domingo, 24 de novembro de 2019

Uma Introdução aos Estudos Teológicos



INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS TEOLÓGICOS


O período Patrístico- c.100-451 d.C.:
A origem do cristianismo: Palestina, mais especificamente na região da Judéia, em particular na cidade de Jerusalém”;
“No processo de expansão surgiram diversas regiões que se tornaram importantes centros de debate teológico. As três consideradas mais importantes são:
1.      A cidade de Alexandria;
2.      A cidade de Antioquia e a região vizinha da capadócia, na atual Turquia;
3.      O norte da África Ocidental.”

O termo “Patrístico” vem da palavra latina “pater”, “pai”, e tanto designa o período referente aos pais da igreja quanto as ideias características que se desenvolveram durante esse período”.

“O período Patrístico: esse termo representa algo definido de forma vaga que frequentemente é considerado como o período a partir do termino dos documentos do NOVO TESTAMENTO (c.100) até o decisivo Concílio da Calcedônia (451).”

Patrístico: normalmente, esse termo significa o ramo do estudo teológico que trata do estudo dos “pais” (patres) da igreja.”

Patrologia: Esse termo já significou literalmente “o estudo dos pais da igreja”, mais ou menos, da mesma forma que “teologia” significava “o estudo de Deus” (THEOS). Entretanto, em anos recentes a palavra sofreu uma alteração em seu significado. Agora, ela se refere a manuais de literatura patrística, como aquele do célebre acadêmico alemão JOHANES QUASTIN, que fornece a seus leitores fácil acesso às principais ideias dos escritores patrísticos e a alguns dos problemas de interpretação associados a elas.”

PROGRESSOS CRUCIAIS DA TEOLOGIA

A ampliação do cânon do NOVO TESTAMENTO: A palavra cânon deriva da palavra grega Kanon e significa “uma regra” ou “um ponto fixo de referência”.
O cânon das Escrituras refere-se a um conjunto restrito e definido de determinados livros. O termo “canônico” é usado em relação aos livros aceitos como parte do cânon.

A DEFINIÇÃO DOS CREDOS ECUMÊNICOS

A expressão “credo” vem da palavra latina, que apresenta a mesma grafia e cujo significado é “eu creio”, expressão inicial do Credo Apostólico.
Os credos são uma síntese da fé que deve ser comum a todos os crentes. São pontos essenciais, conjuntos de verdades que faria parte da confissão daqueles que seriam batizados.
Por seu caráter universal, os credos diferem das confissões de fé denominacionais.



“Vós quereis ouvir de por que e em que modo Deus há de ser amado? Eu vos respondo: a causa pela qual Deus há de ser amado é o próprio Deus; o modo é amar sem modo. É suficiente isso? Talvez seja, mas para os sábios. Mas eu estou em dívida em relação aos ignorantes (cf.rm1,14): embora, para os sábios, o que foi dito seja suficiente, para outros deve ser explicado.”
(BERNARDO DE CLARAVAL, 2010:9).


TEOLOGIA:

 DEFINIÇÕES a.C.
Para Platão: relaciona o termo com ensino mitológico.
Para Aristóteles: diz respeito a ciência teórica mais importante.

DEFINIÇÕES d.C.

Com o desenvolvimento do cristianismo, são formadas escolas de compreensão da Sagrada Escritura, desde então o termo é utilizado em sentido cristão.
Orígenes, pai que viveu entre II e III séculos, foi o primeiro a utilizar o termo em relação ao conhecimento de Jesus Cristo.
O que Orígenes chama de teologia pode ser entendido como a ação da igreja, presente na escrita do N.T.
“A teologia tem como ponto de partida a fé da Igreja”.
“Querigma: proclamar, anunciar”.
Ortodoxia: sistema teológico considerado único e verdadeiro pela igreja.
CONCÍLIO DE JERUSALÉM (ANO 51 a.C.).

ALTA IDADE MÉDIA: teologia expressa a totalidade da fé cristã. (da queda do império romano em 476 até o século IX).
Neste período, expressão como: sacra doctrina e sacra scriptura são usados como sinônimo de teologia.
No século IX temos o uso comum do termo teologia.

ACONTECIMENTOS DO PERÍODO MEDIEVAL:

Fundação de escolas e surgimento das universidades- passado o período turbulento dos reinos bárbaros no sul da Europa (até o século VIII).
A teologia chega as universidades- a dialética como contraposição de ideias, de argumentos, ganha espaço na reflexão. Surgimento das “summas” teológicas.
Surge a teologia da reforma protestante- Lutero protesta contra a escolástica.
Modernidade- a partir do século XVI, surgem a teologia moral e a teologia positiva. Críticas humanistas, tensão entre universidade e igreja.

