quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Predestinação

                      Predestinação
  
                “Predestinação- é o ato de predestinar de antemão e predestinado significa eleito por Deus, destinado de antemão.”
É o que confirma Silas Malafaia em sua pregação sobre o assunto. Bem tudo estaria certo se ele tivesse parado ai, porém ele diz que a pessoa é predestinado depois que recebe a Jesus.
Veja oque a bíblia realmente diz:
Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor;
E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade,     
Ora, aqui fica clara a ordem dos fatos, Deus elegeu antes da fundação do mundo. Outro fato é que Deus nos escolheu não por sermos santos mas para nos santificar, logo o homem não tem mérito algum pois tudo é a vontade de Deus.
Malafaia também diz que a predestinação é vocacional, mas veja o que a bíblia diz.
¶ Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade;

2 Tessalonicenses 2:13
Aqui fica claro que Deus elege o perdido para santificar e salvar.


LIVRE AGÊNCIA
Certamente, o ser humano tem liberdade para agir. Contudo, quando
consideramos sua vontade, será que tem a capacidade de optar pelas coisas aprovadas? A
ideia do livre-arbítrio é muito difundida, ainda mais em uma época em que há forte
incentivo para que cada pessoa faça o que bem entende. Existe livre-arbítrio? Se existe,
em que termos? Qual é a condição da nossa vontade?
I – O Livre Arbítrio Perdido
Por definição, a expressão “Livre Arbítrio” diz respeito a uma capacidade humana
de escolher o bem em detrimento do mal. Contudo, isso é possível a um pecador? Já no V século de nossa era, a questão do livre-arbítrio foi largamente debatida especialmente devido à grande controvérsia travada entre Agostinho e Pelágio. Agostinho, baseado nas Escrituras, reconheceu como heréticas as posições defendidas e ensinadas por Pelágio.
Basicamente, o problema foi causado devido à descaracterização dos efeitos da queda no ser humano. Pelágio ensinava que o homem nasce perfeito, sem pecado, e com a plena habilidade de viver em estado de perfeição. Para ele, o pecado é uma experiência que acontece no decorrer da vida. Portanto, seus pressupostos negavam o pecado original, bem como a transmissão e a imputação do pecado na vida dos descendentes de Adão.
Além disso, esvaziou de significado e importância o sacrifício de Cristo, uma vez que o homem pode viver a plena humanidade em perfeição absoluta. Para ele, a vontade do homem era livre para manter-se pura e incontaminada, não sendo escravizada pelo pecado. Contra esses “dogmas” pelagianos levantou-se Agostinho. Este escreveu várias obras afirmando a corrupção total do homem, ou seja, que o pecado invadiu todos os recantos da existência humana, não restando nenhuma parte do homem que se manteve incontaminada. Reconheceu e ensinou a doutrina do pecado original, não apenas a sua transmissão por nascimento no decurso das gerações, mas também a imputação, considerando Adão como “cabeça de raça”, isto é, a função representativa que tinha no paraíso, quando recebeu a primeira aliança, a aliança da Criação. Esta era um pacto de obras. Se Adão desobedecesse, ou seja, se ele viesse a praticar a desobediência, quebraria a aliança. Se, ao contrário, se mantivesse firme diante da tentação do diabo, conquistaria o direito de viver para sempre em perfeição e santidade, numa ordem de criação perfeita e inalterável. Contudo, não somente ele, mas toda a sua posteridade se beneficiaria com sua retidão original. Conseqüentemente, sua desobediência traria também culpa e condenação sobre todos os seus descendentes. Essa representatividade é evidente no ensino bíblico que apresenta Cristo como o último Adão. Paulo deixa claro que em Adão, todos pecaram (Rm 5.12), e que os que crêem em Cristo não estão mais debaixo da representatividade do primeiro homem, mas sim de Jesus (Rm 5.12-20; 1Co 15.21,22, 45-49).

Assim, o pecado passou a caracterizar a existência humana como um todo, já a
partir de sua concepção no ventre materno (Sl 51.5). Agostinho enfatizou a necessidade da obra de Cristo que nos substitui naquilo que precisamos satisfazer para a justiça requerida por Deus. Toda nossa dívida foi cancelada. Jesus nos substituiu na vida e na morte, nos concedendo a ressurreição para a eternidade. Em vida, Cristo cumpriu perfeitamente a lei (Mt 5.17; Lc 2.21) com o objetivo de nos representar nesse cumprimento, repassando assim os méritos de suas obras a todos os que nele crêem. Em sua morte, assume o juízo que merecidamente nos aguardava, tornando nossa morte física o ponto final da história do pecado em nossa existência e o renascer para a vida plena e perfeita. Na queda, Deus sujeitou o homem ao tempo a fim de que o pecado e a queda ficassem para trás e a história, conduzida por Deus, trouxesse um futuro de restauração em Cristo Jesus. Sem a obra substitutiva de Cristo, o único destino humano seria o inferno eterno. Agostinho também deixou claro que a vontade do homem não é livre para escolher o bem. Influenciado por Agostinho, séculos mais tarde Lutero veio a escrever uma célebre obra enfatizando a prisão na qual se encontra a vontade humana, intitulada De servo arbítrio, ou seja, A Escravidão da Vontade, uma reação à obra de Erasmo de Roterdã cujo título era De libero arbítrio, isto é, a liberdade da vontade. Na verdade, apenas Adão e Eva, antes de pecarem, experimentaram o Livre Arbítrio, pois não tinham a concupiscência da carne “entre os quais todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais” (Ef 2.3). O apóstolo está afirmando que o pecado está interferindo em todo pensamento, desejo e obra. Hoje, é impossível ao homem natural, mesmo o crente, experimentar tal pureza e isenção de influência maligna, que o leve a querer e a praticar por si mesmo o bem. Tanto Lutero quanto Calvino refletem Agostinho em muito de seus pensamentos. A rejeição completa pelos reformadores do Livre Arbítrio para o homem caído é um exemplo disso.

