segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Doutrinas da Graça-EXPIAÇÃO LIMITADA

EXPIAÇÃO LIMITADA



Autor: Sandro Francisco do Nascimento.

Nenhum deles, de modo algum, pode remir a seu irmão ou dar a Deus o resgate dele pois a redenção da sua alma é caríssima, e seus recursos se esgotariam antes; Sl 48.7-8.

Definição- É a doutrina calvinista que afirma que Cristo Jesus em seu perfeito amor, entregou-se a si mesmo em lugar daqueles a quem o Pai escolheu desde antes da fundação do universo. Seu sacrifício foi totalmente eficaz para aqueles a quem Deus escolheu, ou seja, estes que foram substituídos por Cristo na cruz tiveram seus pecados e todas as penas eternas eficazmente canceladas.
Concordamos que o sacrifício de Cristo tem poder para salvar toda humanidade, porém a luz da bíblia entendemos que este não é o plano de Deus. Aprouve ao Criador eleger aqueles a quem ele desejou salvar e não nos é apresentado nenhum motivo ou explicação do por quê? A parte que nos cabe como criaturas é nos sujeitarmos a sua Grandeza e reconhecermos nossa pequenez.
Para que possamos compreender esta doutrina é necessário focarmos em alguns pontos:
1.      Os planos ou decretos de Deus.
2.      O sacrifício de Cristo e suas implicações.
3.      Algumas passagens problemáticas.

1.      Sobre os decretos de Deus           


Confissão de fé Westminster
CAPÍTULO III
DOS ETERNOS DECRETOS DE DEUS[1]

VI. Assim como Deus destinou os eleitos para a glória, assim também, pelo eterno e mui livre propósito da sua vontade, preordenou todos os meios conducentes a esse fim; os que, portanto, são eleitos, achando-se caídos em Adão, são remidos por Cristo, são eficazmente chamados para a fé em Cristo pelo seu Espírito, que opera no tempo devido, são justificados, adotados, santificados e guardados pelo seu poder por meio da fé salvadora. Além dos eleitos não há nenhum outro que seja remido por Cristo, eficazmente chamado, justificado, adotado, santificado e salvo.
Partindo da premissa da soberania de Deus, podemos afirmar que seus decretos jamais podem em sentido algum ser frustrados. Todo decreto de Deus, toda sua vontade há de ser sempre concretizada.
Então respondeu Jó ao Senhor: Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado. Jó 42.2.
O Senhor frustra os desígnios das nações e anula os intentos dos povos. O conselho do Senhor dura para sempre; os desígnios do seu coração, por todas as gerações. Sl 33.10-11.

Respondeu-lhes José: Não temais; acaso, estou eu em lugar de Deus? Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida. Gn 50.19-20.

Durante toda a história Deus tem dirigido tudo quanto acontece, nada lhe escapa o controle. De fato, por sermos limitados e inconstantes, não conseguimos entender a soberana vontade de Deus. Porém é claro na escritura que Deus ordena e controla a história de uma forma que nem seus planos podem ser frustrados, nem a criatura é violentada uma vez que o homem age segundo sua inclinação natural.
    
                                                           Confissão de fé Westminster
CAPÍTULO III
DOS ETERNOS DECRETOS DE DEUS

                       I. Desde toda a eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo conselho da sua própria vontade, ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece, porém de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou contingência das causas secundárias, antes estabelecidas.
Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do
conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos,
e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu
a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro?
 Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser
restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas
as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém! Rm 11.33-36.
A fé reformada entende então que, ainda que não tenhamos a capacidade plena para entender a soberania de Deus, Ele é, e sempre será dominador e seus planos não falham. Sendo assim, se Deus intentasse salvar toda a humanidade, todos os homens seriam salvos.
Este ponto é de suma importância para podermos compreender a extensão do sacrifício de Cristo, uma vez que a eficácia deste não é para proporcionar, mas por providencia do Pai este sacrifício assegura a redenção daqueles que são beneficiados.

