O
Batismo
Introdução
Antes de
prosseguirmos nossa abordagem a respeito do batismo, é necessário que
entendamos o significado do nome. Calvino define batismo da seguinte forma:
“Batismo é uma marca do nosso cristianismo e o sinal pelo qual somos recebidos
na sociedade da igreja, para que enxertados em Cristo sejamos contados entre
seus filhos”.
O grande teólogo de
Princeton, Charles Hodge, por sua vez, define batismo da seguinte forma:
“Batismo é um sacramento no qual o lavar com água em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo significa e sela nossa união com Cristo, a participação das
bênçãos do pacto da graça e a promessa de pertencermos ao Senhor”.
O Batismo de João
e o Batismo cristão.
Para esclarecer alguma
possível dúvida que possa surgir em nós quanto algumas ambigüidades presentes
nesses batismos, quero afirmar que não há nada de dessemelhante neles. Todos
batizam em nome de Cristo de quem procede a remissão dos pecados. João disse
que Cristo era o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo Jo1.28-29; através
de seu sacrifício, Deus aceitou Sua justiça, ou melhor a propiciação de justiça
sendo Cristo o autor da nossa salvação.
Não há diferenciação de
significado entre o batismo de João e o de Cristo. Como disse J. Calvino: “Se
alguém busca na Palavra de Deus uma diferença entre o batismo de um e o de
outro, a única que encontrará é que João batizava em nome de alguém que viria,
e os apóstolos, em alguém que já veio”. Lc3.16; At19.4.
Trecho da exposição do Rev. Nelson Gonçalves
de Abreu
O Batismo: Uma novidade?
Talvez muitos cristãos imaginem que os judeus não
conheciam nem praticavam nada semelhante ao que é descrito em Marcos 1.4...
“apareceu João Batista no deserto[5], pregando batismo de arrependimento.”
Será que João Batista introduziu um rito
completamente novo, desconhecido aos judeus? Vemos que o NT não explica o
ritual do batismo, dando a entender que os judeus não necessitavam de
explicações. Isso porque o batismo não foi uma cerimônia introduzida por Jesus,
João ou os apóstolos, mas era uma prática comum entre os judeus desde
os primórdios de sua organização como povo. Estes batismos eram feitos
usando-se a água ou outro elemento, como o sangue.
Vejamos alguns textos:
“Quando voltam da praça, não correm sem se
aspergirem (no original grego “batizarem”); e há muitas outras cousas que
receberam para observar, como a lavagem (“batismo”) de copos, jarros de metal e
camas. (Mc 7.4)
“O fariseu, porém, admirou-se ao ver que Jesus não
se lavara (batizara) primeiro, antes de comer. (Lc 11.38)
Também Eclesiático[6] 34.25 diz: “Ao que se lava
(batiza) depois de haver tocado um corpo morto, e torna a tocá-lo outra vez, de
que lhe valerá o ter-se lavado?”
Todas estas passagens dão a entender que os
batismos eram cerimônias comuns:
... não comem sem se batizarem...
... cousas que receberam para guardar, como o
batismo de copos...
... ao que se batiza depois de haver tocado um
cadáver...
Não falamos ainda sobre o modo como se batizavam. O
fato é que se batizavam e que os batismos eram fato normal entre eles,
independentemente da disputa acerca do significado da palavra.
Note que estes “batismos” não são invenção humana.
O autor de Hebreus fala de “diversas abluções (no original “diversos batismos”) impostas até
ao tempo oportuno de reforma.” (9.10; ver tb Hb 6.2). Impostos quando
e onde? Com certeza, na Lei de Moisés, que prescrevia minuciosamente as
“oferendas e sacrifícios, embora (...) ineficazes para aperfeiçoar aquele que
presta culto”. (Hb 9.9).
Portanto, quando Jesus veio, encontrou o povo
praticando esses diversos batismos (o deles mesmos, dos copos,
das camas, etc) como uma prática cotidiana. Insistimos em que se note a forma
normal e familiar do NT tratar a matéria. João aparece batizando no deserto,
porém não há surpresas; não se dão explicações. Ele veio pregando o batismo “de
arrependimento”. Nova era a doutrina que pregava, não a cerimônia que
praticava. De fato, a cerimônia era algo que o povo esperava ver o Messias
realizar, bem como todo profeta verdadeiro. Por isso, quando João lhes disse
que ele não era o Cristo, nem Elias, nem o profeta, a pergunta imediata que lhe
fizeram foi: “Por que, pois, batizas?”[7] dando a entender, claramente, duas
coisas:
a) que os profetas tinham o costume de batizar;
b) que esperavam que o Messias fizesse o mesmo na
sua vinda.