INFLUÊNCIA DO RACIONALISMO:

Século XX traz a expressão “voltar as fontes”.
Concílio Vaticano II (1962-1965), “traz a filosofia de que conversando a gente se entende”.
Os primeiros teólogos eram leigos, não Clérigos, que formularam e contribuíram com a reflexão teológica.
Ex: AGOSTINHO DE HIPONA.

OS PRINCIPAIS MÉTODOS DA TEOLOGIA

Na teologia cristã temos como referência a sagrada escritura, a prática eclesial, o magistério e a linguagem.
Patrística- teologia dos primeiros pais da igreja.
·         De acordo com a região, o método patrístico assume características latinas ou gregas;
·         Predomina na antiguidade, durante o império romano no Ocidente e no Oriente;
·         Tem como método exegético a leitura do antigo testamento a partir de Jesus Cristo.
Escolástico-
·         Dois grupos identificados: o Tomista e o Franciscano;
·         No desenvolvimento, há a escolástica posterior e a teologia reformada;
·         A teologia atua como a inteligência da fé, o modo racional de entender o como. Ciência e religião caminham interligadas.
Moderna-
·         Põem em evidencia os desafios atuais, como pessoais e sociais;
·         Influência do iluminismo, valorização e progresso da ciência para a teologia.

PONTOS IMPORTANTES SOBRE A TEOLOGIA ATUAL

Pressupostos para a teologia:

·         A linguagem rigorosa, própria do meio acadêmico;
·         Resposta aos dramas da realidade a partir da perspectiva da palavra- mistério;
·         Autocrítica;
·         Mistagógica: em permanente aprofundamento da fé;
·         História: em processo de aprendizagem na caminhada no tempo;
·         Plural: diversidade de teologias;
·         Interdisciplinaridade: recebe contribuição de outras áres do conhecimento;
·         Fidelidade à palavra-Mistério.


A TEOLOGIA COMO CIÊNCIA

Ciência é o conhecimento em que definimos sua causa para demonstra-la. A partir do desenvolvimento da ciência, obtemos o conhecimento sistematizado por meio de um método.
Ciência = do grego scientia.
Palavras-chave: ciência, conhecimento, definimos, causa e demonstra-la.
Na teologia, “o que faz uma ciência não é seu assunto (objeto formal)”. (BOFF, 2014, p.21).
Palavras-chave: teologia, assunto (objeto material), modo (objeto formal).
“Teologia é a ciência que apresenta a Revelação de modo crítico, sistemático e amplo, buscando a compreensão do MISTÉRIO revelado em si mesmo e suas consequências para a existência humana”.
“O modo de fazer e o objeto da teologia são inseparáveis”.

REFERENCIAL E BUSCA:

·         Verdade como referencial e busca,
·         Na convivência com a pluralidade de verdades, a pesquisa teológica é entendida no campo da religião e esta tem seu espaço limitado ao privado;
·         A teologia reivindica seu estatuto como ciência, e o espaço público, tanto pelo seu pressuposto antropológico como pelo diálogo com a filosofia e com a área de ciências humanas.


HISTORICIDADE E USO DOS MÉTODOS HISTÓRICOS:

·         Como campo de conhecimento, a teologia se desenvolve na história, aprofundando a revelação, as leituras da realidade, a relação entre Deus e a humanidade, da humanidade entre si, identificando aspectos e iluminando questões;
·         O avanço do saber é progressivo e diretamente relacionado à significação da vida, tanto em seu entendimento como em seu agir.

ETAPAS DO SABER TEOLÓGICO:

·         Fixar os dados da revelação (objetos material e formal, fonte);
·         Determinar as questões que estes dados suscitam (problema e delimitação);
·         Refletir sobre os dados (objetivos e fundamentação teórica).

OBJETO MATERIAL E OBJETO FORMAL
·         Identificar o objeto de estudo, que, na teologia, é Deus e sua revelação;
·         Definir qual a perspectiva da pesquisa;
·         Estabelecer uma relação objetiva (objeto material) e uma relação subjetiva (objeto formal).

FONTE:
A teologia é uma ciência que busca compreender o que crê, a fé é a fonte subjetiva.
·         Sagrada Escritura: primeira fonte da teologia;
·         Tradição: é o processo dinâmico de nossa identidade como pessoa e da comunidade, que orienta na vivencia da fé, na continuidade histórica.

