segunda-feira, 13 de outubro de 2014

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A QUESTÃO DECISIVA: O QUE A BÍBLIA TEM A DIZER?
por Augustus Nicodemus Lópes Vol. 6, No. 2
Muito embora a perspectiva histórica enriqueça e nos ajude a entender as questões que estão associadas à luta pelo ministério feminino ordenado, a questão decisiva é: o que a Bíblia tem a dizer sobre o assunto? A argumentação em defesa da ordenação feminina, como vimos, freqüentemente emprega argumentos baseados no avanço da civilização, na modernização dos tempos, no progresso humano, na crescente participação da mulher em outras áreas da sociedade, e nem sempre dá a necessária atenção aos textos bíblicos relevantes. Embora em nosso desejo de seguirmos a verdade de Deus devamos levar em conta os tempos em que vivemos, bem como o que nos ensinam ciências correlatas à teologia como a psicologia e a sociologia, por exemplo, ao fim, a questão só poderá ser realmente decidida em termos da Escritura — pelo menos dentro das igrejas que se consideram reformadas, e que aderem confessionalmente à regra dos reformadores: sola scriptura. Nosso propósito neste primeiro caderno bíblico é alistar e examinar, mesmo que brevemente, as passagens do Novo Testamento que não podem ser ignoradas no debate sobre ordenação de mulheres ao oficialato eclesiástico.
Passagens do Novo Testamento Usadas Para Defender a Ordenação de Mulheres
Iniciemos esta parte analisando duas passagens do Novo Testamento usadas pelos defensores da ordenação feminina como evidência de que mulheres devem ser ordenadas para o ministério.
Esta passagem, aclamada pelos feministas como a “Carta Magna da Humanidade”, é, sem dúvida, a mais usada pelos defensores da ordenação feminina:
Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo (Gl 3.28).
A interpretação feminista
A linha feminista interpreta a expressão “todos vós sois um em Cristo Jesus” significando “todos vós sois iguais em Cristo Jesus”. Ou seja, interpreta “um” no sentido de “igual”. De acordo com esta interpretação, a passagem mostra que estão abolidas todas as diferenças na Igreja provocadas por raça, posição social e sexo. Todos são iguais. Com a vinda de Cristo, acabou-se a distinção entre judeus e gentios, entre escravos e livres, e entre homens e mulheres: todos são aceitos na Igreja, inclusive para exercer atividades, como iguais. Em Cristo, defendem os proponentes da ordenação feminina, voltamos ao propósito original de Deus na criação, que foi a plena igualdade entre o homem e a mulher. A subordinação da mulher ao homem, continuam, foi resultado posterior da queda (Gn 3.16b), e não fazia parte da criação de Deus. Cristo veio abolir a maldição imposta pela queda, e nele todas as dimensões da maldição imposta à mulher quedam-se anuladas. Impedir que as mulheres exerçam o oficialato, argumentam, seria introduzir uma distinção na Igreja baseada em sexo, o que contraria frontalmente o ensino de Paulo nesta passagem.
Dificuldades com a interpretação feminista
A interpretação feminista de Gálatas 3.28 esbarra em alguns problemas exegéticos. Primeiro, o do contexto. Paulo escreveu a carta aos gálatas para responder a questões levantadas sobre a doutrina da justificação pela fé em Cristo em face às demandas da lei de Moisés e ao papel da circuncisão, do calendário religioso dos judeus e das suas leis dietárias. No capítulo 3 Paulo está expondo o papel da lei de Moisés dentro da história da salvação, que foi o de servir de aio para nos conduzir a Cristo (Gl 3.23-24). Com a vinda de Cristo, continua o apóstolo, os da fé não mais estão subordinados à lei de Moisés: pelo batismo pertencem a Cristo (3.25-27). A abolição das diferenças mencionadas no versículo em questão (3.28) são em relação à justificação pela fé. Todos, independente da sua raça, cor, posição social e sexo, são recebidos por Deus da mesma maneira: pela fé em Cristo. Portanto, Gálatas 3.28 não está tratando do desempenho de papéis na igreja e na família, mas da nossa posição diante de Deus. O assunto de Paulo não é as funções\pard lang2070 que homens e mulheres desempenham na Igreja de Cristo, mas a posição que todos os que crêem desfrutam diante de Deus, isto é, herdeiros de Abraão e filhos de Deus.