Quando o próprio Senhor foi a João, embora não
necessitasse de arrependimento ou purificação, disse a ele “... convém que
cumpramos toda a justiça.” Justiça aqui significa “aquilo que a Lei exige”.
Estas palavras contêm o princípio geral pela qual o Senhor se conduzia --
obedecer a todas as ordenanças da Lei de Moisés, pois foram instituídas por
Deus. Portanto, os batismos eram cerimônias eminentemente religiosas ‘impostos’
pela Lei.
Os
batismos dos judeus não eram feitos por imersão
A
esta altura poderíamos pedir, àqueles que acham a forma essencial, que
demonstrem que os batismos que os judeus praticavam eram sempre por
imersão. Levando-se em conta os seus princípios exclusivistas (“nós estamos
certos, eles errados”), são necessariamente obrigados a
fazê-lo.
Porém,
tentaremos demonstrar uma proposição negativa. Tais batismos nunca eram
feitos por imersão.
a)
a imersão não está estabelecida
Apesar
de aqueles diversos batismos serem “impostos” ao povo como qualquer outra parte
do ritual judaico, em lugar algum da Lei de Moisés se estabelece a imersão. Não
se pode dar um só exemplo de que se exigisse do judeu a imersão em água em
cumprimento a uma cerimônia religiosa.
Se
não se pode provar a imersão, se não existe um mandamento, como poderíamos
concluir que “era assim”, e mais, que “quem não faz assim” está errado!
b)
Os batismos eram por aspersão ou efusão
Não
vemos a imersão em nenhum lugar do AT, mas a Lei Mosaica ordena expressamente o
modo destes batismos:
“Assim
lhes farás para os purificar: asperge sobre eles água da
purificação ....” (Nm 8.7);
“Eleazar,
o sacerdote, tomará do sangue com o dedo e dele aspergirá para
a frente da tenda da congregação ... (Nm 19:18).[8]
Vemos,
pois, que na Antiga Aliança o modo de purificação estava claramente ordenado.
Supor que se batizavam ou purificavam por imersão é supor que agiam sem
mandamento, ou pior, contra o mandamento. Os batismos judaicos
eram “impostos” (Hb 9:10) pela Lei. Eram simples purificações, como os textos
demonstram e o modo era a aspersão, nunca a imersão.
c)
As aspersões e efusões são chamados batismos.
Mostramos
que a aspersão era ordenada e praticada e a imersão era desconhecida. Além
disso, a tradução grega dos escritos judaicos refere-se a este método de
purificação por aspersão usando a palavra “batizar”. Preste atenção: Esta
palavra que, tantas e tantas vezes e em tanta confiança nos dizem significar
submergir — e nada além disso —, se aplica a estas aspersões judaicas. A
tradução grega de Eclesiástico 34:25 diz:
“Aquele
que se batiza depois de haver tocado num corpo morto, e torna
a tocá-lo, de que lhe valerá a ter-se lavado?”
Já
vimos que o modo como se realizava este batismo por haver alguém tocado num
corpo morto, está claramente ordenado na Lei de Moisés:
“Todo
aquele que tocar o cadáver de qualquer pessoa e não se purificar, contaminou o
Tabernáculo do Senhor, e essa pessoa será cortada de Israel; porquanto a água
da purificação não foi aspergida sobre ele, [por isso] imundo
será, e a sua imundícia será sobre ele” (Nm 19:13).8
Portanto, vemos que o NT utilizou uma palavra que já era usada há pelo menos
200 anos para designar estas cerimônias. Se a palavra batizar era
usada, por centenas de anos, para indicar a aspersão, por que
ensinar que no tempo do Senhor e de João Batista os judeus realizavam seus
batismos de outro modo?
Muito
antes da vinda de Jesus já se havia lido que aspergir-se por causa dos mortos
era como batizar-se por eles [9]. Dizer que o método era a imersão é ir contra
toda a evidência, visto que a aspersão aparece ensinada universalmente no AT.
d) “batizar” equivale a “lavar”.
Por
exemplo Mt. 15:2 - “Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos
anciãos? Pois não lavam as mãos quando comem. Comparado com Lc 11:38 “O
fariseu, porém, admirou-se ao ver que Jesus não se lavara (no
grego: batizara) primeiro, antes de comer”.
Aquele
se batiza por haver tocado num corpo morto, e torna a tocar
nele, de que se valerá o ter-se lavado? Portanto lavar e batizar podem
ser usadas para descrever a mesma ação.
e) O batismo judeu era um rito cotidiano.