2.      O sacrifício de Cristo e suas implicações.

Expiação- O perdão dos pecados daqueles que se arrependem deles e os confessam, acompanhados de reconciliação com Deus, através do SACRIFÍCIO de uma vítima inocente. No AT a vitima era um animal, figura e símbolo do Cristo crucificado (Lv 1-7; Hb 9.19-28).[2]
 É a satisfação oferecida à justiça divina por meio da morte de Cristo pelos nossos pecados, em virtude do qual todos os que creem em Cristo são pessoalmente reconciliados com Deus, livrados de toda a pena dos seus pecados e feitos merecedores da vida eterna; Castigo ou sofrimento de pena, imposto ao delinquente, como uma compensação do delito praticado; penitência; reparação;
Expiar- Purificar-se de crimes ou pecados.[3]
Vigário- Aquele que faz às vezes de outro.

Estas definições feitas acima nos ajudarão a compreender a natureza do sacrifício de Cristo. Veremos agora como esses termos de fato se aplicam.
Devido o abrangente significado do sacrifício de Cristo iremos nos concentrar em alguns pontos que são de suma importância para compreendermos sua eficácia, nos desprendendo de uma visão mais romântica idealizada e até evidente na palavra de Deus, mas que não esgota todo significado da morte expiatória do cordeiro de Deus.

1.      Cristo morreu em lugar de pecadores.

A.     O conceito de expiação vicária- A ideia de “expiação vicária” ou de “substituição penal” significa simplesmente que Cristo sofreu como nosso substituto, ou seja, em nosso lugar.
Deus em seu amor interferiu na situação de miséria do homem, e providenciou para si a satisfação da ofensa sofrida. Deus em Cristo pagou a si mesmo pela ofensa feita a Ele pelo homem.
O homem por sua própria força jamais conseguiria satisfazer a ira de Deus, pois seus sacrifícios são finitos como sua própria natureza, mas Cristo sendo Deus pagou de uma vez por todas a nota promissória que era contra seus eleitos.

Abaixo veremos algumas diferenças entre o sacrifício vicário e o sacrifício pessoal:

Expiação pessoal
Expiação Vicária
Oferecida pelo ofensor
Oferecida pelo ofendido
Uma questão apenas de Justiça
Uma combinação de justiça com amor
Nunca terminada
Um sacrifício completo

B.     Evidências da expiação vicária- A bíblia ensina claramente que o sacrifício de Cristo não foi por uma questão de empatia, ele de fato substituiu aqueles por quem ele se entregou.
No AT, nos preparativos para os sacrifícios exigiam que aquele que ia oferecer o sacrifício impusesse as mãos sobre o animal a ser sacrificado. Isso tinha um significado, a ideia era de transmissão, ou seja, aquele animal iria morrer de fato em lugar daquele que o oferecia pagando assim por suas transgressões.
Esse sistema ensina claramente que ali havia uma substituição.


Evidenciamos esta verdade também no uso da preposição anti (anti), o significado básico desta preposição é expressar confronto, oposição ou dois objetos colocados um contra o outro, sendo um tomando o lugar do outro, como uma troca.[4] Esta preposição ocorre 22 vezes no novo testamento.

Pois o próprio filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por (anti-em lugar de) muitos. Mc 10.45.

Tendo, porém, ouvido que Arquelau reinava na Judéia em lugar de (anti-em lugar de) seu pai Herodes, temeu ir para lá; e, por Divina advertência prevenido em sonho, retirou-se para as regiões da Galiléia.

Podemos observar nos dois textos que há por parte dos tradutores uma incoerência com respeito à tradução correta da preposição anti, isto se deve pelo fato de se tentar enfraquecer a verdade de que o sacrifício de Cristo não foi a fim de talvez tornar possível a salvação, mas de eficazmente assegura-la. Se Cristo morreu em lugar de, como afirma a palavra de Deus, ele substituiu, recebeu em si e sobre si, a punição que deveria ser aplicada sobre aqueles por quem ele morreu. Logo sua expiação não pode ser por todo o mundo uma vez que todo mundo seria eficazmente salvo.
Isso nos leva a um questionamento muito sério: Todos serão salvos, ou podemos ver claramente que varias pessoas estão indo para o inferno? A resposta é óbvia! Muitos estão condenados à morte eterna. Ou seja, se o intuito de Cristo fosse morrer em lugar de todos, logo chegaremos a duas conclusões: Ou todos serão salvos independentemente de receber a Cristo como salvador, ou, Cristo falhou e seu sacrifício foi ineficaz, causando assim a frustração dos planos eternos de Deus.