Segundo, Paulo enraíza a subordinação feminina, não somente na queda, mas também – e principalmente – na própria criação (1Co 11.7-10; 1Tm 2.12-15). Quando Paulo argumenta em favor da sujeição da esposa, ele parte, não da teologia da queda, mas da teologia da própria igreja, da relação entre Cristo e sua igreja, como em Efésios 5.22-24.
Terceiro, Paulo não está ensinando nesta passagem — ou em qualquer outra do Novo Testamento — que Cristo já aboliu na presente era, total e plenamente, os efeitos do pecado e os castigos impostos por Deus ao homem e à mulher, quando primeiro pecaram. Há ainda aspectos ou dimensões da era vindoura que aguardam pleno cumprimento, quando Cristo voltar. Por exemplo, Cristo já reina, mas nem tudo está já a ele sujeito (Hb 2.8b); já temos a vida eterna, e já fomos ressuscitados com Cristo, mas ainda não estamos livres da morte imposta por Deus a Adão em Gênesis 3.19 (1Co 15.20-28). A nova criação (cf. 2Co 5.17) já foi inaugurada, mas ainda não vemos a presente criação liberta do cativeiro da corrupção (Rm 8.8-25); Satanás já foi derrotado, conforme prometido em Gênesis 3.15, mas ainda será destruído (Rm 16.20). Os crentes já entraram no descanso de Deus (Hb 4.1-13), mas ainda não estão isentos do trabalho árduo ao qual a humanidade foi submetida após a Queda (Gn 3.17-19). As mulheres cristãs ainda não estão livres dos sofrimentos do parto, por estarem em Cristo, e nem igualmente deveriam esperar isenção da subordinação, a qual foi determinada na criação e reforçada na queda, por serem crentes. A plena redenção destas coisas, e das demais que ainda afligem os cristãos, homens e mulheres, ocorrerão plenamente na parousia, quando o Senhor Jesus trouxer em plenitude o Reino de Deus.
Portanto, não se pode usar Gálatas 3.28 como base para a ordenação feminina sem que se faça violência ao seu contexto original, sem que se ignore o ensino de Paulo sobre o cumprimento ainda vindouro da plenitude das bênçãos de Cristo.
Atos 2.16-18: Pentecostes e as mulheres
Esta passagem é parte do sermão de Pedro, no dia de Pentecostes, onde ele cita uma profecia do Antigo Testamento sobre o futuro derramamento do Espírito Santo (Joel 2.28-29) para explicar o que acabara de acontecer consigo, e com os demais discípulos de Jesus em Jerusalém, quando o Espírito Santo veio sobre eles (At 2.1-4):
E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão (At 2.17-18).
A interpretação feminista
Os defensores da ordenação feminina destacam que Pedro inclui as filhas e as servas, tanto quanto os filhos e servos, na recepção do dom do Espírito Santo. E argumentam que não pode haver qualquer distinção quanto ao serviço a Deus baseada em sexo, já que as mulheres receberam o mesmo Espírito (e certamente, os mesmos dons) que os homens, o qual foi dado para capacitar a Igreja ao serviço.
A argumentação prossegue mostrando que na igreja apostólica as mulheres oravam, profetizavam (cf. At 21.9, as quatro filhas de Filipe que eram profetizas), falavam em línguas, serviam (Rm 16.1, Febe), evangelizavam, tanto quanto os homens. Algumas tinham igrejas reunidas em suas casas (At 12.12). Priscila, por exemplo, chegou a ensinar a Apolo o caminho de Deus com mais exatidão (At 18.26). Pentecostes, argumentam as feministas, é a abolição das distinções de gênero na Igreja, pois ao dar às mulheres o mesmo Espírito que aos homens, Deus mostrou que elas devem ser admitidas aos mesmos níveis de serviço que eles.