Ø  Tradição apostólica, norma de qualquer tradição eclesial;
Ø  Tradição eclesial, em continuidade com a apostólica, atualizando-a e desenvolvendo-a nas diferentes culturas e épocas.
·         Magistério;
·         História.

PROBLEMA:
Definimos a questão que queremos resolver.

DELIMITAÇÃO:
Precisamos aprender a limitar nossa análise para torna-la viável. E necessário considerar o assunto, a extensão e os fatores envolvidos.

OBJETIVO (PARA QUÊ):
Na pesquisa teológica, a relação entre Deus e a humanidade é o objetivo último.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA:
Fundamentamos teoricamente o assunto que pesquisamos, apresentando os conceitos centrais, as abordagens possíveis e as perspectivas desejadas.
Teologia é sempre uma continuidade, precisamos considerar e respeitar autores que já estudaram sobre o tema.


Para quem deseja conhecer mais, indico essa obra do Alister E. McGrath!

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

A grande comissão continua.


 

Pregação Expositiva

Sermão pregado na Escola Bíblica Dominical , Dia do Senhor, Cabo de Santo Agostinho, 03/11/2019.
Por: Presb. Sandro Francisco do Nascimento.

Texto base: Mateus 28:18-20.

Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os, em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.

Introdução

Autor e Data

Ao contrário das cartas paulinas, por exemplo, o Evangelho segundo Mateus, não trás o nome do autor. Apesar disso, a tradição tem atribuído a autoria a Mateus o publicano. Nos Evangelhos de Marcos e Lucas, ele é chamado pelo nome de Levi (Mc 2.14; Lc 5.27).[1]

Eusébio, por volta de 265-339 d.C., cita Orígenes,(185-254 d.C.), aproximadamente:

Entre os quatro Evangelhos, que são os únicos indiscutíveis na Igreja de Deus  debaixo do céu, aprendi pela tradição que o primeiro foi escrito por Mateus, que havia sido publicano, mas que posteriormente tornou-se apóstolo de Jesus Cristo, e foi preparado para os convertidos do judaísmo (história eclesiástica, 6:25).

Alguns autores identificam Mateus como sendo um judeu da palestina e que teria escrito para judeus da dispersão. A base para esta afirmação está ligada ao fato de ele citar profecias do A.T por mais de sessenta vezes. Além disso, Mateus sempre se refere ao “reino de Deus” como “reino dos céus”, um equivalente para não se referir ao nome de Deus, pois para um judeu, falar o nome de Deus era algo ofensivo.
Alguns estudiosos sugerem que tenha sido escrito antes do ano 70 d.C., por volta das décadas de 50 ou 60 d.C.

Propósito

O propósito, como parece evidente, é apresentar Jesus como o Messias prometido. A genealogia que leva Jesus até Abrão tem como objetivo demonstrar que Jesus é o cumprimento fiel de todas as profecias do A.T, a aliança é literalmente cumprida em Cristo, Nele, Abrão, pai da fé, se torna pai de todos aqueles que por meio da fé são alcançados pelo sacrifício de Jesus. Essa verdade é constantemente enfatizada na teologia paulina, em Cristo, somos feitos filhos de Abraão, com quem a aliança foi primeiro estabelecida.

Em seu comentário do A.T. e N.T, John MacArthur diz:
“Mateus demonstra a realeza de Cristo ao se referir a ele por “Filho de Davi” (1.1; 9.27; 12.23; 15.22; 20.30; 21.9,15; 22.42,45)”.

Exposição

1.      No verso 18b, Jesus estabelece a base pela qual os seus discípulos podem ter a liberdade de pregar o Evangelho. “toda a autoridade me foi dada no céu e na terra.”

                                I.            O Cristo prometido, tendo cumprido fielmente os termos da aliança, agora reivindica a recompensa. A lei de Deus agora foi legalmente satisfeita e a salvação pode finalmente, em Cristo, ser proclamada a todas as nações.
                             II.            Hendriksen, em seu comentário, faz distinção entre a autoridade de Cristo antes da ressurreição e após. Diz ele: “Antes de seu triunfo sobre a morte, o uso desse dom estava sempre restringido de algum modo”.
Ou seja, enquanto Cristo não fosse morto e ressuscitado como previa o cumprimento da lei, ainda faltava vencer um inimigo do povo de Deus, a saber, a“ morte”.
2.    Em um primeiro momento de sua missão, Jesus ordena que as boas novas sejam pregadas inicialmente a Israel, Mt 10.5-7. No verso 19, no entanto, agora fica claro que as boas novas devem percorrer por todas as nações. Para Hendriksen, o “ide”, ou “vão”, também aponta para a ideia de que seguir a Cristo não consiste somente em vir a igreja, mas em ir  e levar as boas novas para os outros. ... Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os, em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo...”.
                                I.            Segundo Hendriksen, a tradução literal deste verso é: “Havendo ido, portanto, façam discípulos...”. Neste caso, diz Hendriksen: ...tanto o particípio quanto o verbo que o segue pode ser - no presente caso deve ser – interpretado como tendo forca imperativa, “Façam discípulos” é por  natureza um imperativo. É um mandamento enérgico, uma ordem...
                             II.            Tanto Hendriksen, quanto Sayão, concordam que o verbo principal é: ...“façam discípulos”..., sendo assim, batizando e ensinando, são os meios pelos quais se produzirá discípulos.