Os
judeus não só se “batizavam” antes das refeições, ou “batizavam” as mãos antes
de comer, mas batizavam-se também por causa de outras impurezas, como, por
exemplo, quando se contaminavam, tocando um corpo morto. O mesmo faziam com as
mesas e camas. Note que estes batismos de mãos antes das refeições não eram
feitos com motivações higiênicas conforme fazemos atualmente. Era o cumprimento
de um ritual religioso.
Se
tudo isso era feito por imersão, cada família deveria ter um lugar apropriado.
Neste caso o batistério seria um lugar essencial de cada casa judaica. Porém,
não há evidência histórica ou bíblica que houvesse tal lugar em alguma casa,
quer rica, quer pobre.
Não
sendo necessária a imersão, deveria, então, existir alguma coisa para cumprir
seus rituais de outra forma.
De
fato, o NT se refere a vasilhas com capacidade para conter de 80 a 100 litros,
pequenas demais para se imergir alguém, mas grandes o suficiente para se
meterem as mãos nelas com o propósito de se retirar água usada para aspergir ou
derramar sobre pessoas ou objetos. São as talhas de pedra mencionadas nas Bodas
de Caná da Galiléia, “que os judeus usavam para as purificações.” (Jo 2.6)
f) O livro de Hebreus confirma os batismos por aspersão ou efusão
O
livro de Hebreus (9.10) faz menção às “diversas abluções (batismos) impostas”
ao povo. Já vimos que a Lei de Moisés não ordena a imersão, portanto estes
“batismos impostos não podiam ser realizados dessa forma.
Também,
pelo contexto imediato, fica claro que eram batismos “com o sangue de bodes,
touros e as cinzas de uma novilha aspergidos sobre os contaminados” (9.13).
O
autor de Hebreus contrasta o culto judaico com a dispensação cristã. No primeiro
havia regulamentos com respeito a comidas e bebidas, e diversos batismos e
ordenanças acerca da carne. O sangue dos animais ou as cinzas de uma novilha
misturadas à água, aspergidos sobre os imundos cerimonialmente os santificavam
quanto à purificação da carne. Na dispensação cristã, o sangue de Cristo é
eficaz. No primeiro, “Moisés (...) tomou o sangue dos bezerros e dos bodes, com
água, lã e escarlate e aspergiu o livro da Lei e o povo, além do tabernáculo e
seus utensílios” (Hb 9.19,21).
Sem
discussão, estes são os “diversos batismos” a que se refere o v.10.
E
sempre por aspersão!
g) A figura do Batismo com o Espírito Santo favorece a efusão ou aspersão
Observe
a linguagem bíblica empregada em relação a este tema.
“Porque
João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito
Santo.” (At 1.15).
No capítulo seguinte a promessa se cumpre e Pedro explica o acontecido ao povo
usando a profecia de Joel: “e acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do
meu Espírito sobre toda a carne... até sobre os meus servos e sobre as minhas
servas derramarei do meu Espírito.”
Vemos
assim, sem discussão que a ação de Deus derramar o seu
Espírito sobre os discípulos é chamada de batismo com o Espírito Santo.
Temos aqui, indiscutivelmente um batismo por efusão, um batismo no mais elevado
sentido da palavra. E já que o próprio Espírito o representou como umderramamento e
o chamou de batismo nas Escrituras que Ele mesmo inspirou, por
que querer impor uma forma diversa? Por que afirmar, contra
toda evidência, que a imersão é a única forma correta? Quando, em imediata
relação com o derramamento do Espírito, se menciona o batismo
com água de cerca de três mil pessoas, não é duvidoso, para dizer o mínimo, que
estas pessoas tenham sido metidas na água ao invés de se aplicar água sobre
elas? O mais sublime batismo, o do Espírito Santo -- do qual o outro é um tipo --
é por efusão. Será o tipo administrado de um modo totalmente
diferente?
h)
Esperava-se que o Messias batizasse, e a forma esperada era a aspersão
Já
vimos que os judeus esperavam que o Messias batizasse.
“Por
que batizas, se não és o Cristo...?” foi a pergunta que fizeram a João Batista
(Jo. 1.25). Qual a origem desta expectativa? Tentarei explicar. Referindo-se ao
Messias, o texto de Isaías 52.15 diz:
“Assim
causará admiração às nações...” (Edição Revista e Atualizada).
Até 1960, porém, em lugar de “causar admiração” o verbo hebraico “nazah” era
traduzido por aspergirá. A profecia seria, então, “ele aspergirá a
muitas nações.” “A nova tradução, mui discutível, funda-se mais em razões exegéticas
que filológicas.”
De
fato, a Edição Contemporânea da Bíblia traz:
“...assim borrifará a
muitas nações.”
