Autor: Sandro Francisco
do Nascimento
Introdução
Em 1618 foi
convocado um Sínodo nacional para reunir-se em Dort, a fim de examinar os
pontos de vista de Armínio à luz das Escrituras. Essa convocação foi feita
pelos Estados Gerais da Holanda para o dia 13 de novembro de 1618. Constou de
84 membros e 18 representantes seculares. Entre esses estavam 27 delegados da
Alemanha, Suíça, Inglaterra e de outros países da Europa. Durante os sete meses
de duração do Sínodo houve 154 sessões para tratar desses artigos. Após um
exame minucioso e detalhado de cada ponto, feito pelos maiores teólogos da
época, representando a maioria das Igrejas Reformadas da Europa, o Sínodo
concluiu que, à luz do ensino claro das Escrituras, esses artigos tinham que
ser rejeitados como não bíblicos. Isso foi feito por unanimidade. Não somente
isso, mas o Concílio impôs censura eclesiástica aos “remonstrantes”, -
depondoos de seus cargos, e a autoridade civil (governo) os baniu do país por
cerca de seis anos.
Além de rejeitar
os cinco artigos de fé dos arminianos, o Sínodo formulou o ensino bíblico a
respeito desse assunto na forma de cinco capítulos que têm sido, desde então,
conhecidos como “os cinco pontos do Calvinismo”, pelo fato de Calvino ter sido
grande defensor e expositor desse assunto. Embora cause estranheza a muitos
essa posição, devido à mudança teológica que as igrejas têm sofrido desde
vários séculos, os reformadores eram unânimes em condenar o arminianismo como
uma heresia ou quase isso. A salvação era vista como uma obra da graça de Deus,
do começo ao fim, sem qualquer contribuição do homem. Essa posição pode ser
resumida na seguinte proposição: Deus salva pecadores[1].
Os cinco pontos
do calvinismo demonstram de forma sistematizada as verdades reveladas na
palavra de Deus sobre a posição do homem diante de Deus. Minha proposta nesta
exposição é demonstrar o 2° ponto que é a Eleição incondicional.
Uma breve definição sobre este ponto:
Deus em sua
soberana vontade elegeu pecadores, mortos em delitos e pecados, não por
qualquer obra prevista, mas somente pelo beneplácito de sua própria vontade.
Para compreendermos
corretamente este ponto é necessário que nos lembremos e entendamos
corretamente o primeiro ponto: “Depravação total”.
Apesar
da expressão “total”, normalmente oque se entende por depravação total é um
equivoco por parte de algumas pessoas. Quando falamos em depravação total
estamos dizendo que o pecado afetou o homem em toda sua extensão, ou seja, não
há uma única parte do homem que não tenha sido tocada pelo pecado. A queda
afetou o homem de tal modo que o mesmo é incapaz de por sua própria força se
decidir a Deus.
Veja
o que o Eterno fala:
E o Senhor sentiu o suave cheiro, e o Senhor disse
em seu coração: Não tornarei mais a amaldiçoar a terra por causa do homem; porque
a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice, nem
tornarei mais a ferir todo o vivente, como fiz. Gn 8:21.
João
Calvino escreveu a respeito da mente humana:
A
mente humana é como um depósito de idolatria e superstição; de modo que, se o
homem confiar na sua própria mente, é certo que ele abandonará a Deus e inventará
um ídolo, segundo sua própria razão.
Analisando o texto bíblico não é
difícil chegar à conclusão de Calvino. A partir do pecado todo homem passou a
ser inimigo de Deus.
Paulo diz:
Como está escrito: Não há um
justo, nem um sequer. Não há ninguém
que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça
o bem, não há nem um só. Rm 3:10-12.
Esta é a posição que se encontra todo homem a não ser que Deus o cure de sua seguira. Um fato que se deve ter atenção é que o homem não é somente sujo, mas também está morto.