3.     O batismo deve ser feito em um único nome: o Pai, Filho e Espírito Santo “batizando-os, em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. O batismo tem para aqueles que são incluídos na aliança, um sentido de união com o Deus Trindade.
4.      O ensino deve seguir a vida daqueles que são chamados a aliança a fim de que eles obedeçam a todas as coisas que Cristo ordenou. “ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado”. Ele finaliza o verso vinte com um consolo: “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século”.



Aplicações

1.      Devemos pregar o evangelho?! Devemos pregar o evangelho por pelo menos três motivos:
·         Jesus nos deu autoridade para pregar as boas novas do evangelho, somos seus representantes legais;
·         Pregar o evangelho não é uma opção, todos os eleitos de Deus são ordenados a proclamar as boas novas;
·         O evangelho é o meio pelo qual Deus chama seus eleitos.

2.      A pregação do evangelho tem função dupla, atrair os eleitos e sentenciar os reprovados.
Muito recentemente, conversando com um amado irmão, presbítero da IPAD, Igreja Pentecostal Assembleia de Deus, ouvi algo que me deixou estarrecido. O referido irmão, disse-me que soube por alguns irmãos calvinistas, que por causa da doutrina da eleição não se fazia necessário evangelizar os perdidos, ao contrário, diziam eles, “os eleitos irão ser chamados soberanamente, sem a necessidade da pregação”.
Essa afirmação não possui qualquer amparo bíblico, os eleitos de Deus são atraídos pela pregação. O Espírito Santo trabalha neles para que ouvindo a palavra entendam e venha a se arrepender.

3.      Devemos evangelizar com fervor, com alegria, pois Cristo prometeu estar conosco e essa é a garantia de que a nossa pregação irá operar segundo a vontade soberana de Deus, seja salvando, seja condenando.













Que o Senhor pois nos abençoe!



[1] Hangus,Joseph, História, Doutrina e Interpretação da Bíblia, p. 621, editora Hagnos.

sábado, 5 de outubro de 2019

Tem crescido o Evangelho?




Atualmente, o movimento “evangélico” brasileiro tem demonstrado sinais de crescimento numérico. Com a ascensão dos meios de comunicação e mídias sociais, fruto da globalização advinda da pós modernidade, os plantadores de “igrejas” têm tido bastante êxito em seus investimentos. Apesar de muitos entenderem que tal crescimento é um progresso, a ala conservadora, da qual eu mesmo faço parte, tem apontado fragilidades no pseudo crescimento.

Em primeiro lugar, o Evangelho passou de boas novas de salvação, onde a doutrina da graça imerecida exclui qualquer mérito humano e, ao menos na grande maioria, passou para uma teologia antropocêntrica. Nessa  perspectiva, a pregação não deve ferir uma tal “integridade” humana, ao contrário disso, o indivíduo deve ser encorajado a fazer sacrifícios, normalmente financeiros, e exigir de Deus o galardão “justamente  merecido” pelo seu suposto ato de fé.

A resposta bíblica, no entanto, aponta para uma outra direção. Textos como Efésios 2.1-10, por exemplo, identificam a humanidade como cadáveres e que pela graça imerecida recebem não só o dom para crer como também a capacidade de produzir obras dignas da sua vocação.

Conclui-se, então, que embora tenha de fato ocorrido um fenômeno de crescimento numérico na chamada “igreja evangélica”, o dado numérico diz mais respeito a um movimento nominal do que uma regeneração real. Compete aos conservadores orar, evangelizar e influenciar de forma positiva para que o país ascenda fielmente o mandato, imperativo, de crescimento da igreja.

Para quem desejar se aprofundar neste assunto, deixo como indicação de leitura o Livro " Com Vergonha do Evangelho", do teólogo e pastor Batista John MacArhur. Nessa obra, ele usa como pano de fundo histórico o dilema enfrentado por Charles Spurgeon, que em seus dias lutou contra a entrada do liberalismo teológico na igreja.