II – Realidade Presente: Livre Agência

A livre agência pode ser definida como a liberdade para refletir o próprio coração
em tudo o que se faz. Essa é a presente realidade humana. Adão, após cair, perdeu a capacidade de refletir perfeição em seus pensamentos e atos. Contudo, passou a mostrar a sua nova e terrível realidade interior. Note o que Paulo diz sobre o gentio, ou seja, o homem natural: “Quando, pois, os gentios, que não tem lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração” (Rm 2.14,15). O que o apóstolo está expressandoé o fato de o homem agir segundo o que está em seu coração. Existe a norma da lei gravada no coração de todo homem “por natureza”. Há o conhecimento da vontade moral de Deus no centro da vida de todo ser humano. E, de fato, por vezes o ímpio reflete padrões de ética e moral. Contudo, tal conhecimento não é suficiente para a santidade, pois esta só pode existir na vida daqueles que conhecem a Cristo como Senhor e Salvador.
De qualquer forma, mesmo esse agir segundo a lei no homem natural não significa jamais o seu cumprimento, pois o homem, mesmo o crente, não pode cumpri-la em seu estado atual.
Ora, não é preciso argumentação para compreender que o coração do homem no
paraíso era perfeitamente bom. De certa forma, não havia santidade ali, pois não havia do que se separar. Tudo era perfeito. O coração do homem só refletia a pura e cristalina vontade de Deus. Contudo, uma vez que desobedeceu à ordem de Deus, tornou-se imperfeito e desligado da comunhão perfeita com Deus, como tinha no Éden. A morte espiritual passou a caracterizar o ser humano, que só poderia voltar a se relacionar com Deus nesta vida de forma precária, devido ao pecado, e como resultado da obra de Deus de resgatar aqueles que escolheu. O estado do homem sem Cristo é de trevas absolutas.
Não há contradição entre esta afirmação e o fato de refletirem a Lei em suas atitudes de vez em quando. Mesmo tal cumprimento é parcial e sem o entendimento que vem do Espírito. A luz do conhecimento de Deus só raia quando Cristo se manifesta
salvadoramente na vida do pecador. Portanto, o ímpio tem liberdade para refletir o seu coração. Todavia, só operará o pecado, mesmo quando estiver refletindo algum aspecto da Lei de Deus, pois não considera o Senhor em nada daquilo que faz. O pecador vive como se fosse o senhor de sua própria vida. Sobre isso, diz Paulo: “entre os quais todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais” (Ef 2.3). O homem sem Deus só pode refletir a vontade da carne e dos seus próprios pensamentos. Por isso, encontra-se em trevas. Ele jamais poderá optar pelo bem. Na verdade, nem mesmo o reconhece, pois as trevas de seu conhecimento não foram
iluminadas para compreender. Assim, suas melhores obras, quando refletem a Lei de Deus em algum aspecto, apenas distinguem trevas densas de trevas não tão densas (Mt 6.22,23).
Chegamos então ao crente. O crente tem livre arbítrio? Certamente, não. Como
ilustra a figura acima, o livre arbítrio pressupõe o estado de perfeição, para que se opte e se decida sem a inclinação natural para o mal. O crente vive certa dualidade. Existe nele a natureza caída, a dívida contraída por Adão como representante da humanidade. Todavia,
há também nele a herança de Cristo, o representante dos eleitos. Nossa responsabilidade é: “andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer” (Gl 5.16,17). Pela busca incessante de Deus na comunhão do Espírito, o crente é habilitado a vencer a carne. Por lutar ainda contra essa natureza caída, o crente jamais conseguirá fazer nada perfeito, nem mesmo separar e distinguir claramente seus próprios desejos e intenções. Por vezes, alguns desejos tidos como “nobres” e “santos” têm intenções malignas como motivação.
Enganoso é o coração. Por isso, mesmo o crente não consegue separar e discernir perfeitamente os impulsos e as motivações de sua própria alma. Não pode exercer o livre arbítrio, como foi o caso de Adão e Eva, antes de pecarem.

CONCLUSÃO:

A ideia do livre-arbítrio surgiu como um modo de preservar a dignidade do ser
humano, conferindo-lhe algum mérito e direito na sua própria salvação. A condição de “morto” não é agradável ao ser humano. O homem natural se rebelou contra Deus para ser soberano sobre si mesmo. Assim, confessar completa dependência do Senhor para a sua salvação não é agradável ao coração humano. Tenta-se desesperadamente marcar um “gol de honra”, algo que possa dar ao homem a possibilidade de dizer “pelo menos isso...”. O ser humano não tende a gostar da graça quando o assunto é salvação, porque ela declara e atesta a sua total incompetência e miséria. Devemos estar cientes de que somos incapazes de optar naturalmente por Deus. Isso só é possível quando somos chamados eficazmente pelo Santo Espírito de Deus, que nos habilita a aceitar a salvação em Cristo Jesus.

Rev. Jair de Almeida Júnior.



[i][i] Trecho tirado da exposição do Rev Jair de Almeida Junior sobre LIVRE AGENCIA.

Esta é a posição de todo homem em relação a Deus, não obrigado a nada, mas agindo segundo o que lhe é natureza “o pecado”. Só Deus é quem convence o pecador de seus delitos e pecados e ele também chama e pelo Espirito faz a mudança.

 Veja:

¶ E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados,
Em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência;
Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também.
¶ Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou,
Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos),
E nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus;
Para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus.
Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.
Não vem das obras, para que ninguém se glorie;
Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.

Efésios 2:1-10

Nesta leitura vimos claramente que tudo é operar de Deus e que em nada o homem coopera, mas que Deus faz tudo em todos sem que o homem tenha mérito a se gloriar.

O próprio Jesus declarou:

Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora.
Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.
E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia.
Porquanto a vontade daquele que me enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha

João 6:37-40

Em João 17 Jesus reafirma que todos aqueles que creram, só creram porque o Pai os havia enviado a ele confirmando Efésios 2:8.

Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse.

João 17:12

Mais referências :

E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.
¶ Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.
E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos q

Romanos 8:28-30

¶ Não que a palavra de Deus haja faltado, porque nem todos os que são de Israel são israelitas;
Nem por serem descendência de Abraão são todos filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência.
Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência.
Porque a palavra da promessa é esta: Por este tempo virei, e Sara terá um filho.
E não somente esta, mas também Rebeca, quando concebeu de um, de Isaque, nosso pai;
Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama),
Foi-lhe dito a ela: O maior servirá ao menor.
Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú.
¶ Que diremos pois? que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma.
Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia.
Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece.
Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra.
Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer.
Dir-me-ás então: Por que se queixa ele ainda? Porquanto, quem tem resistido à sua vontade?
Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?
Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?
E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição;
Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou,
Romanos 9:6-23

Conclusão
 Devemos reconhecer a Soberania de Deus dando glória ao dono de toda a glória, Deus é Soberano e faz tudo segundo sua própria vontade, Ele não é injusto, pois todo homem é culpado então Deus não escolhe entre inocentes mas dentre culpados escolhe para salvar. Logo, Deus mostra justiça ao dar a retribuição do pecado e maldade humana e mostra sua misericórdia salvando muitos que estavam condenados a perdição eterna.
A predestinação não é uma doutrina nova, ela é bíblica e verdadeira sendo reconhecida pelos primeiros reformadores entre eles o próprio Luthero.


Sandro Francisco do Nascimento

Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.


                                     As Antigas Doutrinas da Graça

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Distribuidora Literatura Reformada Tulip