As dificuldades com a interpretação feminista
Primeiro, se as mulheres exerceram os mesmos ministérios que os homens no período da Igreja apostólica, por que não há nenhuma menção no Novo Testamento de apóstolas, presbíteras, pastoras, diaconisas ou bispas? Por que não há qualquer recomendação de Paulo quanto à ordenação de mulheres, quando instrui Timóteo e Tito quanto à ordenação de presbíteros? Basta uma leitura superficial das qualificações exigidas por Paulo em 1Timóteo 3.1-7 e Tito 1.5-9 para se ter a impressão de que o apóstolo tinha em mente a ordenação de homens: o oficial deve ser marido de uma só esposa, deve governar bem a sua casa e seus filhos (função do homem, nos escritos de Paulo, cf. Efésios 5.22-24).
Segundo, os fenômenos associados por Pedro ao derramamento do Espírito nos últimos dias, como profecia, sonhos e visões, os quais são ditos que seriam concedidos às mulheres, não estão ligados no Novo Testamento ao presbiterato, pastorado ou diaconato, e portanto, poderiam ocorrer sem que as pessoas envolvidas (homens ou mulheres) fossem ordenadas. Havia profetizas na igreja apostólica, como as quatro filhas de Filipe (At 21.9; cf. 1Co 11.5), mas não lemos que eram presbíteras, pastoras ou diaconisas. Embora não tenhamos registro no Novo Testamento de pessoas, além dos apóstolos, tendo visões ou sonhos em decorrência do derramamento do Espírito, não é impossível que haja acontecido; mas, neste caso, com certeza não estava restrito a pastores e presbíteros. A conclusão é que as manifestações carismáticas mencionadas em Atos 2.17-18 (profecia, sonhos, visões) e estendidas às filhas e servas (mulheres crentes) não exigem a ordenação ao ministério, presbiterato ou diaconato daqueles que as recebem.
Terceiro, a recepção dos dons do Espírito (especialmente os dons relacionados com o ensino) por parte das mulheres cristãs não implica em que elas deverão ser ordenadas pelas igrejas para exercer tais dons. Não se pode demonstrar biblicamente que na igreja apostólica as mulheres dotadas com dons de ensino e liderança foram ordenadas. Embora Paulo reconhecesse que as mulheres poderiam profetizar durante os cultos, tanto quanto os homens, entretanto, impõe-lhes uma participação diferenciada destes no ato de profetizar, determinando que orem e profetizem com a cabeça coberta, expressão cultural de que estavam debaixo de autoridade (1Co 11.3-15).
Quarto, não está claro que no Novo Testamento o acesso ao oficialato era baseado exclusivamente na posse dos dons espirituais ou que pessoas dotadas espiritualmente eram necessariamente ordenadas. Não nos parece ser este sempre o caso. Embora a aptidão para ensinar (dom de ensino/mestre? cf. Rm 12.7; Ef 4.11) e capacidade de governar (1Tm 3.4-5; dom de governo? Rm 12.8) sejam requisitos claros nas duas únicas listas que temos no Novo Testamento das qualificações dos presbíteros e pastores (cf. 1Tm 3.2; Tt 1.9), não há evidências no Novo Testamento de que todos quantos tinham estas capacidades (ou dons) tivessem de ser, necessariamente, ordenados.
A interpretação feminista das duas passagens examinadas acima mostra que as mulheres tiveram papel importante no nascimento e desenvolvimento da Igreja cristã, mas não mostra que elas tiveram de ser
ordenadas para isto. Demonstra que as mulheres cristãs, juntamente com os homens, participam da graça de Deus e dos dons do Espírito, sem restrições. Entretanto, nada tem a dizer sobre ordenação ao ministério.
Passagens do Novo Testamento que Impõem Restrições ao Ministério Feminino
Se as passagens usadas a favor da ordenação de pastoras, presbíteras e diaconisas não provam realmente o ponto, do outro lado temos diversas passagens no Novo Testamento que claramente impõem restrições ao ministério feminino nas igrejas locais.