No grego clássico, a preposição anti sempre tem o significado de “em lugar de”, e não possui significados mais amplos como, por exemplo, “em beneficio de”.

Na septuaginta, entre as 318 ocorrências de anti, não há exemplos do significado mais amplo “em beneficio de”. De maneira uniforme, significava “em lugar de”.
Outras referências: Mt 20.28; Mc 10.45; Mt 2.22; Mt 5.38; Lc 11.11.

Há ainda uma preposição traduzida de forma a enfatizar a expiação vicária, a preposição uper ( hyper). No seu original, esta preposição significa: acima, sobre e em prol de. A ideia incluía ficar em cima de alguém para protegê-lo.
No grego clássico tanto a ideia de substituição quanto de beneficio são evidentes.

Vejamos alguns textos do NT:

E, tomando o pão, e havendo dado graças, partiu-o, e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que por vós (uper, hyper) é dado; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, tomou o cálice, depois da ceia, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue, que é derramado por vós. Lc 22:19,20.


Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios. Porque apenas alguém morrerá por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.
Romanos 5:6-8.
Outras referências: Jo 15.13; Rm 8.32; 2Co 5.14-15; 2Co 5.20-21; Gl 3.13.

2.      Justiça de Deus.

A palavra justiça pode significar três coisas:

a.       Retidão.
b.      Retribuição.
c.       Pagamento.

Retidão- O homem justo é um homem reto, que é íntegro, não se desvia, santo.

Se Deus é justo, isso significa dizer que Deus é Santo.

 Porque a palavra do Senhor é reta, e todas as suas obras são fiéis.
Sl 33.4.

Retribuição- É a punição daqueles que são transgressores.

Este ponto diz respeito à ira de Deus sobre os transgressores da sua lei.

Ele ama a justiça e o juízo; a terra está cheia da bondade do Senhor.
Sl 33.5

Pagamento- A satisfação da divida por meio de pagamento legal.

Ato Soberano de Deus de providenciar a satisfação de sua própria ira em lugar do homem.

Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue.
Atos 20.28.

Inferência Lógica.[5]

1)      Da eficácia dos decretos de Deus. Os decretos de Deus são imutáveis, eternos, soberanos e eficazes. Os propósitos eternos de Deus não podem ser frustrados pelas contingencias temporais. O propósito daquele “em quem não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tg 1.17).


Que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade. Isaias 46.10.

2)      Das demais doutrinas calvinistas. Se o homem esta totalmente depravado por causa da queda; se, consequentemente, somente os eleitos de Deus são alcançados pela redenção que há em Cristo, e se a graça de Deus é irresistível, parece lógico concluir que Cristo morreu pelos eleitos e não por todos. Se Cristo houvesse morrido por todos, das duas opções, só uma poderia ser verdadeira: ou a expiação foi deficiente, ou todos seriam salvos.

3)      Da presciência de Deus. Se Deus conhece todas as coisas, não faria sentido ele pretender que Cristo morresse por aqueles a quem sabia que (ou melhor, determinou) que se perderiam, visto que não os elegeu.

4)      Da justiça de Deus. Se Deus é justo, como a bíblia inquestionavelmente revela, e se a justiça de Deus exige a expiação com vistas à concessão do perdão, então, se muitas pessoas pelas quais Cristo morreu viessem a ser condenadas, haveria dupla punição pelo pecado: uma aplicada a Cristo e outra a eles mesmos, que seriam condenados. Isto seria absurdo e estaria em oposição flagrante à revelação bíblica.

5)      Da natureza da obra de Cristo. A salvação que Cristo nos dá é descrita com termos que necessariamente indicam ter ele morrido apenas pelos que são efetivamente salvos. Quando as escrituras afirmam que Cristo morreu pelos nossos pecados, isso significa que ele se ofereceu na qualidade de substituto nosso.