A QUESTÃO DECISIVA: O QUE A BÍBLIA TEM A DIZER?
por Augustus Nicodemus Lópes Vol. 6, No. 2
Muito embora a perspectiva histórica enriqueça e nos ajude a entender as questões que estão associadas à luta pelo ministério feminino ordenado, a questão decisiva é: o que a Bíblia tem a dizer sobre o assunto? A argumentação em defesa da ordenação feminina, como vimos, freqüentemente emprega argumentos baseados no avanço da civilização, na modernização dos tempos, no progresso humano, na crescente participação da mulher em outras áreas da sociedade, e nem sempre dá a necessária atenção aos textos bíblicos relevantes. Embora em nosso desejo de seguirmos a verdade de Deus devamos levar em conta os tempos em que vivemos, bem como o que nos ensinam ciências correlatas à teologia como a psicologia e a sociologia, por exemplo, ao fim, a questão só poderá ser realmente decidida em termos da Escritura — pelo menos dentro das igrejas que se consideram reformadas, e que aderem confessionalmente à regra dos reformadores: sola scriptura. Nosso propósito neste primeiro caderno bíblico é alistar e examinar, mesmo que brevemente, as passagens do Novo Testamento que não podem ser ignoradas no debate sobre ordenação de mulheres ao oficialato eclesiástico.
Passagens do Novo Testamento Usadas Para Defender a Ordenação de Mulheres
Iniciemos esta parte analisando duas passagens do Novo Testamento usadas pelos defensores da ordenação feminina como evidência de que mulheres devem ser ordenadas para o ministério.
Esta passagem, aclamada pelos feministas como a “Carta Magna da Humanidade”, é, sem dúvida, a mais usada pelos defensores da ordenação feminina:
Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo (Gl 3.28).
A interpretação feminista
A linha feminista interpreta a expressão “todos vós sois um em Cristo Jesus” significando “todos vós sois iguais em Cristo Jesus”. Ou seja, interpreta “um” no sentido de “igual”. De acordo com esta interpretação, a passagem mostra que estão abolidas todas as diferenças na Igreja provocadas por raça, posição social e sexo. Todos são iguais. Com a vinda de Cristo, acabou-se a distinção entre judeus e gentios, entre escravos e livres, e entre homens e mulheres: todos são aceitos na Igreja, inclusive para exercer atividades, como iguais. Em Cristo, defendem os proponentes da ordenação feminina, voltamos ao propósito original de Deus na criação, que foi a plena igualdade entre o homem e a mulher. A subordinação da mulher ao homem, continuam, foi resultado posterior da queda (Gn 3.16b), e não fazia parte da criação de Deus. Cristo veio abolir a maldição imposta pela queda, e nele todas as dimensões da maldição imposta à mulher quedam-se anuladas. Impedir que as mulheres exerçam o oficialato, argumentam, seria introduzir uma distinção na Igreja baseada em sexo, o que contraria frontalmente o ensino de Paulo nesta passagem.
Dificuldades com a interpretação feminista
A interpretação feminista de Gálatas 3.28 esbarra em alguns problemas exegéticos. Primeiro, o do contexto. Paulo escreveu a carta aos gálatas para responder a questões levantadas sobre a doutrina da justificação pela fé em Cristo em face às demandas da lei de Moisés e ao papel da circuncisão, do calendário religioso dos judeus e das suas leis dietárias. No capítulo 3 Paulo está expondo o papel da lei de Moisés dentro da história da salvação, que foi o de servir de aio para nos conduzir a Cristo (Gl 3.23-24). Com a vinda de Cristo, continua o apóstolo, os da fé não mais estão subordinados à lei de Moisés: pelo batismo pertencem a Cristo (3.25-27). A abolição das diferenças mencionadas no versículo em questão (3.28) são em relação à justificação pela fé. Todos, independente da sua raça, cor, posição social e sexo, são recebidos por Deus da mesma maneira: pela fé em Cristo. Portanto, Gálatas 3.28 não está tratando do desempenho de papéis na igreja e na família, mas da nossa posição diante de Deus. O assunto de Paulo não é as funções\pard lang2070 que homens e mulheres desempenham na Igreja de Cristo, mas a posição que todos os que crêem desfrutam diante de Deus, isto é, herdeiros de Abraão e filhos de Deus.
Segundo, Paulo enraíza a subordinação feminina, não somente na queda, mas também – e principalmente – na própria criação (1Co 11.7-10; 1Tm 2.12-15). Quando Paulo argumenta em favor da sujeição da esposa, ele parte, não da teologia da queda, mas da teologia da própria igreja, da relação entre Cristo e sua igreja, como em Efésios 5.22-24.
Terceiro, Paulo não está ensinando nesta passagem — ou em qualquer outra do Novo Testamento — que Cristo já aboliu na presente era, total e plenamente, os efeitos do pecado e os castigos impostos por Deus ao homem e à mulher, quando primeiro pecaram. Há ainda aspectos ou dimensões da era vindoura que aguardam pleno cumprimento, quando Cristo voltar. Por exemplo, Cristo já reina, mas nem tudo está já a ele sujeito (Hb 2.8b); já temos a vida eterna, e já fomos ressuscitados com Cristo, mas ainda não estamos livres da morte imposta por Deus a Adão em Gênesis 3.19 (1Co 15.20-28). A nova criação (cf. 2Co 5.17) já foi inaugurada, mas ainda não vemos a presente criação liberta do cativeiro da corrupção (Rm 8.8-25); Satanás já foi derrotado, conforme prometido em Gênesis 3.15, mas ainda será destruído (Rm 16.20). Os crentes já entraram no descanso de Deus (Hb 4.1-13), mas ainda não estão isentos do trabalho árduo ao qual a humanidade foi submetida após a Queda (Gn 3.17-19). As mulheres cristãs ainda não estão livres dos sofrimentos do parto, por estarem em Cristo, e nem igualmente deveriam esperar isenção da subordinação, a qual foi determinada na criação e reforçada na queda, por serem crentes. A plena redenção destas coisas, e das demais que ainda afligem os cristãos, homens e mulheres, ocorrerão plenamente na parousia, quando o Senhor Jesus trouxer em plenitude o Reino de Deus.
Portanto, não se pode usar Gálatas 3.28 como base para a ordenação feminina sem que se faça violência ao seu contexto original, sem que se ignore o ensino de Paulo sobre o cumprimento ainda vindouro da plenitude das bênçãos de Cristo.
Atos 2.16-18: Pentecostes e as mulheres
Esta passagem é parte do sermão de Pedro, no dia de Pentecostes, onde ele cita uma profecia do Antigo Testamento sobre o futuro derramamento do Espírito Santo (Joel 2.28-29) para explicar o que acabara de acontecer consigo, e com os demais discípulos de Jesus em Jerusalém, quando o Espírito Santo veio sobre eles (At 2.1-4):
E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão (At 2.17-18).
A interpretação feminista
Os defensores da ordenação feminina destacam que Pedro inclui as filhas e as servas, tanto quanto os filhos e servos, na recepção do dom do Espírito Santo. E argumentam que não pode haver qualquer distinção quanto ao serviço a Deus baseada em sexo, já que as mulheres receberam o mesmo Espírito (e certamente, os mesmos dons) que os homens, o qual foi dado para capacitar a Igreja ao serviço.
A argumentação prossegue mostrando que na igreja apostólica as mulheres oravam, profetizavam (cf. At 21.9, as quatro filhas de Filipe que eram profetizas), falavam em línguas, serviam (Rm 16.1, Febe), evangelizavam, tanto quanto os homens. Algumas tinham igrejas reunidas em suas casas (At 12.12). Priscila, por exemplo, chegou a ensinar a Apolo o caminho de Deus com mais exatidão (At 18.26). Pentecostes, argumentam as feministas, é a abolição das distinções de gênero na Igreja, pois ao dar às mulheres o mesmo Espírito que aos homens, Deus mostrou que elas devem ser admitidas aos mesmos níveis de serviço que eles.
As dificuldades com a interpretação feminista
Primeiro, se as mulheres exerceram os mesmos ministérios que os homens no período da Igreja apostólica, por que não há nenhuma menção no Novo Testamento de apóstolas, presbíteras, pastoras, diaconisas ou bispas? Por que não há qualquer recomendação de Paulo quanto à ordenação de mulheres, quando instrui Timóteo e Tito quanto à ordenação de presbíteros? Basta uma leitura superficial das qualificações exigidas por Paulo em 1Timóteo 3.1-7 e Tito 1.5-9 para se ter a impressão de que o apóstolo tinha em mente a ordenação de homens: o oficial deve ser marido de uma só esposa, deve governar bem a sua casa e seus filhos (função do homem, nos escritos de Paulo, cf. Efésios 5.22-24).
Segundo, os fenômenos associados por Pedro ao derramamento do Espírito nos últimos dias, como profecia, sonhos e visões, os quais são ditos que seriam concedidos às mulheres, não estão ligados no Novo Testamento ao presbiterato, pastorado ou diaconato, e portanto, poderiam ocorrer sem que as pessoas envolvidas (homens ou mulheres) fossem ordenadas. Havia profetizas na igreja apostólica, como as quatro filhas de Filipe (At 21.9; cf. 1Co 11.5), mas não lemos que eram presbíteras, pastoras ou diaconisas. Embora não tenhamos registro no Novo Testamento de pessoas, além dos apóstolos, tendo visões ou sonhos em decorrência do derramamento do Espírito, não é impossível que haja acontecido; mas, neste caso, com certeza não estava restrito a pastores e presbíteros. A conclusão é que as manifestações carismáticas mencionadas em Atos 2.17-18 (profecia, sonhos, visões) e estendidas às filhas e servas (mulheres crentes) não exigem a ordenação ao ministério, presbiterato ou diaconato daqueles que as recebem.