1 Coríntios 11.3-16
Escrevendo ao crentes de Corinto acerca de questões relacionadas com o culto público, Paulo aborda o problema causado por algumas mulheres que estavam orando, profetizando (e provavelmente falando em línguas) com a cabeça descoberta, isto é, sem o véu contrariando assim o costume das igrejas cristãs primitivas (1Co 11.16). Ao que tudo indica, elas haviam entendido que o Evangelho havia abolido, não somente as diferenças raciais, como também qualquer diferença de função na Igreja entre homens e mulheres crentes. Assim, estavam querendo abolir dos cultos públicos o uso do véu, que na cultura da época era a expressão externa do conceito da subordinação da mulher ao homem. Paulo não lhes nega o direito de participar do culto, mas insiste em que elas devem fazê-lo trajando o véu, expressão cultural do princípio permanente da subordinação feminina. Não usá-lo significava desonra, indecência, vergonha (11.5,6,14). O ensino de Paulo em 1Coríntios 11 é que as mulheres devem participar do culto preservando o sinal de que estão debaixo da autoridade eclesiástica masculina. A implicação é que se as mulheres devem participar do culto debaixo da autoridade eclesiástica masculina, segue-se que não podem exercê-la; e já que o exercício da autoridade eclesiástica é feito através de pessoas ordenadas para os ofícios eclesiásticos, segue-se que as mulheres não podem ser ordenadas a estes ofícios.
Resposta a alguns questionamentos
Examinemos agora alguns questionamentos que geralmente são levantados contra a interpretação tradicional da passagem conforme exposta acima. Nosso alvo é esclarecer as dúvidas e rebater as acusações infundadas.
1. Qual é a relação entre a determinação de Paulo para que as mulheres cristãs usem o véu na Igreja e o assunto de ordenação de mulheres? Uma coisa não tem nada a ver com a outra. – Respondemos que tem tudo a ver. Muito embora o uso do véu seja obviamente um traço da cultura oriental, o ponto central da passagem é aquilo que o véu representava naquela cultura. O apóstolo está preocupado com a questão da autoridade eclesiástica e não com uma peça do vestuário feminino! Ele se refere ao véu como sinal de autoridade. O texto grego original diz literalmente que “a mulher deve trazer autoridade sobre a cabeça” (1Co 11.10), uma referência ao que o véu representava naquela cultura, ou seja que ela tinha a autoridade do homem, seu cabeça, sobre si (Entender a expressão como se referindo à autoridade que a mulher tem é exegese que violenta todo o contexto e o ensino do NT). Em outras palavras, embora Paulo permita que a mulher profetize e ore no culto público, ele requer dela que se apresente de forma a deixar claro que está debaixo de autoridade, no próprio ato de profetizar ou orar. Uma mulher ordenada exerce autoridade eclesiástica sobre a congregação confiada aos seus cuidados, na qual existem homens cristãos. Ela governa e ensina autoritativamente, quer como pastora, quer como oficial da Igreja e membro de concílios. Tal posição contraria frontalmente o ensino de Paulo.
2. O ensino de Paulo sobre o uso do véu está condicionado pela cultura de sua época e não tem mais qualquer aplicação hoje – Respondemos que o uso do véu, obviamente, faz parte de uma outra cultura. Entretanto, o uso do véu representava estar debaixo da autoridade masculina, e isto é um princípio permanente para a mulher cristã de qualquer cultura. Tanto é assim, que a argumentação de Paulo para fundamentar sua orientação se baseia em princípios teológicos e imutáveis. Primeiro, Paulo argumenta a partir da subordinação de Deus Filho a Deus Pai (1Co 11.3-5). O Pai é o cabeça de Cristo que, por sua vez, é o cabeça do homem, e o homem o cabeça da mulher. Segundo, Paulo argumenta com base no relato da criação em Gênesis 2 (1Co 11.8-9). O apóstolo inspirado vê nos detalhes da criação uma determinação divina quanto aos diferentes papéis do homem e da mulher. Não somente a mulher foi criada do homem, como por causa dele. A intenção divina deveria ser refletida no culto público. Ou seja, a mulher deveria participar de forma condizente com sua condição de subordinação.
