Texto base: Hebreus
12.1-3.
Portanto, também nós, visto que temos a
rodear-nos tão grande nuvem de
testemunhas, desembaraçando-nos
de todo peso e do pecado que tenazmente
nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos
está proposta, olhando firmemente
para o autor e consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe
estava proposta, suportou a cruz,
não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus. Considerai, pois, atentamente, aquele
que suportou tamanha oposição dos
pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando em vossa
alma.
Introdução
Muita discussão se tem
levantado sobre a carta aos Hebreus, uma delas, diz respeito à sua autoria. Keener, em seu comentário
Histórico-Cultural do novo testamento, afirma:
“Na
companhia de Lucas-Atos e de algumas “cartas gerais”, o texto de Hebreus exibe
o estilo grego mais sofisticado do novo testamento; seu autor provavelmente
tinha formação retórica e habilidades literárias sofisticadas”.[1]
Os biblicistas não sabem ao certo quem foi o autor da Epístola aos
Hebreus. Martinho Lutero sugeriu que
o autor era Apolo. Ele baseou-se em Atos 18.24-28, onde Apolo é mencionado
como um judeu instruído, helênico, de Alexandria, no Egito. Tertuliano (escrevendo em 150-230 d.
C.) disse que a Epístola aos Hebreus era de autoria de Barnabé. Adolf Harnack e J.
Rendel Harris especularam que ela foi escrita por Priscila (ou Prisca). William Ramsey sugeriu que o autor fora
Felipe. Contudo, a posição
tradicional é de que o apóstolo Paulo
escreveu esta Epístola.
Objetivo
O objetivo da Epístola era assegurar aos Cristãos judeus de que sua fé
em Jesus, como o Messias, era correta e legítima. Além disso, a Epístola também
pretendia prepara-los para o eminente desastre, a destruição de Jerusalém por
Roma.
Exposição
1) “Portanto, também nós, visto que temos a
rodear-nos tão grande nuvem de
testemunhas,”.
·
O autor usa uma conjunção conclusiva para dar continuidade aquilo que deve ser o
clímax de sua fala. No capítulo anterior, ele elabora uma lista com os nomes
dos chamados heróis da fé, uma galeria formada por indivíduos que seguramente
encontraram oposição superior ao enfrentado pelos leitores da carta. A
conclusão dele então é a seguinte: tendo em vista os obstáculos enfrentados
pelos heróis da fé, vendo a promessa de longe, foram féis ao propósito e
cumpriram a carreira. Daí a metáfora de estar rodeado por uma grande nuvem de
testemunhas, a ideia é um estádio lotado de testemunhas, uma multidão.
·
Metaforicamente, os heróis, agora, formam
uma plateia que assiste a maratona.
2) “desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente
nos assedia, corramos,”.
·
Imaginemo-nos em uma competição, quais os
vestuários devemos utilizar para que possamos ter melhor desenvoltura,
velocidade, menos desgaste físico? Quais treinamentos devemos ter para que
possamos vencer? Qual a melhor alimentação?
A
ideia é propriamente essa, que nos dispamos, nos livremos, abandonemos, tudo
que pode nos impedir de chegar à final.
·
Pecado-
Simon
J. kistemaker, comentando a carta diz: “...Um
obstáculo em si mesmo não é um pecado,
mas porque retarda um competidor, pode-se tornar um pecado. O pecado
embaraça, assim como uma túnica que chega aos pés embaraçaria um corredor nos
tempos antigos. Livre-se desses obstáculos, diz o autor de Hebreus”.[2]
Ou
seja, é bem provável que os desvios apareçam na nossa caminhada cristã,
contudo, o desvio por si só não é pecado, mas o desvio sendo alimentado se
torna pecado.
3) “corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta”.
·
Segundo Simon J. kistemaker, o autor
parece ecoar 2 Timóteo 4.7- “Combati o
bom combate, completei a carreira, guardei a fé” - no fim de sua carreira
quando apóstolo sabia que sua morte estava próxima.
·
O imperativo está acompanhado de – “com perseverança”
- upomonh-hipomoné- é a
capacidade de suportar circunstâncias difíceis, ao que tudo indica, levando em
conta o contexto que os circundava (provavelmente perseguição, tanto por parte
dos judaizantes, quanto por parte dos romanos), é compreensivo o conselho para
que perseverem.
·
O percurso da corrida obviamente foi
proposto por Deus, fomos vocacionados.
4)
“olhando firmemente para o autor e consumador da fé, Jesus,”.