Terceiro, a recepção dos dons do Espírito (especialmente os dons relacionados com o ensino) por parte das mulheres cristãs não implica em que elas deverão ser ordenadas pelas igrejas para exercer tais dons. Não se pode demonstrar biblicamente que na igreja apostólica as mulheres dotadas com dons de ensino e liderança foram ordenadas. Embora Paulo reconhecesse que as mulheres poderiam profetizar durante os cultos, tanto quanto os homens, entretanto, impõe-lhes uma participação diferenciada destes no ato de profetizar, determinando que orem e profetizem com a cabeça coberta, expressão cultural de que estavam debaixo de autoridade (1Co 11.3-15).
Quarto, não está claro que no Novo Testamento o acesso ao oficialato era baseado exclusivamente na posse dos dons espirituais ou que pessoas dotadas espiritualmente eram necessariamente ordenadas. Não nos parece ser este sempre o caso. Embora a aptidão para ensinar (dom de ensino/mestre? cf. Rm 12.7; Ef 4.11) e capacidade de governar (1Tm 3.4-5; dom de governo? Rm 12.8) sejam requisitos claros nas duas únicas listas que temos no Novo Testamento das qualificações dos presbíteros e pastores (cf. 1Tm 3.2; Tt 1.9), não há evidências no Novo Testamento de que todos quantos tinham estas capacidades (ou dons) tivessem de ser, necessariamente, ordenados.
A interpretação feminista das duas passagens examinadas acima mostra que as mulheres tiveram papel importante no nascimento e desenvolvimento da Igreja cristã, mas não mostra que elas tiveram de ser
ordenadas para isto. Demonstra que as mulheres cristãs, juntamente com os homens, participam da graça de Deus e dos dons do Espírito, sem restrições. Entretanto, nada tem a dizer sobre ordenação ao ministério.
Passagens do Novo Testamento que Impõem Restrições ao Ministério Feminino
Se as passagens usadas a favor da ordenação de pastoras, presbíteras e diaconisas não provam realmente o ponto, do outro lado temos diversas passagens no Novo Testamento que claramente impõem restrições ao ministério feminino nas igrejas locais.
1 Coríntios 11.3-16
Escrevendo ao crentes de Corinto acerca de questões relacionadas com o culto público, Paulo aborda o problema causado por algumas mulheres que estavam orando, profetizando (e provavelmente falando em línguas) com a cabeça descoberta, isto é, sem o véu contrariando assim o costume das igrejas cristãs primitivas (1Co 11.16). Ao que tudo indica, elas haviam entendido que o Evangelho havia abolido, não somente as diferenças raciais, como também qualquer diferença de função na Igreja entre homens e mulheres crentes. Assim, estavam querendo abolir dos cultos públicos o uso do véu, que na cultura da época era a expressão externa do conceito da subordinação da mulher ao homem. Paulo não lhes nega o direito de participar do culto, mas insiste em que elas devem fazê-lo trajando o véu, expressão cultural do princípio permanente da subordinação feminina. Não usá-lo significava desonra, indecência, vergonha (11.5,6,14). O ensino de Paulo em 1Coríntios 11 é que as mulheres devem participar do culto preservando o sinal de que estão debaixo da autoridade eclesiástica masculina. A implicação é que se as mulheres devem participar do culto debaixo da autoridade eclesiástica masculina, segue-se que não podem exercê-la; e já que o exercício da autoridade eclesiástica é feito através de pessoas ordenadas para os ofícios eclesiásticos, segue-se que as mulheres não podem ser ordenadas a estes ofícios.
Resposta a alguns questionamentos
Examinemos agora alguns questionamentos que geralmente são levantados contra a interpretação tradicional da passagem conforme exposta acima. Nosso alvo é esclarecer as dúvidas e rebater as acusações infundadas.
1. Qual é a relação entre a determinação de Paulo para que as mulheres cristãs usem o véu na Igreja e o assunto de ordenação de mulheres? Uma coisa não tem nada a ver com a outra. – Respondemos que tem tudo a ver. Muito embora o uso do véu seja obviamente um traço da cultura oriental, o ponto central da passagem é aquilo que o véu representava naquela cultura. O apóstolo está preocupado com a questão da autoridade eclesiástica e não com uma peça do vestuário feminino! Ele se refere ao véu como sinal de autoridade. O texto grego original diz literalmente que “a mulher deve trazer autoridade sobre a cabeça” (1Co 11.10), uma referência ao que o véu representava naquela cultura, ou seja que ela tinha a autoridade do homem, seu cabeça, sobre si (Entender a expressão como se referindo à autoridade que a mulher tem é exegese que violenta todo o contexto e o ensino do NT). Em outras palavras, embora Paulo permita que a mulher profetize e ore no culto público, ele requer dela que se apresente de forma a deixar claro que está debaixo de autoridade, no próprio ato de profetizar ou orar. Uma mulher ordenada exerce autoridade eclesiástica sobre a congregação confiada aos seus cuidados, na qual existem homens cristãos. Ela governa e ensina autoritativamente, quer como pastora, quer como oficial da Igreja e membro de concílios. Tal posição contraria frontalmente o ensino de Paulo.
2. O ensino de Paulo sobre o uso do véu está condicionado pela cultura de sua época e não tem mais qualquer aplicação hoje – Respondemos que o uso do véu, obviamente, faz parte de uma outra cultura. Entretanto, o uso do véu representava estar debaixo da autoridade masculina, e isto é um princípio permanente para a mulher cristã de qualquer cultura. Tanto é assim, que a argumentação de Paulo para fundamentar sua orientação se baseia em princípios teológicos e imutáveis. Primeiro, Paulo argumenta a partir da subordinação de Deus Filho a Deus Pai (1Co 11.3-5). O Pai é o cabeça de Cristo que, por sua vez, é o cabeça do homem, e o homem o cabeça da mulher. Segundo, Paulo argumenta com base no relato da criação em Gênesis 2 (1Co 11.8-9). O apóstolo inspirado vê nos detalhes da criação uma determinação divina quanto aos diferentes papéis do homem e da mulher. Não somente a mulher foi criada do homem, como por causa dele. A intenção divina deveria ser refletida no culto público. Ou seja, a mulher deveria participar de forma condizente com sua condição de subordinação.
3. A palavra “cabeça” não significa necessariamente autoridade, mas fonte ou responsabilidade. Paulo está apenas dizendo que Deus formou a mulher a partir do homem – Respondemos que há vários fatos que militam contra a probabilidade de esta interpretação ser a correta: (1) Estudos exaustivos feitos na literatura grega antiga demonstram que “cabeça”, na esmagadora maioria de suas ocorrências, significa “cabeça” e não “fonte”. (2) Na passagem paralela de Efésios 5.22-23 “cabeça” tem claramente o sentido de “ter autoridade sobre”. O mesmo encontramos em Efésios 1.22. É neste sentido que Paulo usa o termo aqui em 1Coríntios 11.3.
Esta é uma outra passagem da pena do apóstolo Paulo que é de relevância para o debate sobre o ministério feminino ordenado, pois nela Paulo impõe algum tipo de restrição à fala das mulheres na Igreja:
Como em todas as igrejas dos santos, conservem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar; mas estejam submissas como também a lei o determina. Se, porém, querem aprender alguma coisa, interroguem, em casa, a seu próprio marido; porque para a mulher é vergonhoso falar na igreja (1Co 14.33b-35).
A questão central relacionada com a passagem é que tipo de restrição Paulo está impondo às mulheres. Essa restrição não parece ser absoluta, ao ponto de reduzir as mulheres ao silêncio total nos cultos, já que ele, em 1Coríntios 11.5, deixa a entender que elas poderiam orar e profetizar durante as reuniões, desde que se apresentassem de forma própria, refletindo que estavam debaixo da autoridade masculina. A interpretação que traz menos problemas é a que defende que Paulo tem em mente um tipo de “fala” pelas mulheres nas igrejas que não implique em uma posição de autoridade eclesiástica sobre os homens crentes. Elas podiam falar nos cultos, mas não de forma a parecer insubmissas, cf. v.34b. No contexto imediato Paulo fala do julgamento dos profetas no culto (v. 29), o que envolveria certamente questionamentos, e mesmo a correção dos profetas por parte da igreja reunida. Paulo está possivelmente proibindo que as mulheres questionem ou ensinem os profetas (certamente haveria homens entre eles) em público. Se elas tivessem dúvidas quanto ao que foi dito por um ou mais profetas, as casadas entre elas deveriam esclarecê-las em casa, com os maridos (se fossem crentes, naturalmente), cf. v. 35. Essa proibição de falarem nas igrejas de forma autoritativamente certamente as exclui do ministério ordenado.
Respostas a alguns questionamentos
Vejamos agora alguns questionamentos levantados em conexão com a interpretação tradicional da passagem, conforme a expusemos acima.