3. A palavra “cabeça” não significa necessariamente autoridade, mas fonte ou responsabilidade. Paulo está apenas dizendo que Deus formou a mulher a partir do homem – Respondemos que há vários fatos que militam contra a probabilidade de esta interpretação ser a correta: (1) Estudos exaustivos feitos na literatura grega antiga demonstram que “cabeça”, na esmagadora maioria de suas ocorrências, significa “cabeça” e não “fonte”. (2) Na passagem paralela de Efésios 5.22-23 “cabeça” tem claramente o sentido de “ter autoridade sobre”. O mesmo encontramos em Efésios 1.22. É neste sentido que Paulo usa o termo aqui em 1Coríntios 11.3.
Esta é uma outra passagem da pena do apóstolo Paulo que é de relevância para o debate sobre o ministério feminino ordenado, pois nela Paulo impõe algum tipo de restrição à fala das mulheres na Igreja:
Como em todas as igrejas dos santos, conservem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar; mas estejam submissas como também a lei o determina. Se, porém, querem aprender alguma coisa, interroguem, em casa, a seu próprio marido; porque para a mulher é vergonhoso falar na igreja (1Co 14.33b-35).
A questão central relacionada com a passagem é que tipo de restrição Paulo está impondo às mulheres. Essa restrição não parece ser absoluta, ao ponto de reduzir as mulheres ao silêncio total nos cultos, já que ele, em 1Coríntios 11.5, deixa a entender que elas poderiam orar e profetizar durante as reuniões, desde que se apresentassem de forma própria, refletindo que estavam debaixo da autoridade masculina. A interpretação que traz menos problemas é a que defende que Paulo tem em mente um tipo de “fala” pelas mulheres nas igrejas que não implique em uma posição de autoridade eclesiástica sobre os homens crentes. Elas podiam falar nos cultos, mas não de forma a parecer insubmissas, cf. v.34b. No contexto imediato Paulo fala do julgamento dos profetas no culto (v. 29), o que envolveria certamente questionamentos, e mesmo a correção dos profetas por parte da igreja reunida. Paulo está possivelmente proibindo que as mulheres questionem ou ensinem os profetas (certamente haveria homens entre eles) em público. Se elas tivessem dúvidas quanto ao que foi dito por um ou mais profetas, as casadas entre elas deveriam esclarecê-las em casa, com os maridos (se fossem crentes, naturalmente), cf. v. 35. Essa proibição de falarem nas igrejas de forma autoritativamente certamente as exclui do ministério ordenado.
Respostas a alguns questionamentos
Vejamos agora alguns questionamentos levantados em conexão com a interpretação tradicional da passagem, conforme a expusemos acima.
1. Esta passagem onde Paulo determina o silêncio das mulheres nas igrejas não foi escrita por Paulo, mas por um escriba machista, muito tempo depois de Paulo e introduzida no texto bíblico. É uma interpolação e não faz parte do texto inspirado – Respondemos que mesmo existindo alguns problemas textuais em 1Coríntios 14.33-35 (a passagem aparece em lugares diferentes em alguns manuscritos), entretanto, todos os manuscritos gregos de 1Coríntios que temos trazem esta passagem. Quem faz este tipo de questionamento fica devendo a prova do que afirma, ou seja, um manuscrito de 1Coríntios onde falte esta passagem. Como se desconhece a existência deste tal manuscrito até hoje, o questionamento fica no campo das especulações.
2. Paulo simplesmente se contradisse: no capítulo 11 ele havia afirmado que a mulher podia orar e profetizar nos cultos – Respondemos que mesmo que deixássemos de lado a doutrina da inspiração e inerrância das Escrituras, ainda assim seria altamente improvável a hipótese de que um homem inteligente, capaz e arguto como Paulo se contradissesse num assunto tão vital para o culto das igrejas no curto espaço de dois capítulos! Se no capítulo 11 ele permite que as mulheres falem no culto, segue-se que a fala proibida no capítulo 14 deve ser de algum tipo especial. E conforme afirmamos, tratava-se do julgamento dos profetas, nos quais Paulo proíbe as mulheres de participar.