“Deus prova seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores”.  Rm 5.8.

A partir do sacrifício de Cristo em nosso lugar, fomos feitos propícios a Deus, o Deus justo agora vê em nós a Justiça de Cristo Jesus.
“Fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho”. Rm 5.10 .


1.      Algumas passagens problemáticas.


Alguns grupos que negam a expiação limitada recorrem a alguns versículos que dizem ter Cristo morrido por todo o mundo. No entanto esta aparente contradição se resolve ao se olhar o contexto imediato em que estes versículos se encontram.
É importante lembrar que a palavra mundo abrange vários significados e seu significado deve ser então determinado pelo contexto. A palavra mundo pode ter pelo menos cinco significados diferentes nas escrituras:

                                i.            O universo material.

“Nos escolheu nele antes da fundação do mundo” Ef. 1.4.

                              ii.            O mundo como um sistema corrompido.
“Longe de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo esta crucificado para mim, e eu para o mundo” Gl 6.14.

                            iii.            A condição humana.

“O meu reino não é deste mundo (isto é, humano)”. Jo 18.36.

                            iv.            O reino de Satanás.

“Ai vem o príncipe do mundo; e ele nada tem em mim”. Jo 14.30.

                              v.            Os habitantes do mundo.

Este último ponto, no entanto ainda pode variar também dependendo do contexto.
Naqueles dias foi publicado um decreto de Cesar Augusto, convocando toda a população do império (todo mundo) para recensear-se. Lc 2.1.

A palavra mundo no novo testamento é muito usada para designar pessoas de toda tribo, raça e língua, ou seja, de forma genérica para se dizer que a graça não é exclusiva dos judeus, mas que Deus salva também aos gentios.

Como exemplo irei abordar a passagem bíblica mais comumente usada pelos arminianos para tentar provar que Cristo morreu por todos: João 3.16.

Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.

Verso 17- Porque Deus enviou seu Filho ao mundo não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.

Pergunto: Todas as pessoas do mundo serão salvas? É evidente que não, o mundo aqui não são todas as pessoas do mundo. O que João afirma é que Deus amou o kosmoj (mundo, criação) e que por isso enviou seu Filho para redimir a criação. Isso só ocorrerá quando Deus cumprir seu propósito nos seus eleitos.

Porque a ardente expectação da Criatura espera a manifestação dos filhos de Deus. Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Rm 8.19-21.

Conclusão

A doutrina calvinista da eleição e da expiação limitada não pode servir de desculpa para a não evangelização. O Senhor Deus que elege seus escolhidos, também providencia a forma pela qual eles serão alcançados (pela pregação do evangelho), convencidos (pelo Espírito Santo) e justificados (pelo sacrifício expiatório de Cristo). A doutrina da eleição deve ser para os crentes um consolo, pois sabemos que aquele que em nós começou a boa obra a de concluí-la.

A Deus honra, gloria e louvor eternamente. Amém!










[1] CONFISSÃO DE FÉ WESTMINSTER, COMENTADA POR A.A. HODGE, PÁG-106.
[2] Dicionário da bíblia Almeida, 2° Edição, pág 69.
[3] O.S. Boyer, Pequena Enciclopédia Bíblica, pág 258.
[4] Teologia Básica, Charles C. Ryrie, pág 165.
[5] Calvinismo, As Antigas Doutrinas da Graça, Ver Paulo Anglada, pág 69,70.

sábado, 6 de agosto de 2016

Confissão de Fé Westminster

CAPÍTULO X
DA VOCAÇÃO EFICAZ


Seção III. – As crianças eleitas, morrendo na infância, são regeneradas e salvas por Cristo através do Espírito, o qual opera quando, onde e como lhe apraz. Assim também se dá com todas as demais pessoas eleitas que são incapazes de ser exteriormente chamadas pelo ministério da palavra.