Esta é a posição que se encontra todo homem a não ser que Deus o cure de sua seguira. Um fato que se deve ter atenção é que o homem não é somente sujo, mas também está morto.
No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre
aqueles que não tinham pecado à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a
figura daquele que havia de vir.
Rm 5:14.
Visto
a real posição do homem diante de Deus, isso nos leva a seguinte pergunta: Há
no homem algo que o faça merecer o favor de Deus? A resposta é clara e sonora:
NÃO!
Baseado
nesta verdade o calvinismo defende que pela palavra de Deus é evidente que o
homem não pode fazer nada para merecer o favor de Deus. Sua posição de rebelião
total contra Deus o fez perder a comunhão que desfrutava com o Soberano Deus.
Sendo,
pois o homem incapaz de buscar sua salvação, estando cego, surdo e obstinado
pelo erro, precisa da obra Soberana de Deus para que possa desfrutar da
salvação.
Por
este motivo as escrituras demonstram que Deus em sua soberania elegeu pecadores
para salvar demonstrando assim seu amor.
Esta eleição não se baseia na fé
prevista.
O
calvinismo sustenta que o pré-conhecimento de Deus esta baseado no seu
propósito ou no seu próprio plano. Resulta da livre vontade do criador (Deus) e
independe do ser humano, o qual está espiritualmente morto.
Irei
expor agora o texto sagrado que se encontra na carta de Paulo aos Efésios
1:4-11.
Creio
termos neste texto evidencias da eleição incondicional.
Porque Deus nos escolheu nele antes
da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença. Em
amor nos predestinou para sermos adotados como filhos por meio de Jesus Cristo,
conforme o bom propósito da sua vontade, para
o louvor da sua gloriosa graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado. Nele temos a redenção por meio de seu sangue, o perdão
dos pecados, de acordo com as riquezas da graça de Deus, a qual ele derramou sobre nós com toda a sabedoria e
entendimento. E nos revelou o mistério da
sua vontade, de acordo com o seu bom propósito que ele estabeleceu em Cristo,
isto é, de fazer convergir em Cristo todas às
coisas, celestiais ou terrenas, na dispensação da plenitude dos tempos. Nele fomos também escolhidos, tendo sido predestinados
conforme o plano daquele que faz todas as coisas segundo o propósito da sua
vontade,
Ø Nos
elegeu Nele: Deus nos elegeu não baseado nas nossas obras, mas unicamente
representados pelas obras de Cristo. Isto pode ser reafirmado no Cap. 2:8-10.
Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem
de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie. Porque
somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus
preparou para que andássemos nelas.
Ø O
tempo em que houve esta eleição é exposto como: “Antes da fundação do mundo”. A
palavra aqui traduzida por “mundo” é bem mais abrangente, é a mesma palavra
usada em João 3:16. Nos dois textos a palavra grega usada é ko,smoj, que
é melhor traduzida como universo, toda a criação. Paulo esta dizendo que a
eleição ocorreu em um momento fora da história onde só a Majestade Divina esta
presente. Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo sendo um, elegeu pecadores
para a salvação antes que o tempo existisse.
Assim,
os céus, a terra, e todo o seu exército foram acabados.
Gn
2:1.
O
primeiro ponto a ser entendido é que Deus escolheu seus eleitos antes da
fundação do mundo. Certamente este tempo
que se faz presente no texto como antes da fundação do mundo é um lugar no
tempo que não podemos demarcar, sendo Deus Eterno e não sujeito as questões
temporais sua decisão em escolher seus eleitos não estão sujeitas a qualquer
ação externa que o tenha influenciado em sua escolha. Podemos ver esta mesma
expressão em Apocalipse 17:8.
A besta que você viu, era e já não
é. Ela está para subir do abismo e caminha para a perdição. Os habitantes da terra,
cujos nomes não foram escritos no livro da vida desde a criação do mundo,
ficarão admirados quando virem a besta, porque ela era, agora não é, e
entretanto virá.