3. Paulo está simplesmente proibindo que as mulheres falem em línguas – Respondemos que se este é o sentido, não é aparente nem natural. Por que Paulo proibiria somente as mulheres de falar em línguas? Note- se ainda que as determinações de Paulo sobre o falar em línguas terminaram em 14.28. Após isto, ele tratou da questão dos profetas em 14.29-33. Não faz sentido que ele esteja retornando implicitamente ao assunto do falar em línguas em 14.34. Os seus leitores certamente não perceberiam isto.
4. Paulo se referia às conversas durante o culto, que atrapalhavam o andamento do serviço divino – Respondemos que este tipo de argumento é realmente machista, porque pressupõe que as mulheres são mais “fofoqueiras” que os homens! Por que Paulo proibiria as conversas das mulheres e não as dos homens?
5. A proibição é simplesmente cultural, pois no Oriente era vergonhoso para a mulher falar na Igreja. Paulo estava querendo evitar motivos de conflitos ou hostilidades sociais que dificultassem o avanço do evangelho em Corinto – A resposta é que a determinação de Paulo está de acordo com o espírito cristão em todas as demais igrejas, 14.33b. Portanto, não é paroquial, apenas para a situação da igreja de Corinto. Está conforme a “lei”, uma referência, não às leis gregas (o termo “lei” nunca é usado no Novo Testamento neste sentido), mas às Escrituras, onde claramente se ensina a submissão da mulher (ver Gn 3.16; Nm 30.3-13). E as igrejas de Corinto não deveriam se insurgir contra o costume das demais igrejas e contra o ensino apostólico, 14.36-38. Elas não eram a “igreja mãe”, de onde a Palavra de Deus havia surgido, 14.36. Seus líderes, os profetas e os “espirituais”, deveriam reconhecer a autoridade apostólica de Paulo e se submeter ao seu ensino sobre este assunto, 14.37-38. Fica evidente que Paulo está estabelecendo um princípio permanente para as igrejas, e não apenas fazendo jurisprudência teológica local por escrúpulos missionários culturais.
1Timóteo 2.11-15
Em sua primeira carta a Timóteo, seu colaborador e filho na fé, encarregado da igreja de Éfeso, Paulo faz as seguintes determinações quanto às mulheres:
A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio. Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não
foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Todavia, será preservada através de sua missão de mãe, se ela permanece em fé, e amor, e santificação, com bom senso. (1Tm 2.11-15)
A interpretação histórica da passagem é que, aqui, o apóstolo Paulo determina que as mulheres crentes de Éfeso aprendam a doutrina cristã em silêncio, submetendo-se à autoridade eclesiástica dos que ensinam — no contexto, homens (v.11). Elas, por sua vez, não tinham permissão para ensinar os homens com esta autoridade, nem exercê-la nas igrejas sobre eles, mas deviam submeter-se em silêncio (v.12). A causa apresentada pelo apóstolo é dupla: Deus primeiro formou o homem, e depois a mulher (v.13). E ela foi iludida por Satanás e pecou (v. 14). A inferência óbvia é que as mulheres não podem ser ordenadas ao ministério, pois assim estariam contrariando frontalmente o que Paulo aqui determina, visto que a ordenação ao ministério investiria a mulher com autoridade eclesiástica para governar e ensinar homens. Nas Cartas Pastorais, ensinar sempre tem o sentido restrito de instrução doutrinária autoritativa, feita com o peso da autoridade oficial dos pastores e presbíteros (1Tm 4.11; 6.2; 5.17).
Notemos, porém, que Paulo não está proibindo todo e qualquer tipo de ensino feito por mulheres nas igrejas. Profetizas na igreja apostólica certamente tinham algo a dizer aos homens durante os cultos. Para o apóstolo, a questão é o exercício de autoridade sobre homens, e não o ensino. O ministério didático feminino, exercido com o múnus da autoridade que o ofício empresta, seria uma violação dos princípios que Paulo percebe na criação e na queda.