Por: Sandro Francisco do Nascimento

domingo, 15 de setembro de 2019

Por que não há mais apóstolos hoje?



Em sua polêmica contra os escribas e fariseus, Jesus de certa feita se referiu a seus apóstolos como aqueles que, à semelhança dos profetas, sábios e escribas enviados por Deus ao antigo Israel, seriam igualmente enviados, rejeitados, perseguidos e mortos (Lc 11.49 com Mt 23.34). Desta forma, ele estabelece o paralelo entre os apóstolos e os profetas como enviados de Deus ao seu povo.
Tem sido observado que os sucessores dos profetas do Antigo Testamento, como Isaias, Jeremias, Ezequiel, Daniel e Amós, por exemplo, não foram os profetas do Novo Testamento, que tinham ministério nas igrejas locais, mas os apóstolos de Jesus Cristo, mais especificamente os doze e Paulo.1

Conforme já vimos acima, os profetas foram diretamente vocacionados e chamados por Deus (cf. Is 6.1-9; Jr 1.4-10; Ez 2.1-7; Am 7.14-15). A palavra mais usada para “profeta” no Antigo Testamento   (nabi), que transmite o conceito de alguém que fala por outro, como “sua boca” (Ex 4.16; 7.1; cf. ainda Dt 18.14-22). O profeta era, então, primariamente, alguém que falava da parte de Deus, inspirado e orientado por ele. Os profetas falaram ousadamente da parte dele sua mensagem ao povo de Israel (Lc 1.70; Hb 1.1-2). Parte destas profecias veio a ser escrita e registrada no Antigo Testamento, que é chamado por Paulo de “escrituras proféticas” (Rm 16.26, cf. ainda 2Pe 1.21; 2Tm 3.16).2 Notemos que a mensagem dos profetas não consistia apenas da predição de eventos futuros relacionados com a ação de Deus na história, os quais se cumpriram infalivelmente (Dt 18.20-22; cf. 1Rs 13.3,5; 2Rs 23.15-16). A mensagem deles consistia, em grande parte, na exposição desses eventos e sua aplicação aos seus dias. Os profetas introduziam suas palavras com as fórmulas “assim diz o Senhor” e “veio a mim a Palavra do Senhor dizendo,” o que identificava sua mensagem como inspirada e infalível. Como tal, deveria ser recebida pelo povo de Deus como a própria palavra do Senhor.

A literatura intertestamentária produzida pelos judeus nos séculos depois de Malaquias considerava que o ministério desses profetas encerrou-se com Malaquias.3 Da mesma forma, os escritores do Novo Testamento se referem aos profetas antigos como um grupo fechado e definido (cf. Mt 23.29-31; Mc 8.28; etc.). A pergunta é: através de quem Deus continuou a se revelar? Quem foram os sucessores dos profetas do Antigo Testamento como receptores e transmissores da Palavra de Deus? Resta pouca dúvida de que foram os doze apóstolos e o apóstolo Paulo, e não os profetas cristãos das igrejas locais, como aqueles que haviam em Jerusalém, Antioquia e Corinto, por exemplo (At 11.27; 13.1; 1Co 14.29). Ao contrário do que ocorria no Antigo Testamento, profetizar, na igreja cristã nascente, era um dom que todos os cristãos poderiam exercer no culto, desde que seguindo uma determinada ordem (1Co 12.10; 14.29-32). E, diferentemente dos grandes profetas de Israel, as palavras dos profetas cristãos tinham de ser julgadas pelos demais (1Co 14.29) e eles estavam debaixo da autoridade apostólica (1Co 14.37).

Em contraste com os profetas cristãos, os apóstolos  do Novo Testamento, isto é, os doze e Paulo, receberam uma chamada específica de Jesus Cristo, receberam revelações diretas da parte de Deus, como os antigos profetas (At 5.19-20; 10.9-16; 23.11; 27.23; 2Co 12.1), e assim predisseram futuros eventos relacionados com a história da salvação, entre os quais a segunda vinda do Senhor, a ressurreição dos mortos e o juízo final – isso não quer dizer que sua chamada se deu porque tinham o “dom” de apóstolo. (1Co 15.51-52; 2Ts 2.1-12; 2Pe 3.10-13).4 Lembremos que o livro de Apocalipse é uma profecia (ver Ap 1.3; 22.18-19) escrita por um apóstolo.5 Ao contrário dos profetas cristãos das igrejas locais, que não deixaram nada escrito, os apóstolos foram inspirados para escrever o Novo Testamento (1Ts 2.13; 2Pe 3.16) e a palavra deles deveria ser recebida, à semelhança dos profetas antigos, como Palavra de Deus, sem questionamentos, ao contrários dos profetas das igrejas locais (Gl 1.8-9; 1Co 14.37). Os autores neotestamentários que não foram apóstolos, como Marcos, Lucas, Tiago e Judas eram, todavia, parte do círculo apostólico e associados aos apóstolos, escrevendo a partir do testemunho deles.6