Confissão de Fé Westminster

CAPÍTULO X
DA VOCAÇÃO EFICAZ


Seção I. – Todos aqueles a quem Deus predestinou para a vida, e somente esses, aprouve ele, no tempo determinado e aceito, chamar eficazmente, por sua palavra e por seu Espírito, daquele estado de pecado e de morte, em que estão por natureza, à graça e salvação por meio de Jesus Cristo; iluminando suas mentes espiritual e salvificamente para entenderem as coisas de Deus; removendo seus corações de pedra e dando-lhes um coração de carne;renovando sua vontade e, por seu infinito poder, determinando-lhes o que é bom, e eficazmente atraindo-os a Jesus Cristo; mas de tal forma que eles vêm mui livremente, sendo para isso dispostos por sua graça.


sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Breve Catecismo de Westminster



Pergunta 1: Qual o fim principal do homem?
Resposta: O fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre.

Referências Bíblicas: 1Co 10.31; Sl 73.24-26; Jo 17.22,24.

terça-feira, 19 de julho de 2016

Confissão de Fé Westminster

CAPÍTULO X
DA VOCAÇÃO EFICAZ


Seção II. – Esta vocação eficaz provém unicamente da livre e especial graça de Deus e não de coisa alguma prevista no homem; nesta vocação ele é totalmente passivo, até que, vivificado e renovado pelo Espírito Santo, seja desse modo capacitado a responder a esta vocação e a abraçar a graça oferecida e comunicada nela.



segunda-feira, 11 de julho de 2016

PREGAÇÃO EXPOSITIVA-Tema: Eleição incondicional.



Autor: Sandro Francisco do Nascimento
Texto Base: Efésios 1:4-11.


Introdução

Em 1618 foi convocado um Sínodo nacional para reunir-se em Dort, a fim de examinar os pontos de vista de Armínio à luz das Escrituras. Essa convocação foi feita pelos Estados Gerais da Holanda para o dia 13 de novembro de 1618. Constou de 84 membros e 18 representantes seculares. Entre esses estavam 27 delegados da Alemanha, Suíça, Inglaterra e de outros países da Europa. Durante os sete meses de duração do Sínodo houve 154 sessões para tratar desses artigos. Após um exame minucioso e detalhado de cada ponto, feito pelos maiores teólogos da época, representando a maioria das Igrejas Reformadas da Europa, o Sínodo concluiu que, à luz do ensino claro das Escrituras, esses artigos tinham que ser rejeitados como não bíblicos. Isso foi feito por unanimidade. Não somente isso, mas o Concílio impôs censura eclesiástica aos “remonstrantes”, - depondoos de seus cargos, e a autoridade civil (governo) os baniu do país por cerca de seis anos.
Além de rejeitar os cinco artigos de fé dos arminianos, o Sínodo formulou o ensino bíblico a respeito desse assunto na forma de cinco capítulos que têm sido, desde então, conhecidos como “os cinco pontos do Calvinismo”, pelo fato de Calvino ter sido grande defensor e expositor desse assunto. Embora cause estranheza a muitos essa posição, devido à mudança teológica que as igrejas têm sofrido desde vários séculos, os reformadores eram unânimes em condenar o arminianismo como uma heresia ou quase isso. A salvação era vista como uma obra da graça de Deus, do começo ao fim, sem qualquer contribuição do homem. Essa posição pode ser resumida na seguinte proposição: Deus salva pecadores[1].

Os cinco pontos do calvinismo demonstram de forma sistematizada as verdades reveladas na palavra de Deus sobre a posição do homem diante de Deus. Minha proposta nesta exposição é demonstrar o 2° ponto que é a Eleição incondicional.

Uma breve definição sobre este ponto:

Deus em sua soberana vontade elegeu pecadores, mortos em delitos e pecados, não por qualquer obra prevista, mas somente pelo beneplácito de sua própria vontade.

Para compreendermos corretamente este ponto é necessário que nos lembremos e entendamos corretamente o primeiro ponto: “Depravação total”.

Apesar da expressão “total”, normalmente oque se entende por depravação total é um equivoco por parte de algumas pessoas. Quando falamos em depravação total estamos dizendo que o pecado afetou o homem em toda sua extensão, ou seja, não há uma única parte do homem que não tenha sido tocada pelo pecado. A queda afetou o homem de tal modo que o mesmo é incapaz de por sua própria força se decidir a Deus.