Em uma visão da Nova Aliança, o profeta Ezequiel assim escreve: “então, aspergirei água
pura sobre vós e ficareis purificados” (v. 25).
A
esta promessa seguem-se as promessas da concessão de um novo espírito e coração
(v.26) e de que o Espírito faria morada dentro do homem (v.27) para fazê-lo
obedecer à Lei. Veja também Jr 31.31-33.
Reconhecemos,
então, que os profetas utilizaram um ritual de purificação, por eles conhecido,
como um símbolo da real purificação que o Messias realizaria no impuro coração
humano. Os tradutores da Bíblia viva corretamente parafraseiam Is. 52:15 da
seguinte forma: “... com seu sofrimento ele purificará a muitas nações.”
O
Messias “aspergirá a muitas nações ....”.
“Aspergirei água
pura sobre vós ....”
“Por que batizas, se não és
o Cristo (...) ?”
Mais
uma vez, nenhum indício de imersão e uma forte evidência em favor da aspersão.
i) A simplicidade dos batismos no NT.
Cremos
já ter estabelecido solidamente o fato de que, se havemos de invalidar o
batismo de alguém por causa da maneira como foi aplicado, não será o daqueles
que foram batizados por aspersão. Se o leitor tiver um pouco mais de paciência
poderemos ainda nos deter no exame dos batismos descritos no NT.
Uma
evidência em favor da aspersão no NT é o fato de que as pessoas eram batizadas
imediatamente, no lugar em que se convertiam, quer fosse na cidade, quer no
deserto; numa casa ou em uma estrada; na prisão ou à margem de um rio; no
inverno ou no verão. Não havia demora, não há referência alguma à saída para um
lugar adequado para a imersão.
Quando
alguém cria, no mesmo instante e no mesmo lugar havia sempre o necessário para
ser batizado. Por isso, é muito difícil crer que fosse assim, se se praticasse
a imersão. Pode-se supor, sim, mas é uma suposição altamente improvável. Vejamos
alguns exemplos:
Paulo (At 9). Após sua queda e cegueira no caminho
de Damasco, Paulo permaneceu três dias em jejum na casa de Judas. Ananias,
guiado por Deus, entra na casa e, após breve instrução, batiza Paulo. Diz o
texto: “a seguir, levantou-se e foi batizado”.
Havia
um tanque na casa? foram a outro lugar? O texto não diz. A única “prova” seria
o pretendido significado de “batizar”. Todas as circunstâncias são contra a
imersão: na mesma casa, em pé, sem demora para preparar-se, sem sair nem entrar,
pondo-se imediatamente a serviço de Cristo.
O
carcereiro de Filipos (At 16). Convertido na prisão a
altas horas da noite e, lá mesmo, imediatamente batizado junto com os seus.
Foram a algum rio em plena noite? Havia um tanque na prisão? Quantas dificuldades
o texto apresenta se partirmos do pressuposto de que batizar significa imergir,
e nada mais. Por outro lado, quão simples se torna o relato, se se leva em
conta que, para o povo judeu, era coisa natural o batizar-se por aspersão ou
efusão.
Cornélio
e sua casa (At 10). Sobre este episódio, se
diz que o “Espírito Santo caiu sobre todos os que ouviam a
palavra. “Admiraram-se, porque também sobre os gentios foi derramado o dom do
“Espírito Santo”. “Quando comecei a falar, caiu o Espírito
Santo sobre eles, como também sobre nós, no
princípio. Então me lembrei da palavra do Senhor quando disse:
João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito
Santo (At 10.44; 11:15-16).
“Porventura
pode alguém recusar a água, para que não sejam batizados estes que, assim
como nós, receberam o dom do Espírito Santo?” (At 10:47). Pedro batizou
estas pessoas por imersão? De um lado somente uma suposição contra toda
evidência. De outro porém, além da forte impressão que Cornélio foi batizado em
sua própria casa, há o registro de que o “derramamento” do Espírito fez Pedro
pensar que os termos batizar, derramar e cair— aplicados ao
Espírito Santo — implicavam uma idéia semelhante à água.
Filipe
e o eunuco (At 8:26-39). Comumente este é um
texto julgado claramente em favor da imersão. Em sua viagem, o etíope lia
Isaías 53; provavelmente ele tinha acabado de ler o último versículo do
capítulo 52 “ele aspergirá muitas nações”. Filipe lhe explicou a passagem e,
quando chegaram a um lugar onde havia água, desceram a ela e Filipe batizou o
eunuco. Por imersão? Mesmo entendendo o texto como uma entrada real na água,
nem por isso fica demonstrada a imersão. Leve-se em conta que as sandálias
podiam ser facilmente tiradas, e que isto estaria de acordo com os costumes
orientais e que, depois de descerem à água, Filipe lhe administrou o rito do
batismo por aspersão ou efusão. Por outro lado, é muito duvidoso que no lugar
deserto onde se encontravam houvesse uma corrente de água com profundidade
suficiente para submergir o eunuco.