1. Esta passagem onde Paulo determina o silêncio das mulheres nas igrejas não foi escrita por Paulo, mas por um escriba machista, muito tempo depois de Paulo e introduzida no texto bíblico. É uma interpolação e não faz parte do texto inspirado – Respondemos que mesmo existindo alguns problemas textuais em 1Coríntios 14.33-35 (a passagem aparece em lugares diferentes em alguns manuscritos), entretanto, todos os manuscritos gregos de 1Coríntios que temos trazem esta passagem. Quem faz este tipo de questionamento fica devendo a prova do que afirma, ou seja, um manuscrito de 1Coríntios onde falte esta passagem. Como se desconhece a existência deste tal manuscrito até hoje, o questionamento fica no campo das especulações.
2. Paulo simplesmente se contradisse: no capítulo 11 ele havia afirmado que a mulher podia orar e profetizar nos cultos – Respondemos que mesmo que deixássemos de lado a doutrina da inspiração e inerrância das Escrituras, ainda assim seria altamente improvável a hipótese de que um homem inteligente, capaz e arguto como Paulo se contradissesse num assunto tão vital para o culto das igrejas no curto espaço de dois capítulos! Se no capítulo 11 ele permite que as mulheres falem no culto, segue-se que a fala proibida no capítulo 14 deve ser de algum tipo especial. E conforme afirmamos, tratava-se do julgamento dos profetas, nos quais Paulo proíbe as mulheres de participar.
3. Paulo está simplesmente proibindo que as mulheres falem em línguas – Respondemos que se este é o sentido, não é aparente nem natural. Por que Paulo proibiria somente as mulheres de falar em línguas? Note- se ainda que as determinações de Paulo sobre o falar em línguas terminaram em 14.28. Após isto, ele tratou da questão dos profetas em 14.29-33. Não faz sentido que ele esteja retornando implicitamente ao assunto do falar em línguas em 14.34. Os seus leitores certamente não perceberiam isto.
4. Paulo se referia às conversas durante o culto, que atrapalhavam o andamento do serviço divino – Respondemos que este tipo de argumento é realmente machista, porque pressupõe que as mulheres são mais “fofoqueiras” que os homens! Por que Paulo proibiria as conversas das mulheres e não as dos homens?
5. A proibição é simplesmente cultural, pois no Oriente era vergonhoso para a mulher falar na Igreja. Paulo estava querendo evitar motivos de conflitos ou hostilidades sociais que dificultassem o avanço do evangelho em Corinto – A resposta é que a determinação de Paulo está de acordo com o espírito cristão em todas as demais igrejas, 14.33b. Portanto, não é paroquial, apenas para a situação da igreja de Corinto. Está conforme a “lei”, uma referência, não às leis gregas (o termo “lei” nunca é usado no Novo Testamento neste sentido), mas às Escrituras, onde claramente se ensina a submissão da mulher (ver Gn 3.16; Nm 30.3-13). E as igrejas de Corinto não deveriam se insurgir contra o costume das demais igrejas e contra o ensino apostólico, 14.36-38. Elas não eram a “igreja mãe”, de onde a Palavra de Deus havia surgido, 14.36. Seus líderes, os profetas e os “espirituais”, deveriam reconhecer a autoridade apostólica de Paulo e se submeter ao seu ensino sobre este assunto, 14.37-38. Fica evidente que Paulo está estabelecendo um princípio permanente para as igrejas, e não apenas fazendo jurisprudência teológica local por escrúpulos missionários culturais.
1Timóteo 2.11-15
Em sua primeira carta a Timóteo, seu colaborador e filho na fé, encarregado da igreja de Éfeso, Paulo faz as seguintes determinações quanto às mulheres:
A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio. Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não
foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Todavia, será preservada através de sua missão de mãe, se ela permanece em fé, e amor, e santificação, com bom senso. (1Tm 2.11-15)
A interpretação histórica da passagem é que, aqui, o apóstolo Paulo determina que as mulheres crentes de Éfeso aprendam a doutrina cristã em silêncio, submetendo-se à autoridade eclesiástica dos que ensinam — no contexto, homens (v.11). Elas, por sua vez, não tinham permissão para ensinar os homens com esta autoridade, nem exercê-la nas igrejas sobre eles, mas deviam submeter-se em silêncio (v.12). A causa apresentada pelo apóstolo é dupla: Deus primeiro formou o homem, e depois a mulher (v.13). E ela foi iludida por Satanás e pecou (v. 14). A inferência óbvia é que as mulheres não podem ser ordenadas ao ministério, pois assim estariam contrariando frontalmente o que Paulo aqui determina, visto que a ordenação ao ministério investiria a mulher com autoridade eclesiástica para governar e ensinar homens. Nas Cartas Pastorais, ensinar sempre tem o sentido restrito de instrução doutrinária autoritativa, feita com o peso da autoridade oficial dos pastores e presbíteros (1Tm 4.11; 6.2; 5.17).
Notemos, porém, que Paulo não está proibindo todo e qualquer tipo de ensino feito por mulheres nas igrejas. Profetizas na igreja apostólica certamente tinham algo a dizer aos homens durante os cultos. Para o apóstolo, a questão é o exercício de autoridade sobre homens, e não o ensino. O ministério didático feminino, exercido com o múnus da autoridade que o ofício empresta, seria uma violação dos princípios que Paulo percebe na criação e na queda.
Respostas a alguns questionamentos
Existem questionamentos levantados contra a interpretação tradicional da passagem, conforme a expusemos acima. Vamos procurar respondê-los, como se segue.
1. Se Paulo está proibindo as mulheres de ensinar, por que Priscila ensinou Apolo (At 18.24-26), e havia profetizas nas igrejas cristãs primitivas? Respondemos que ensinar, no Novo Testamento, é uma atividade bem ampla. O próprio apóstolo determina que as mulheres idosas ensinem as mais novas a amarem seus maridos (Tt 2.3-5). Assim, fica claro que Paulo não está passando uma proibição geral. O ensinar que Paulo não permite é aquele em que a mulher assume uma posição de autoridade eclesiástica sobre o homem. Isso se torna evidente pelo fato de que Paulo fundamenta seu ensino nas diferenças com que homem e mulher foram criados (v. 13), e pela frase “autoridade de homem” (v. 12b).
2. A determinação de Paulo é apenas para que as mulheres não ensinem os maridos, visto que as palavras usadas por Paulo para homem e mulher nesta passagem podem ser traduzidas como esposa e marido – Respondemos que esta última tradução é improvável. O contexto e a maneira de Paulo construir suas frases apontam na outra direção. Se Paulo desejasse referir-se a maridos, teria usado um artigo definido ou um pronome possessivo antes de “homem”. Neste caso, a frase ficaria assim: “Não permito que a mulher ensine, nem que exerça autoridade sobre seu marido”, como fez em Efésios 5.22; cf. Cl 3.18. Além disto, o contexto claramente trata de homem e mulher genericamente, cf. 1Tm 2.8-9.
3. A crítica moderna já provou que 1Timóteo não foi escrita por Paulo, mas por um discípulo dele, no século II, com tendências machistas – Respondemos que a crítica moderna não tem apresentado resultados tão seguros assim. Não temos espaço neste Caderno para expor os argumentos dos estudiosos conservadores em favor da genuinidade de 1Timóteo.Podemos apenas dizer que os argumentos apresentados contra a autoria paulina não são convincentes a ponto de abandonarmos o que a Igreja vem aceitando há séculos. As diferenças de estilo, o vocabulário distinto e as ênfases doutrinárias únicas de 1Timóteo podem, e têm sido, explicadas convenientemente de outros modos, que não negando a autoria de Paulo. Portanto, não devemos rejeitar as implicações de 1Timóteo 2.11-15 para o debate com base na hipótese de estudiosos liberais quanto à autenticidade da carta.
4. Se o próprio Paulo ensina que não há mais condenação para os que estão em Cristo (Rm 8.1), por que as mulheres crentes ainda têm de trazer sobre si a culpa do pecado de Eva? – Respondemos que nenhuma mulher cristã leva mais a culpa do pecado de Eva (o mesmo foi pago pelo Senhor Jesus), mas sim as conseqüências do pecado dela. Estas conseqüências são mais do que a submissão ao marido: incluem também dores de parto e a própria morte (Gn 3.16 e 19), que serão removidas somente na ressurreição dos mortos. Além do mais, a submissão da mulher não foi estabelecida somente após a queda, mas já na própria criação do homem e da mulher, conforme já vimos abundantemente acima.
Conclusões
A nossa análise das passagens mais usadas para defender a ordenação de mulheres ao ministério demonstrou que elas não dão suporte às pretensões do programa feminista embora, certamente, nos ensinem que devemos encorajar e defender o ministério feminino não ordenado em nossas igrejas. Por outro lado, nossa análise das principais passagens usadas como evidência de que Deus não intentou que as mulheres cristãs ministrassem nas igrejas aos homens, de uma posição de autoridade, quer ensinando-os ou governando-os, mostrou que a interpretação tradicional destas passagens encaixa-se nos seus contextos, honra a aplicabilidade dos princípios bíblicos para nossos dias, e responde satisfatoriamente às objeções.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Depravação total