Respostas a alguns questionamentos
Existem questionamentos levantados contra a interpretação tradicional da passagem, conforme a expusemos acima. Vamos procurar respondê-los, como se segue.
1. Se Paulo está proibindo as mulheres de ensinar, por que Priscila ensinou Apolo (At 18.24-26), e havia profetizas nas igrejas cristãs primitivas? Respondemos que ensinar, no Novo Testamento, é uma atividade bem ampla. O próprio apóstolo determina que as mulheres idosas ensinem as mais novas a amarem seus maridos (Tt 2.3-5). Assim, fica claro que Paulo não está passando uma proibição geral. O ensinar que Paulo não permite é aquele em que a mulher assume uma posição de autoridade eclesiástica sobre o homem. Isso se torna evidente pelo fato de que Paulo fundamenta seu ensino nas diferenças com que homem e mulher foram criados (v. 13), e pela frase “autoridade de homem” (v. 12b).
2. A determinação de Paulo é apenas para que as mulheres não ensinem os maridos, visto que as palavras usadas por Paulo para homem e mulher nesta passagem podem ser traduzidas como esposa e marido – Respondemos que esta última tradução é improvável. O contexto e a maneira de Paulo construir suas frases apontam na outra direção. Se Paulo desejasse referir-se a maridos, teria usado um artigo definido ou um pronome possessivo antes de “homem”. Neste caso, a frase ficaria assim: “Não permito que a mulher ensine, nem que exerça autoridade sobre seu marido”, como fez em Efésios 5.22; cf. Cl 3.18. Além disto, o contexto claramente trata de homem e mulher genericamente, cf. 1Tm 2.8-9.
3. A crítica moderna já provou que 1Timóteo não foi escrita por Paulo, mas por um discípulo dele, no século II, com tendências machistas – Respondemos que a crítica moderna não tem apresentado resultados tão seguros assim. Não temos espaço neste Caderno para expor os argumentos dos estudiosos conservadores em favor da genuinidade de 1Timóteo.Podemos apenas dizer que os argumentos apresentados contra a autoria paulina não são convincentes a ponto de abandonarmos o que a Igreja vem aceitando há séculos. As diferenças de estilo, o vocabulário distinto e as ênfases doutrinárias únicas de 1Timóteo podem, e têm sido, explicadas convenientemente de outros modos, que não negando a autoria de Paulo. Portanto, não devemos rejeitar as implicações de 1Timóteo 2.11-15 para o debate com base na hipótese de estudiosos liberais quanto à autenticidade da carta.
4. Se o próprio Paulo ensina que não há mais condenação para os que estão em Cristo (Rm 8.1), por que as mulheres crentes ainda têm de trazer sobre si a culpa do pecado de Eva? – Respondemos que nenhuma mulher cristã leva mais a culpa do pecado de Eva (o mesmo foi pago pelo Senhor Jesus), mas sim as conseqüências do pecado dela. Estas conseqüências são mais do que a submissão ao marido: incluem também dores de parto e a própria morte (Gn 3.16 e 19), que serão removidas somente na ressurreição dos mortos. Além do mais, a submissão da mulher não foi estabelecida somente após a queda, mas já na própria criação do homem e da mulher, conforme já vimos abundantemente acima.
Conclusões
A nossa análise das passagens mais usadas para defender a ordenação de mulheres ao ministério demonstrou que elas não dão suporte às pretensões do programa feminista embora, certamente, nos ensinem que devemos encorajar e defender o ministério feminino não ordenado em nossas igrejas. Por outro lado, nossa análise das principais passagens usadas como evidência de que Deus não intentou que as mulheres cristãs ministrassem nas igrejas aos homens, de uma posição de autoridade, quer ensinando-os ou governando-os, mostrou que a interpretação tradicional destas passagens encaixa-se nos seus contextos, honra a aplicabilidade dos princípios bíblicos para nossos dias, e responde satisfatoriamente às objeções.

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