Como sucessores dos profetas de Israel e canais da revelação, os apóstolos aparecem juntos com eles na base da igreja. Nas palavras de Jesus, “Enviar-lhes-ei profetas e apóstolos, e a alguns deles matarão e a outros perseguirão” (Lc 11.49). Paulo junta os dois grupos duas vezes na carta aos Efésios como aqueles designados por Deus para lançar as bases da igreja; “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas” (Ef 2.20); “o qual, em outras gerações, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, como, agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas, no Espírito” (Ef 3.5). Muitos estudiosos entendem que os “profetas” mencionados nestas duas passagens de Efésios são profetas das igrejas neotestamentárias, que vieram depois dos apóstolos. Todavia, mesmo estando numa sequência temporal invertida, “profetas” se entende melhor como os grandes profetas de Israel, que vieram antes dos apóstolos. A sequência “apóstolos e profetas” não precisa ser entendida como uma sequência temporal. Os apóstolos são mencionados primeiro por estarem no foco do contexto.7

Em sua segunda carta, Pedro admoesta seus leitores a se recordarem tanto das palavras que foram ditas pelos “santos profetas” como do mandamento ensinado por “vossos apóstolos” (2Pe 3.2). Alguns entendem que “vossos apóstolos” aqui é uma referência aos missionários pioneiros que haviam fundado as igrejas às quais Pedro escreve. Contudo, a carta de Pedro não foi destinada a igrejas locais específicas e sim aos cristãos em geral (cf. 2Pe 1.1). O único grupo de “apóstolos” que se encaixaria como “vossos apóstolos” seriam os doze, que eram apóstolos para todas as igrejas.8 A carta de Judas, cuja similaridade com a segunda carta de Pedro tem levado estudiosos a acreditarem numa dependência literária entre elas,9 ao se referir aos apóstolos neste mesmo contexto, designa-os como “os apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo,” numa clara referência ao grupo dos doze (Jd 17).10 Estas passagens refletem a consciência de que os apóstolos de Jesus Cristo foram os continuadores dos profetas do Antigo Testamento como canais pelos quais Deus revelou sua vontade.11
Uma vez que a revelação de Deus quanto ao plano da salvação foi totalmente escrita e registrada de maneira final, completa e infalível pelos apóstolos, no Novo Testamento, completando assim a revelação dada através dos profetas de Israel no Antigo Testamento, encerrou-se o ministério de ambos os grupos.
Já que os apóstolos foram os sucessores dos profetas do Antigo Testamento, não há, pois, hoje, possibilidade de haver apóstolos como os doze e Paulo, pois eles foram recipientes e transmissores da revelação final de Deus para seu povo, que se encontra registrada no Novo Testamento.