                Depravação total
Apesar da expressão “total”, normalmente oque se entende por depravação total é um equivoco por parte de algumas pessoas. Quando falamos em depravação total estamos dizendo que o pecado afetou o homem em toda sua extensão, ou seja, não há uma única parte do homem que não tenha sido tocada pelo pecado. Aqueda afetou o homem de tal modo que o mesmo é incapaz de por sua própria força se decidir a Deus.
Veja o que o Eterno fala:
E o Senhor sentiu o suave cheiro, e o Senhor disse em seu coração: Não tornarei mais a amaldiçoar a terra por causa do homem; porque a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice, nem tornarei mais a ferir todo o vivente, como fiz.

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João Calvino escreveu a respeito da mente humana:
A mente humana é como um depósito de idolatria e superstição; de modo que, se o homem confiar na sua própria mente, é certo que ele abandonará a Deus e inventará um ídolo, segundo sua própria razão.
Analisando o texto bíblico não é difícil chegar à conclusão de Calvino. A partir do pecado todo homem passou a ser inimigo de Deus.
 Paulo diz:

Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer.
Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus.
Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só.

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Esta é a posição que se encontra todo homem a não ser que Deus o cure de sua seguira. Um fato que se deve ter atenção é que o homem não é somente sujo, mas também está morto.
No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não tinham pecado à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir.

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Nesta passagem Paulo deixa claro que o pecado de Adão não só o afetou, mas a toda humanidade.

Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais.    Gênesis 3:3

Em Efésios2: 1 2,3 Paulo reafirma que todo homem longe da graça de Deus está morto.
¶ E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados,
Em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência;
Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também.

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Também nosso Senhor em João 5:40 é claro em dizer que aquele que não for a Cristo esta legalmente morto.
E não quereis vir a mim para terdes vida.

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Agora levando em consideração que você que leu este pequeno estudo, entendeu qual a situação que se encontra todo homem longe do Salvador, da Graça que sem preço algum para o pecador foi dada, que o mesmo esta morto em delitos e pecados, que se ficar por sua própria conta seu destino final será um abismo de profundidade incalculável. Você que não tem a Cristo como seu advogado e justo Juiz, se você esta neste momento ouvindo a voz do teu Senhor, eu como servo do Deus Altíssimo te digo volta pra casa de nosso PAI, pois ele enxugará dos teus olhos toda lágrima e te honrará como filho desde que você receba Dele o dom da fé e creia que Jesus veio sofrer e morrer em teu lugar, que ELE como único filho decidiu adotar outros filhos tirando-os da morte e do inferno.
Se você ouviu este chamado e entendeu que a voz de Deus te chama procure uma igreja onde você veja o evangelho ser pregado com sinceridade e assuma um relacionamento de filho com teu SENHOR!



As antigas doutrinas da Graça

Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.                 
por: Sandro Francisco do Nascimento