Tudo
indica que não esperaram para obter roupas próprias para o batismo e não é
provável que o viajante se submergisse com a roupa que trazia ao corpo. O texto
diz simplesmente que, após o batismo o eunuco “foi seguindo seu caminho cheio
de júbilo”. Diz o texto, também, que Filipe foi “arrebatado pelo Espírito do
Senhor” para Azoto. Não podemos presumir que o Eunuco seguiu viagem pingando
água e Filipe achou-se repentinamente em Azoto com as roupas encharcadas.
Os
três mil de Atos 2 (vv 37-41). No mesmo dia em que
os discípulos foram batizados do alto pelo derramamento do Espírito sobre eles,
mais três mil almas foram acrescentadas à Igreja. Foram submergidos estes
convertidos? Para responder que sim, só se pode dar como prova o pretenso
significado da palavra batismo, o qual já descartamos. Nada mais no texto pode
sugerir a submersão. Porém, para negá-la, amontoa-se uma série de
circunstâncias: Não havia lugar para realizar essa forma de batismo, nem no
templo, nem nos arredores onde estavam reunidos. Quem sabe foram em procissão
até a porta dos ovelhas onde havia um tanque, pediram licença à multidão de
enfermos que lá jazia (Jo 5:1-3) e passaram horas e horas, provavelmente até
tarde da noite, submergindo três mil pessoas.
Será
que naquele dia Jerusalém presenciou multidões de pessoas andando pelas ruas, a
caminho de suas casas com as roupas gotejando, encharcadas, coladas a seus
corpos?
Todos
esses obstáculos, mais o fato de o batismo do Espírito Santo
ter sido descrito como um derramamento, na realidade se opõe fortemente à idéia
da imersão, ao passo que se harmoniza perfeitamente com a aspersão ou efusão.
Para esta última forma de batismo havia tempo suficiente; o lugar onde estavam
era adequado, não era preciso uma muda de roupa e ninguém necessitou voltar
molhado para casa. Não há, portanto, contradição entre o batismo do Espírito e
o da água. A palavra batizar se emprega em ambos os casos, com
o mesmo sentido, pois tanto a água como o Espírito são derramados sobre as
pessoas.
Uma
palavra final
Um
estimado amigo batista contou-me a seguinte história:
“Em
Z....um lugar árido da África, um missionário estava obtendo uma boa quantidade
de convertidos. Porém a água era pouca e preciosa. O que fazer? O missionário,
então, cavou um buraco no chão, cobriu-o com um oleado e comprou, de um
fornecedor, vários galões água a 20 dólares o galão! Com o tempo, o aguadeiro
passou a gradativamente aumentar o preço do galão. Quando o missionário
reclamou, o homem replicou. “Há tanta areia aqui, por que você não batiza com
ela? Se você se dá ao luxo dessa extravagância, é porque tem condições de pagar
por ela.”
Volta
e meia surge um novo pregador no rádio, denunciando coisas que não tem nenhuma
importância. Movem céus e terra para falar do “erro” daqueles que não tem, na
igreja, a cerimônia do lava-pés, tão claramente ordenada por Jesus. Todas as
igrejas estão erradas, menos a do pregador, que restaurou a ordenança. Há
aquelas igrejas que usam pão fermentado na ceia -- o fermento é símbolo do
pecado! Que dizer daqueles que constróem batistérios, quando não há nenhuma
referência a eles nas Escrituras? Que grande pecado cometem as igrejas que não
tem costume de se saudar com o ósculo santo! E aqueles que não se cumprimentam
com “a paz do Senhor”? Quantas árvores teriam que ser transformadas em papel
para tratarmos de tão importantes questões!
Pretendemos
ter provado solidamente que a forma “correta” do batismo é a aspersão. Mas que
importância tem isso? Talvez alguma, se, ao menos, tornar mais maleáveis gente
como aquele missionário de Z... que deveria usar a água para matar a sede
daquelas pessoas -- misericórdia quero e não holocaustos!
Que
nosso Senhor, na sua volta, não encontre seus filhos, como crianças (para não
usar outra palavra), a contender a respeito dos mosquitos e engolindo os
camelos.
Glória
somente a Deus.
Trecho da exposição de Túlio
César Costa Leite