Fonte: Trecho do livro “Apóstolos”, futuro lançamento da Editora Fiel.
Notas:
1 – Cf. Heber Carlos de Campos, “Profecia Ontem e Hoje” em Misticismo e Fé Cristã (São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2013), pp. 63-126; Christiaan J. Beker, Paul the Apostle – The Triumph of God in Life and Thought (Philadelphia: Fortress Press, 1980), p. 113.
2 – Alguns estudiosos, como E. E. Ellis, sugerem que “escrituras proféticas” é uma alusão de Paulo a escrituras que haviam sido produzidas por profetas neotestamentários, escritos estes que haviam circulado pelas igrejas, mas nunca foram preservados (E. Earle Ellis, The Old Testament in Early Christianity em WUNT, 54 [Tübingen: Mohr/Siebeck, 1991], 4-5; E. Earle Ellis, Pauline Theology: Ministry and Society [Grand Rapids: Eerdmans; Exeter: Paternoster Press, 1989], 138 n. 79). Todavia, Cranfield corretamente considera esta interpretação de Ellis como “desesperada” (C. E. B. Cranfield, A Critical and Exegetical Commentary on the Epistle to the Romans, 2 vols, em International Critical Commentary [Edinburgh: T. & T. Clark, 1979], 2:811, n.8).
3 – “Desde que os últimos profetas Ageu, Zacarias e Malaquias morreram, o Espirito Santo cessou em Israel” (T. Sota, 13, 2). Cf. πνε?μα no TDNT.
4 – O livro de Atos registra duas ocasiões em que Ágabo, um profeta de Jerusalém, anunciou acontecimentos futuros, relacionados com uma fome que veio a acontecer nos dias do imperador Cláudio (At 11.27-30) e com a prisão de Paulo em Jerusalém (At 21.10-11). O fato de que somente estes dois casos de profecias predictivas (e feitas por um único profeta) estão registrados pode indicar que a previsão do futuro não era comum fora do círculo apostólico, especialmente ainda se considerarmos que ambas as profecias de Ágabo estavam relacionadas com o ministério de Paulo. White tenta colocar estas profecias de Ágabo no mesmo nível daquelas revelações fundacionais que foram dadas aos apóstolos (Ef 3.5; cf. R. Fowler White, “Gaffin and Grudem on Eph 2:20: In Defense of Gaffin’s Cessationist Exegesis,” em Westminster Theological Seminary, 54 [1992], 309-310), mas é evidente que elas estavam relacionadas com a vida pessoal do apóstolo Paulo, tanto sua em ida a Jerusalém levando ajuda para os crentes da Judeia, como em sua posterior prisão naquela cidade.
5 – Assumimos aqui que foi o apóstolo João quem escreveu o livro de Apocalipse.
6 – Marcos escreveu a partir do testemunho de Pedro. Lucas foi companheiro de Paulo. Tiago era o irmão de Jesus, líder da igreja de Jerusalém e próximo do círculo (Gl 1.19). Judas era outro irmão de Jesus e também relacionado com o círculo apostólico. Lembremos por fim que Hebreus entrou no cânon porque sua autoria era atribuída ao apóstolo Paulo, como até hoje é defendido por vários estudiosos.
7 – Que Ef 3.5 se refere aos profetas do Antigo Testamento é também defendido por F. Mussner, Christus, das All und die Kirche: Studien zur Theologie der Epheserbriefes (Trierer: Paulinus, 1955), 108. Deve-se admitir, contudo, que grande parte dos comentaristas pensa que Paulo está se referindo aos profetas neotestamentários, como Andrew T. Lincoln, por exemplo. (Ephesians em Word Biblical Commentary, vol. 42, eds. D. Hubbard, et al. [Dallas, TX: Word Books, 1990], 153. Tanto Gaffin (Richard B. Gaffin, Jr. Perspectives on Pentecost: New Testament Teaching on the Gifts of the Holy Spirit [Grand Rapids: Baker, 1979], 93) quanto Grudem (Wayne Grudem, The Gift of Prophecy in 1 Corinthians [Washington: University Press of America, 1982], 47) entendem que “profetas” em Efésios 2.20 se refere aos do Novo Testamento, mas eles fazem esta defesa no contexto do debate cessacionismo-continuismo. Um dos principais argumentos contra o entendimento de que Paulo aqui se refere aos profetas do Antigo Testamento é a ordem “apóstolos e profetas,” o que tornaria isto cronologicamente impossível. Entretanto, a menção que Paulo faz dos profetas do Antigo Testamento, depois de Jesus em 1Ts 2.15, “os quais não somente mataram o Senhor Jesus e os profetas, como também nos perseguiram” certamente inverte a sequência histórica dos eventos e mostra que Paulo nem sempre está preocupado com a cronologia, como estudiosos modernos estão. Cf. F. F Bruce, 1 & 2 Thessalonians, WBC, vol. 45, eds. D. Hubbard, et al. (Dallas, TX: Word Books, 1982), 47; Robert Jamieson, A. R. Fausset, e David Brown, Commentary Critical and Explanatory on the Whole Bible (Oak Harbor, WA: Logos Research Systems, Inc., 1997).
8 – Cf. A. T. Robertson, Word Pictures in the New Testament (Nashville, TN: Broadman Press, 1933) in loco; D. A. Carson, R. T. France, J. A. Motyer, e G. J. Wenham, orgs. New Bible commentary: 21st century edition. 4th ed. (Leicester, England; Downers Grove, IL: Inter-Varsity Press, 1994) in loco.
9 – Veja Augustus Lopes, II e III de João e Judas (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2009).
10 – Cf. Jamieson, Commentary, in loco.
11 – É preciso observer que a declaração de Jesus de que “todos os Profetas e a Lei profetizaram até João” (Mt 11.13) significa o encerramento do ministério dos profetas do Antigo Testamento, mas não o término da revelação que começou a ser dada através deles. Os apóstolos do Novo Testamento – e não os profetas do Novo Testamento – foram os canais pelos quais esta revelação continuou a ser dada. É neste sentido que os consideramos como sucessores dos profetas de Israel.