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

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QUEM JESUS FOI REALMENTE?
por Augustus Lopes Vol.4, No.1
Nem todos os que hoje se consideram cristãos aceitam que Jesus, foi e fez o que os Evangelhos nos dizem. Em 1994 uma pesquisa revelou que 87% dos americanos acreditavam que Jesus ressuscitou literalmente dos mortos. Três anos depois, a pesquisa descobriu que 30% dos americanos que se consideram verdadeiros cristãos não aceitavam que a ressurreição de Jesus tenha sido algo físico e literal, mas sim uma série de experiências psíquicas dos seus discípulos, que de alguma forma os transformou completamente.
O Jesus sobrenatural
Durante séculos o relato dos Evangelhos acerca de Jesus vem sendo aceito pela Igreja cristã em geral como sendo fidedigno, isto é, correspondendo com exatidão aos fatos que realmente ocorreram no início do primeiro século, e que formam a base histórica do cristianismo. Baseando-se nesse relato, o cristianismo vem ensinando, desde o seu surgimento, que Jesus é o verdadeiro Deus e verdadeiro homem, que nasceu de uma virgem, que realizou milagres e que ressuscitou fisicamente de entre os mortos. A teologia cristã nunca teve dificuldade séria em admitir a atuação miraculosa de Deus na história, e sempre encarou a mensagem da Igreja apostólica registrada no Novo Testamento (como as cartas de Paulo e os Evangelhos) como sendo o registro acurado dos eventos sobrenaturais que se sucederam na vida de Jesus de Nazaré. Os Concílios cristãos que elaboraram dogmas a respeito da pessoa de Jesus (Nicéia, 325; Constantinopla, 381; Calcedônia, 451), não o fizeram como meras idéias divorciadas da história e de fatos concretos. Para eles, a Segunda Pessoa da Trindade encarnou, viveu, atuou, morreu e ressuscitou dentro da história real.
O Jesus racional
A situação mudou, com o surgimento do Iluminismo no início do século XVIII. A razão humana foi endeusada como capaz de explicar todas as dimensões do universo e da existência do homem. Tudo que não pudesse ser aceito pela razão deveria ser rejeitado. Houve uma "desmistificação" de todos os aspectos da vida e do pensamento. A própria Igreja se viu invadida pelo racionalismo. Muitos estudiosos cristãos se tornaram racionalistas em alguma medida. Como resultado, em muitas universidades e seminários chego-se à conclusão de que milagres realmente não acontecem. Os relatos dos Evangelhos acerca da divindade de Jesus e de sua atividade sobrenatural passaram a ser desacreditados. Era preciso pesquisar para encontrar o verdadeiro Jesus, já que aquele pintado nos Evangelhos nunca poderia ter realmente existido. E assim teve inicio a "busca do Jesus histórico", levada a efeito por professores e eruditos de universidades e seminários cristãos que achavam irracional o Jesus sobrenatural dos Evangelhos.
Eles afirmaram que para reconstruir o verdadeiro Jesus era necessário abandonar os antigos dogmas da Igreja acerca da inspiração e infalibilidade das Escrituras, bem como sobre a divindade de Jesus Cristo. Era preciso usar o critério da razão para separar nos relatos bíblicos a verdade da fantasia. Para isso, desenvolveram vários métodos que analisavam os Evangelhos como qualquer outro livro antigo de religião, procurando descobrir como as idéias fantasiosas acerca de Jesus se originaram nas igrejas cristãs primitivas. Pensavam (ingenuamente) que seria possível examinar a história de forma isenta de preconceitos ou pressuposições. Acreditavam que o historiador era tão inocente quanto um eunuco. Entretanto, quando os resultados apareceram, verificou-se que o Jesus reconstruído por eles tinha a "cara" de seus criadores.
No século XVII alguns desses estudiosos publicaram obras asseverando que os escritores bíblicos eram impostores fraudulentos; estes estudiosos ofereceram suas próprias reconstruções do verdadeiro Jesus de uma perspectiva totalmente humanística. Segundo alguns deles, Jesus fora um judeu que se considerava como o messias de Israel, e que tentara estabelecer um reino terreno e libertar os judeus da opressão política. Ele pensava que Deus o ajudaria nisto, mas desapontou-se ao ser preso e crucificado ("Deus meu, Deus meu, por desamparastes .... ?"). Os discípulos, disseram estes estudiosos, a principio ficaram atônitos com o fracasso de Jesus; mas depois roubaram seu corpo e substituíram a idéia de um reino messiânico terreno pela idéia de uma "segunda vinda". Também inventaram os relatos dos milagres tendo como base os milagres do Antigo Testamento, quando Jesus, na verdade não havia feito milagre algum. O propósito dos discípulos com esse embuste, afirma os racionalistas, fora ter um meio de vida, pois não queriam voltar a trabalhar. Obras desse tipo hoje estão desacreditadas e mesmo estudiosos críticos as consideram como amadorísticas e superficiais. Entretanto, elas deram o impulso inicial à busca do Jesus da história, que para seus empreendedores, não era o mesmo Cristo da fé da Igreja.
No século XVIII apareceram muitas "vidas de Jesus", que eram tentativas de reconstrução novelística do que teria sido a verdadeira vida de Jesus de Nazaré. Nelas, Jesus foi geralmente considerado como um reformador social, um visionário, que pretendia construir uma sociedade melhor através de uma religião associada à razão. Os milagres dos Evangelhos foram explicados apelando-se para causas naturais. As explicações para o surgimento da crença dos discípulos na ressurreição são por vezes curiosas. A mais freqüente é a de que Jesus não havia morrido realmente, mas entrado em coma. Algumas são criativas: uma delas sugere que após a morte de Jesus, um terremoto sacudiu o local onde estava o túmulo de José de Arimatéia, dando a impressão de que o corpo morto de Jesus se movia com vida. Isso explicaria o surgimento da crença na ressurreição de Jesus. Outras, relacionadas às curas, dizem que Jesus nunca curou sem usar remédios. O vinho de Caná havia sido trazido pelo próprio Jesus. Para outros, algumas vezes Jesus atuava no sistema nervoso das pessoas através de seu poder espiritual. Milagres sobre a natureza foram, na verdade, ilusões que os discípulos tiveram acerca de Jesus, como por exemplo, o andar sobre as águas. Os discípulos, afirmam os estudiosos liberais, imaginaram coisas como a transfiguração, entre outras. As ressurreições de mortos foram, na verdade, casos em que pessoas não estavam mortas de fato, mas apenas em estado de coma.
O Jesus liberal
Com a queda do racionalismo e o surgimento do existencialismo, alguns estudiosos procuraram entender Jesus à luz da experiência religiosa. Jesus passou a ser visto como um homem cujo sentido de dependência de Deus havia alcançado a plenitude. Esse conceito serviu de base para o desenvolvimento do seu retrato pintado pelos liberais, em que Ele era simplesmente um homem divinamente inspirado.
No século passado, os estudiosos, em busca do Jesus histórico, começaram a aceitar a idéia do "mito", ou seja, a idéia de que os Evangelhos são relatos mitológicos sobre Cristo, lendas piedosas criadas em torno da figura histórica de Jesus pelos seus discípulos. Assim, firmou-se a idéia de que Jesus não ressuscitou fisicamente. A ressurreição, na verdade, era a crença dos discípulos na presença espiritual de Jesus.
A essa altura, os próprios estudiosos perceberam que a "busca" não os estava levando a lugar algum. Era fácil destruir o Cristo dos Evangelhos, mas eles não conseguiam reconstruir um Jesus histórico que os satisfizesse. As vidas de Jesus reconstruídas pelos pesquisadores diziam mais acerca dos autores do que da pessoa que eles tentavam descrever. Os autores olharam no poço profundo da história em busca de Jesus, e o que viram foi seu próprio reflexo no fundo do poço. Também perceberam que haviam esquecido ou minimizado um importante aspecto da vida e do ensino de Jesus, que foi o escatológico-apocalíptico, proclamando o aspecto ainda futuro do reino de Deus. Essa conscientização desfechou um golpe fatal na concepção liberal de um reino de Deus que se confundia com uma sociedade ética no mundo presente, ou numa experiência espiritual interior, que dominava na época.
Além disso, o estudo crítico dos Evangelhos começou a afirmar que eles (os Evangelhos) não eram biografias no sentido moderno, mas apresentações de Jesus altamente elaboradas e adaptadas por diferentes alas da comunidade cristã nascente. Portanto, era impossível, achar o verdadeiro Jesus, pois ficara soterrado debaixo da maquiagem imposta pela Igreja primitiva. Como conseqüência, alguns começaram a insistir que o centro da fé para a Igreja não era o Jesus da história, mas o Cristo da fé, criado pela igreja nascente. Portanto, a busca estava baseada num erro (que o Jesus histórico era importante) e era teologicamente sem valor. O único Jesus em que os estudiosos deveriam se interessar era o Cristo da fé da igreja, pois foi o único que influenciou a história. Alguns, assim, se tornaram absolutamente cépticos quanto à possibilidade de se recuperar o Jesus histórico.