Veja o que o Eterno fala:

E o Senhor sentiu o suave cheiro, e o Senhor disse em seu coração: Não tornarei mais a amaldiçoar a terra por causa do homem; porque a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice, nem tornarei mais a ferir todo o vivente, como fiz. Gn 8:21.

João Calvino escreveu a respeito da mente humana:

A mente humana é como um depósito de idolatria e superstição; de modo que, se o homem confiar na sua própria mente, é certo que ele abandonará a Deus e inventará um ídolo, segundo sua própria razão.

Analisando o texto bíblico não é difícil chegar à conclusão de Calvino. A partir do pecado todo homem passou a ser inimigo de Deus.

 Paulo diz:

Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. Rm 3:10-12.

Esta é a posição que se encontra todo homem a não ser que Deus o cure de sua seguira. Um fato que se deve ter atenção é que o homem não é somente sujo, mas também está morto.
No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não tinham pecado à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir. Rm 5:14.

Visto a real posição do homem diante de Deus, isso nos leva a seguinte pergunta: Há no homem algo que o faça merecer o favor de Deus? A resposta é clara e sonora: NÃO!

Baseado nesta verdade o calvinismo defende que pela palavra de Deus é evidente que o homem não pode fazer nada para merecer o favor de Deus. Sua posição de rebelião total contra Deus o fez perder a comunhão que desfrutava com o Soberano Deus.

Sendo, pois o homem incapaz de buscar sua salvação, estando cego, surdo e obstinado pelo erro, precisa da obra Soberana de Deus para que possa desfrutar da salvação.
Por este motivo as escrituras demonstram que Deus em sua soberania elegeu pecadores para salvar demonstrando assim seu amor.

Esta eleição não se baseia na fé prevista.

O calvinismo sustenta que o pré-conhecimento de Deus esta baseado no seu propósito ou no seu próprio plano. Resulta da livre vontade do criador (Deus) e independe do ser humano, o qual está espiritualmente morto.

Irei expor agora o texto sagrado que se encontra na carta de Paulo aos Efésios 1:4-11.

Creio termos neste texto evidencias da eleição incondicional.

Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença. Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da sua vontade, para o louvor da sua gloriosa graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado. Nele temos a redenção por meio de seu sangue, o perdão dos pecados, de acordo com as riquezas da graça de Deus, a qual ele derramou sobre nós com toda a sabedoria e entendimento. E nos revelou o mistério da sua vontade, de acordo com o seu bom propósito que ele estabeleceu em Cristo, isto é, de fazer convergir em Cristo todas às coisas, celestiais ou terrenas, na dispensação da plenitude dos tempos. Nele fomos também escolhidos, tendo sido predestinados conforme o plano daquele que faz todas as coisas segundo o propósito da sua vontade,


Ø  Nos elegeu Nele: Deus nos elegeu não baseado nas nossas obras, mas unicamente representados pelas obras de Cristo. Isto pode ser reafirmado no Cap. 2:8-10.

Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie. Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.

Ø  O tempo em que houve esta eleição é exposto como: “Antes da fundação do mundo”. A palavra aqui traduzida por “mundo” é bem mais abrangente, é a mesma palavra usada em João 3:16. Nos dois textos a palavra grega usada é ko,smoj, que é melhor traduzida como universo, toda a criação. Paulo esta dizendo que a eleição ocorreu em um momento fora da história onde só a Majestade Divina esta presente. Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo sendo um, elegeu pecadores para a salvação antes que o tempo existisse.

                      Assim, os céus, a terra, e todo o seu exército foram acabados.
                                                                                                                               Gn 2:1.

O primeiro ponto a ser entendido é que Deus escolheu seus eleitos antes da fundação do mundo.  Certamente este tempo que se faz presente no texto como antes da fundação do mundo é um lugar no tempo que não podemos demarcar, sendo Deus Eterno e não sujeito as questões temporais sua decisão em escolher seus eleitos não estão sujeitas a qualquer ação externa que o tenha influenciado em sua escolha. Podemos ver esta mesma expressão em Apocalipse 17:8.