Apocalipse
17:8
Ø
O
motivo desta eleição é colocado não como visto no homem por Deus, mas um propósito
de Deus para o homem. Deus nos elegeu não por sermos santos, mas “para sermos
santos e irrepreensíveis”. Esta afirmação de Paulo mostra claramente que Deus não
foi influenciado por qualquer obra vinda do homem.
Ø
O
que determinou então a decisão de Deus? Isso fica claro nas palavras de Paulo
nos demais versículos:
“segundo
a boa determinação de sua vontade”
“Gratuitamente
no Amado”
“O mistério
da sua vontade”
“Predestinados
conforme o propósito Daquele que faz todas as coisas segundo o propósito da sua
vontade”
Ø
Para
que Deus elegeu pecadores?
“Para
o louvor da sua Glória”.
Esta
expressão ocorre quatro vezes no 1° capitulo. Isto demonstra qual a
centralidade da mensagem, Paulo firma aqui a base da eleição como sendo para a
glória de Deus.
Condicional ou
incondicional?
O
texto já citado, de Efésios 1, responde essa pergunta de modo suficientemente
claro. Paulo não declara nesse capítulo que Deus escolheu os seus eleitos antes
da fundação do mundo porque fossem santos ou fiéis, e sim para serem santos e
fiéis. A seguir, ele é ainda mais explicito ao afirmar que os predestinou em “em
amor” (a motivação da predestinação), “segundo o beneplácito da sua vontade”. Como
se não fosse suficiente, o apostolo afirma ainda, no verso 11, que os crentes foram
“predestinados segundo o conselho daquele que faz todas as cousas conforme o
conselho da sua vontade”.
Quem escolhe?
Em
toda a escritura podemos ver claramente que Deus escolhe aqueles a quem deseja
salvar.
Não foste vós que me escolhestes a
mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros, e vos designei para que vades
e deis frutos, e o vosso fruto permaneça.
João 15:16.[2]
Em Romanos 8:28, Paulo demonstra
que aqueles que Deus chamou segundo seu proposito, esses é que amam a Deus. Não
são chamados por amarem a Deus, mas amam a Deus por terem sido chamados.
Quem vem a Cristo?
Todo aquele que o Pai me dá, esse
virá a mim; e o que vem a mim, de maneira nenhuma o lançarei fora... E a vontade daquele que me
enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o
ressussitarei no úçtimo dia (Jo 6:37-39). Ninguem poderá vir a mim, se pelo pai não lhe for concedido
(Jo 6:65). Não falo a respeito de todos vós, pois eu conheço aqueles que
escolhi (Jo 13:18).
Aplicação
·
Somos
carentes da graça de Deus.
·
Não
somos merecedores do favor de Deus.
·
Todos
os homens longe da graça se encontram mortos em delitos e pecados, escravos do
pecado e do diabo, inimigos de Deus, amantes da imundícia do mundo e condenados
ao fogo eterno.
·
Deus
elegeu pecadores.
·
Deus
elegeu pelo propósito da sua vontade.
·
Nos
fez justificados em Cristo Jesus.
·
Nos
elegeu para as boas obras, para sermos santos e irrepreensíveis Nele (Cristo)
em amor.
·
Sua
escolha foi efetuada na eternidade.
·
O
motivo principal dessa sua misericórdia é o louvor da sua Glória.
·
Por
este motivo devemos ser gratos pelo seu imenso amor e cumprir todo seu querer,
sendo submissos a sua majestade.
Que
o Senhor aplique sua palavra em nossas vidas.
[1]
(Tradução
livre e adaptada do livro The Five Points of Calvinism - Defined, Defended,
Documented, de David N. Steele e
Curtis C. Thomas, Partes I e II, [Presbyterian &
Reformed
Publishing Co, Phillipsburg, NJ, USA.], feita por João Alves dos Santos)
[2] Calvinismo,
As Antigas Doutrinas da Graça (Paulo Anglada).
Nenhum comentário:
Postar um comentário