossa fé, passou por oposição, e vencendo, confirma também nossa vitória por meio do Seu próprio mérito, não iriamos sucumbir diante das dificuldades.

Aplicação

1.      Em nossa caminhada Cristã, iremos passar por dificuldades.
·         “desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia,”. Lembro-me de uma obra de “John Bunyan, O Peregrino”, onde ele conta a história de um homem chamado Cristão. Esse homem vive a aflição de carregar um fardo pesadíssimo nas costas. Quantos de nós, estamos a tanto tempo trilhando este caminho, e mesmo depois de tanto tempo, continuamos a carregar vícios, pecados, dúvidas, tantas coisas que nos fazem perder o foco? Quantas vezes retrocedemos, olhamos para trás e desviamos nossos olhos de Cristo?

2.      Enquanto vivermos um cristianismo superficial, jamais olharemos atentos para Cristo. Ele nunca será o nosso alvo, nossa linha de chegada, enquanto não nos despirmos das nossas paixões.
·         Certamente somos assediados por nossas paixões mundanas, devemos seguir o exemplo dos heróis da fé, eles somente concluíram a carreira, porque tinham seus olhos focados no salvador.
3.      Assim como Cristo, devemos suportar as aflições desta vida.
·         Ele nos deu motivos para ter esperança, somo vocacionados por Ele, ou seja, fomo chamados.
·         Por este motivo, não devemos temer as perseguições.

4.      Para concluir, retorno a história do “Peregrino”, só teremos real descanso, quando focarmos em Cristo, Sua obra, e lançarmos sobre Ele nossas preocupações.
·         Aqueles crentes estavam passando por uma terrível perseguição, o peregrino teve em seu caminho vários empecilhos que o fizeram até mesmo sair por um breve tempo do caminho. No fim da história ele encontra descanso quando ao focar no caminho da retidão, encontra-se com a cruz de Cristo e deixa a seus pés o fardo tão pesado que lhe seguia nos lombos.




Que o Senhor pois nos abençoe!



[1] Keener, Craig S., Comentário Histórico-Cultural da Bíblia, Novo Testamento- Vida Nova. P.756.
[2] Kistemaker Simon, Comentário de Hebreus, p. 514, Cultura Cristã.
[3] Simon J. kistemaker