 A besta que você viu, era e já não é. Ela está para subir do abismo e caminha para a perdição. Os habitantes da terra, cujos nomes não foram escritos no livro da vida desde a criação do mundo, ficarão admirados quando virem a besta, porque ela era, agora não é, e entretanto virá.

Apocalipse 17:8


Ø  O motivo desta eleição é colocado não como visto no homem por Deus, mas um propósito de Deus para o homem. Deus nos elegeu não por sermos santos, mas “para sermos santos e irrepreensíveis”. Esta afirmação de Paulo mostra claramente que Deus não foi influenciado por qualquer obra vinda do homem.

Ø  O que determinou então a decisão de Deus? Isso fica claro nas palavras de Paulo nos demais versículos:

“segundo a boa determinação de sua vontade”
“Gratuitamente no Amado”
“O mistério da sua vontade”
“Predestinados conforme o propósito Daquele que faz todas as coisas segundo o propósito da sua vontade”


Ø  Para que Deus elegeu pecadores?

“Para o louvor da sua Glória”.
Esta expressão ocorre quatro vezes no 1° capitulo. Isto demonstra qual a centralidade da mensagem, Paulo firma aqui a base da eleição como sendo para a glória de Deus.


Condicional ou incondicional?

O texto já citado, de Efésios 1, responde essa pergunta de modo suficientemente claro. Paulo não declara nesse capítulo que Deus escolheu os seus eleitos antes da fundação do mundo porque fossem santos ou fiéis, e sim para serem santos e fiéis. A seguir, ele é ainda mais explicito ao afirmar que os predestinou em “em amor” (a motivação da predestinação), “segundo o beneplácito da sua vontade”. Como se não fosse suficiente, o apostolo afirma ainda, no verso 11, que os crentes foram “predestinados segundo o conselho daquele que faz todas as cousas conforme o conselho da sua vontade”.

Quem escolhe?

Em toda a escritura podemos ver claramente que Deus escolhe aqueles a quem deseja salvar.

Não foste vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros, e vos designei para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça.
João 15:16.[2]

Em Romanos 8:28, Paulo demonstra que aqueles que Deus chamou segundo seu proposito, esses é que amam a Deus. Não são chamados por amarem a Deus, mas amam a Deus por terem sido chamados.

Quem vem a Cristo?

Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de maneira nenhuma o  lançarei fora... E a vontade daquele que me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressussitarei no úçtimo dia (Jo 6:37-39). Ninguem poderá  vir a mim, se pelo pai não lhe for concedido (Jo 6:65). Não falo a respeito de todos vós, pois eu conheço aqueles que escolhi (Jo 13:18).


Aplicação

·         Somos carentes da graça de Deus.
·         Não somos merecedores do favor de Deus.
·         Todos os homens longe da graça se encontram mortos em delitos e pecados, escravos do pecado e do diabo, inimigos de Deus, amantes da imundícia do mundo e condenados ao fogo eterno.
·         Deus elegeu pecadores.
·         Deus elegeu pelo propósito da sua vontade.
·         Nos fez justificados em Cristo Jesus.
·         Nos elegeu para as boas obras, para sermos santos e irrepreensíveis Nele (Cristo) em amor.
·         Sua escolha foi efetuada na eternidade.
·         O motivo principal dessa sua misericórdia é o louvor da sua Glória.
·         Por este motivo devemos ser gratos pelo seu imenso amor e cumprir todo seu querer, sendo submissos a sua majestade.













Que o Senhor aplique sua palavra em nossas vidas.



[1] (Tradução livre e adaptada do livro The Five Points of Calvinism - Defined, Defended,
Documented, de David N. Steele e Curtis C. Thomas, Partes I e II, [Presbyterian &
Reformed Publishing Co, Phillipsburg, NJ, USA.], feita por João Alves dos Santos)
[2] Calvinismo, As Antigas Doutrinas da Graça (Paulo Anglada).