·
Nossa carreira deve ser perseverante,
contudo, nossa perseverança só pode ser possível, se olharmos para Cristo. O
atleta vê de longe a linha de chegada, seus olhos contemplam só o destino que
lhe aguarda, nada, absolutamente nada pode tirar sua atenção do alvo. É
precisamente por este motivo, o alvo seguro a sua frente, que ele não desanima
diante das dificuldades.
·
Cristo é o alvo. Ele é o autor e
consumador da fé.
Simon
J. kistemaker, observa que: o autor não colocou Jesus entre os heróis da fé,
Ele é o autor da salvação (2.10). Podemos traçar um paralelo com a afirmação de
Paulo aos Filipenses (1.6)- “que começou boa obra em vós há
de
completá-la até ao Dia de Cristo Jesus”.
5)
“o
qual, em troca da alegria que lhe
estava proposta, suportou a cruz,
não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus. Considerai, pois, atentamente, aquele
que suportou tamanha oposição dos
pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando em vossa
alma”.
·
Sobre o significado de “a alegria que lhe
estava proposta”, Simon J. kistemaker, apresenta duas possibilidades interpretativas:
I.
A primeira proposta é entender que
Cristo troca a alegria celeste pelo sofrimento terreno.
II.
A segunda, entende que Cristo
suportou o sofrimento, por causa da alegria que haveria de ter após sua morte e
ressurreição.
Contextualmente, a segunda
opção parece ser a correta. Se formarmos um paralelo entre esta afirmação e
textos com Isaias (53.4-6), chegaremos a conclusão de que, “Deus destinou o caminho de sofrimento para Jesus e depois encheu-o de
alegria, Salmo (16.11) ;Atos(2.28)”.[3]
·
Jesus, não fez caso da vergonha, suportou
o fardo de ser condenado a pena mais vergonhosa de sua época. Os judeus que
exigiram à pena de Cristo sabiam o que Deus havia falado sobre os que eram
condenados à morte de cruz, “o que for pendurado no madeiro é maldito de
Deus (Dt 21.23; veja também G1 3.13)”.
·
Por fim, o escritor os instrui a
considerar Cristo, não só considerar, mas que considerem Cristo com atenção. A
ideia parece apontar para que eles refletissem com atenção em toda oposição
enfrentada por Cristo, como Ele foi obediente mesmo diante da aposição. Se
Cristo que é o autor da nossa fé, passou por oposição, e vencendo, confirma
também nossa vitória por meio do Seu próprio mérito, não iriamos sucumbir
diante das dificuldades.
Aplicação
1. Em
nossa caminhada Cristã, iremos passar por dificuldades.
·
“desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia,”. Lembro-me
de uma obra de “John Bunyan, O Peregrino”, onde ele conta a história de um
homem chamado Cristão. Esse homem vive a aflição de carregar um fardo
pesadíssimo nas costas. Quantos de nós, estamos a tanto tempo trilhando este
caminho, e mesmo depois de tanto tempo, continuamos a carregar vícios, pecados,
dúvidas, tantas coisas que nos fazem perder o foco? Quantas vezes retrocedemos,
olhamos para trás e desviamos nossos olhos de Cristo?
2. Enquanto
vivermos um cristianismo superficial, jamais olharemos atentos para Cristo. Ele
nunca será o nosso alvo, nossa linha de chegada, enquanto não nos despirmos das
nossas paixões.
·
Certamente somos assediados por nossas
paixões mundanas, devemos seguir o exemplo dos heróis da fé, eles somente
concluíram a carreira, porque tinham seus olhos focados no salvador.
3. Assim
como Cristo, devemos suportar as aflições desta vida.
·
Ele nos deu motivos para ter esperança,
somo vocacionados por Ele, ou seja, fomo chamados.
·
Por este motivo, não devemos temer as
perseguições.
4. Para
concluir, retorno a história do “Peregrino”, só teremos real descanso, quando
focarmos em Cristo, Sua obra, e lançarmos sobre Ele nossas preocupações.
·
Aqueles crentes estavam passando por uma
terrível perseguição, o peregrino teve em seu caminho vários empecilhos que o
fizeram até mesmo sair por um breve tempo do caminho. No fim da história ele
encontra descanso quando ao focar no caminho da retidão, encontra-se com a cruz
de Cristo e deixa a seus pés o fardo tão pesado que lhe seguia nos lombos.
Que o Senhor pois nos abençoe!
[1]
Keener, Craig S., Comentário Histórico-Cultural da Bíblia, Novo Testamento-
Vida Nova. P.756.
[2]
Kistemaker Simon, Comentário de Hebreus, p. 514, Cultura Cristã.