Tentando "salvar" a busca, esses estudiosos acabaram por piorar a situação. Quando separamos a fé dos fatos históricos, o Cristianismo, despido do seu caráter histórico, e dos fatos que lhe servem de fundamento, torna-se uma filosofia de vida. Uma fé que se apoia num Cristo que não tem nenhum ancoramento histórico toma-se gnosticismo ou docetismo.
Assim, os Evangelhos e o retrato de Jesus que eles nos trazem, passaram a ser vistos como uma elaboração mitológica produzida pela fé da Igreja. Segum seus defensores, foi a imaginação da comunidade que criou as histórias dos milagres e muitos dos ditos de Jesus.
Apesar das diversas tentativas de reconstrução, ao fim chegava-se a um Jesus cuja existência era não apenas implausível, como impossível de ser provada. O Jesus liberal, desprovido do sobrenatural e da divindade, foi uma criação da obstinação liberal, que se recusava a receber como autêntico o relato dos Evangelhos sobre Jesus. A falta de comprovação histórica e documentária quanto ao Jesus liberal acabou por dar fim à "busca".
O Jesus do liberalismo pouco se parecia com o Jesus da concepção histórica da Igreja de Jesus Cristo, como sendo tanto humano quanto divino, as duas naturezas unidas organicamente numa mesma pessoa. O racionalismo eliminou a natureza divina de Cristo e a considerou como produto da Igreja, dissociada do Jesus da história. Jesus era apenas o grande exemplo, e a religião que Ele ensinou era simplesmente um moralismo ético e social.
O Jesus liberal fracassou em todos os sentidos! Ele acabou fundando uma nova religião, mesmo sem querer. Acabou sendo "endeusado" pelos seus discípulos, contra a sua vontade. O seu ensino social e ético de um reino de Deus meramente humano acabou sendo sobrepujado pelo ensino de um reino de Deus sobrenatural, presente e ainda por vir. E sua verdadeira identidade se perdeu logo nos primeiros séculos, para ser "redescoberta" apenas depois de 2.000 anos de ilusões. Que ironia!
O Jesus libertador
Mas a tentativa dos estudiosos que não criam nos relatos miraculosos dos Evangelhos não parou com o fracasso. Em meados da década de 50, outros estudiosos, igualmente céticos, acharam que poderiam acertar onde os antigos liberais falharam, desde que não fossem tão radicais em seu ceticismo quanto aos relatos dos Evangelhos. Alguns discípulos dos teólogos liberais afirmaram que, apesar dos muitos erros nos Evangelhos, havia neles elementos históricos suficientes para se tentar chegar ao Jesus que realmente existiu. Um deles chegou mesmo a questionar: "se a Igreja primitiva era tão desinteressada na história de Jesus, por que os quatro Evangelhos foram escritos?" Os que escreveram os Evangelhos acreditavam seguramente que o Cristo que eles pregavam não era diferente do Jesus terreno, histórico.
Mas, ao fim, esses pesquisadores da "nova busca" pensavam de forma muito semelhante à dos seus antecessores: o Jesus que temos nos Evangelhos não corresponde ao Jesus que viveu em Nazaré há 2.000 anos, o qual pode ser recuperado pelo uso da crítica histórica. Uma coisa todos estes pesquisadores, antigos e novos, tinham cm comum: não criam na divindade plena de Jesus, na sua ressurreição nem nos milagres narrados nos Evangelhos. Para eles, tudo isso havia sido criado pela Igreja. Além disso, eram todos comprometidos com a filosofia existencialista em sua interpretação dos Evangelhos. Os resultados da pesquisa feita individualmente por eles, porém, eram tão divergentes, que a "nova busca" acabou desacreditada em meados da década de 70.
Mas o ceticismo destes estudiosos não deixou a coisa parar por aí. Faz poucos anos, um grupo de 75 estudiosos de diversas orientações religiosas reuniu-se nos Estados Unidos para fundar o "Simpósio de Jesus" (The Jesus Seminar), que os reúne regularmente duas vezes ao ano para levar adiante a "busca pelo verdadeiro Jesus". Suas idéias básicas são fundamentalmente as mesmas dos que empreenderam a "busca" antes deles, ou seja, que o retrato de Jesus que temos nos Evangelhos é uma caricatura altamente produzida, resultado da imaginação criativa da Igreja primitiva. A novidade é que agora incluíram material extrabíblico em suas pesquisas, como o evangelho apócrifo de Tomé, o suposto documento "Q" contendo ditos antigos de Jesus e os Manuscritos do Mar Morto.
A conclusão do simpósio é que somente 18% dos ditos dos Evangelhos atribuídos a Jesus foram realmente pronunciados por Ele. O simpósio, trouxe a público esse resultado de suas pesquisas bastante cépticas quanto á confiabilidade dos Evangelhos, causando grande sensação e furor nos Estados Unidos e na Europa, e reacendendo, em certa medida, o interesse pelo Jesus histórico. E mais uma vez a polêmica acerca de Jesus foi reacendida, desta feita ganhando até a capa de revistas internacionais como Time, Newsweek e U.S. News & World Report, e do Brasil, como Veja e Isto É. Ao final, o Jesus do simpósio é uma mistura de sábio tímido, modesto demais para falar de si mesmo ou de sua missão neste mundo. A pergunta é: como uma pessoa assim conseguiu ganhar o ódio dos judeus e acabar sendo crucificada, um fato que até os antigos liberais radicais reconhecem como histórico?
Várias outras tentativas têm sido feitas cm tempos recentes para se descobrir o Jesus que realmente existiu por detrás daquele que é representado nos textos dos Evangelhos. Ele tem sido retratado diferentemente como profeta e libertador social, simpatizante dos Zelotes e de suas idéias libertárias, reformador social por meio pacíficos e espirituais, pregador itinerante carismático e radical, instigador de um movimento, de reforma, libertador dos pobres, "homem, do Espírito", que tinha visões e revelações e uma profunda intimidade com Deus, de quem recebia poder para curar, fazer milagres e expelir demônios. Um hasid, homem santo da Galiléia, um judeu piedoso, uma figura carismática, um operador de milagres, movendo-se fora do ambiente oficial e tradicional do judaísmo, um exorcista poderoso e bem sucedido - o catálogo é interminável. Mas todas essas tentativas têm uma coisa em comum: para seus autores, o Jesus pintado pelos Evangelhos é o produto da imaginação criativa e piedosa, da fé dos discípulos de Jesus. Os defensores destas idéias partem do conceito de que a Bíblia nos oferece um quadro distorcido do verdadeiro Jesus.
De volta ao Jesus sobrenatural
Entretanto, é preciso mais do que teorias, como estas que acabei de expor, para tornar convincente a tese de que a comunidade cristã inventou tanto material sobre Cristo, e que ela mesma acabou crendo em sua mentira. É quase inconcebível que uma comunidade tenha criado material histórico para dar sustentação histórica à sua fé. Uma comunidade que dá tal importância aos fatos históricos, não os criaria! Além do mais, essas teorias não levam em conta o fato de que os eventos e ditos de Jesus foram testemunhados por pessoas que estiveram com Ele, e que essas testemunhas oculares certamente teriam exercido uma influência conservadora na imaginação criativa da Igreja. Também ignoram o fato de que os líderes iniciais da comunidade os apóstolos, estiveram com Jesus e muito perto dos fatos históricos para dar asas à livre imaginação. Também deixa sem explicação o alto grau de unanimidade que existe entre os Evangelhos. Se cada Evangelho é o produto da imaginação criativa da igreja, como explicar diferenças entre eles? E se é o produto de comunidades isoladas, como explicar as semelhanças? Essas teorias são especulações e nada podem nos dar de evidência concreta. Portanto, continuamos a crer nas evidências internas e externas de que os Evangelho dão testemunho confiável do Jesus histórico, que é o mesmo Cristo da fé. Entretanto, o ceticismo crítico desses estudiosos influenciou de tal maneira os seminários que introduziu na Igreja de Cristo uma semente que produziu seu fruto amargo: um Evangelho e um Cristo, fruto da imaginação da Igreja, e que, portanto não tinham. poder, vitalidade nem respostas para as questões humanas. Resultado: igrejas esvaziadas por toda a Europa, em uma geração.
Queira Deus guardar as igrejas brasileiras dessas pessoas, e firmá-las cada vez mais no Senhor Jesus Cristo, fielmente retratado nas páginas dos Evangelho.
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