 

Augustus Nicodemus é bacharel em teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte, em Recife, mestre em Novo Testamento pela Universidade Cristã de Potchefstroom, na África do Sul, e doutor em Hermenêutica e Estudos Bíblicos pelo Seminário Teológico de Westminster, na Filadélfia (EUA), com estudos adicionais na Universidade Reformada de Kampen, na Holanda. Foi chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie por dez anos, é professor do Centro Presbiteriano de Pós Graduação Andrew Jumper. Autor de diversos livros, dentre eles, Apóstolos, publicado pela Editora Fiel. É autor de vários livros, entre eles Apóstolos, publicado por Editora Fiel. É casado com Minka Lopes e tem quatro filhos: Hendrika, Samuel, David e Anna.






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sexta-feira, 13 de setembro de 2019

TUDO POSSO NAQUELE QUE ME FORTALECE?



                                                                                                            Por: Sandro Francisco do Nascimento.


É muito comum no dia a dia ouvir pessoas falarem ou mesmo ler em para-choque de caminhão a citação deste famoso versículo de Filipenses ( cap. 4.13). Contudo, me parece que o que tem faltado a mente popular é de fato o conhecimento do motivo pelo qual Paulo fala tal frase. É até comum, infelizmente, ouvir pessoas se enrolarem em promessas e transações que estão além de suas posses dizendo: “eu não tenho o dinheiro, mas tudo posso naquele que me fortalece”. Dessa forma Deus está com uma conta “fiado” na caderneta de muita gente!

Mas, afinal, o que o texto está dizendo? Bem, inicialmente, devemos procurar o motivo da carta, ou seja, o que levou Paulo a escrever a carta aos Filipenses? A resposta pode ser encontrada nas primeiras linhas do capítulo 1.3-5 e 4.10-13. O propósito principal da carta segundo o próprio Paulo deixa claro é agradecer pela cooperação da igreja de Filipos.

3 Agradeço a meu Deus toda vez que me lembro de vocês. 4 Em todas as minhas orações em favor de vocês, sempre oro com alegria 5 por causa da cooperação que vocês têm dado ao evangelho, desde o primeiro dia até agora.

10 Alegro-me grandemente no Senhor, porque finalmente vocês renovaram o seu interesse por mim. De fato, vocês já se interessavam, mas não tinham oportunidade para demonstrá-lo. 11 Não estou dizendo isso porque esteja necessitado, pois aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância. 12 Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. 13 Tudo posso naquele que me fortalece. 

14 Apesar disso, vocês fizeram bem em participar de minhas tribulações. 15 Como vocês sabem, filipenses, nos seus primeiros dias no evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja partilhou comigo no que se refere a dar e receber, exceto vocês; 16 pois, estando eu em Tessalônica, vocês me mandaram ajuda, não apenas uma vez, mas duas, quando tive necessidade. 17 Não que eu esteja procurando ofertas, mas o que pode ser creditado na conta de vocês. 18 Recebi tudo, e o que tenho é mais que suficiente. Estou amplamente suprido, agora que recebi de Epafrodito os donativos que vocês enviaram. São uma oferta de aroma suave, um sacrifício aceitável e agradável a Deus.

Ele inicia o verso 10, dizendo:

“Alegro-me muito no Senhor por terdes finalmente renovado o vosso cuidado para comigo”. Almeida século 21, revisada e atualizada.
Ele está se referindo as doações enviadas para ele, isso se confirma nos versos 14-18. Uma leitura não isolada do texto nos mostra algumas coisas simples que nos dão a interpretação correta:

·         Fica evidente que Paulo escreveu a carta para agradecer as doações enviadas para ele por intermédio de Epafrodito. “Estou amplamente suprido, agora que recebi de Epafrodito os donativos que vocês enviaram”.

·         Paulo usa uma série de palavras que expressam oposição, exemplo: “tanto na fartura como na fome; tendo muito ou enfrentado escassez".

·         Depois de falar que está apto a passar por qualquer tipo de oposição ele finalmente diz: “tudo posso naquele que me fortalece”, ou seja, posso passar e estar contente em qualquer situação.

Se você é daqueles que tem mania de usar esse texto fora de contexto, sabe agora que o Senhor realmente te fortalece, mas para que você esteja apto para se alegrar Nele em toda e qualquer situação, seja de fartura ou mesmo na provação.





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