domingo, 1 de dezembro de 2019

O Que Precisamos Saber Sobre o Divórcio?



SERMÃO PREGADO PELO REV. JEFFERSON DE ANDRADE AZEVEDO, NA NOITE DE 01 DE DEZEMBRO DE 2019, NA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL, EM CABO DE SANTO AGOSTINHO/ PE.
Texto: Mateus 19:3-12

Introdução
·         Queridos irmãos, eu quero iniciar minha exposição citando as palavras (a meu ver muito precisas) do Dr. Andreas Köstemberger: “Embora a beleza do plano de Deus para o casamento seja exposta claramente nas Escrituras e muitos anseiem experimentar o tipo de intimidade e amor que apenas o casamento bíblico pode proporcionar, a realidade triste é que relacionamentos conjugais muitas vezes se rompem e ficam a aquém do ideal bíblico”.
·         As palavras do Dr. Köstemberger traz consigo questões sobre as quais devemos refletir com muita atenção:
a)      O casamento conforme o ensino bíblico é em si mesmo belo.
b)     O casamento é belo porque foi devidamente planejado por Deus.
c)      Muitos anseiam experimentar a intimidade e o amor que só o casamento pode propiciar.
d)     Lamentavelmente muitos casamentos se rompem.
e)      E muitos casais ficam aquém do ideal bíblico (inclusive quando se divorciam por qualquer razão).  
·         Fatos como esses deveriam nos fazer refletir sobre que compreensão temos sobre a realidade e identidade do casamento. Mais que isso, esses fatos deveriam nos fazer pensar sobre a possibilidade e gravidade de seu rompimento. Em alguns países 50% dos casamentos terminam por divórcio.
·         Pode parecer estranho, mas hoje é alarmante o número de casais que se dizem evangélicos, e que decidem se divorciar por qualquer razão desconsiderando o fato de que o casamento é um pacto, e que, portanto, deve ser preservado para a glória de Deus. Mais que isso, é estranho que muitos se divorciem e casem novamente sem sequer observar o que Jesus ensina sobre isso.
·         No texto lido Jesus lidou com essas três questões: Casamento, Divórcio e Novo Casamento norteando e esclarecendo a questão.

Elucidação
·         O contexto em que Jesus elucidou seu ensino sobre o Casamento, Divórcio e Novo Casamento se deu num contexto marcado por uma polêmica. O texto diz que alguns Fariseus vieram para experimentá-lo. Em outras palavras, vieram pra pô-lo a prova. E a pergunta dirigida a Jesus teve a ver com a licitude ou ilicitude do divórcio. Jesus respondeu a pergunta afirmando não apenas quando a pessoa pode se divorciar. Jesus ampliou sua resposta e falou sobre Casamento, Divórcio e Novo Casamento. E deixou muito claro que:
a)      O Casamento é a união de um homem e uma mulher, e o padrão é que ambos vivam de modo vitalício.
b)     O Divórcio é a lastimável e indesejável ruptura dessa união.
c)      O Novo Casamento é uma segunda união para aqueles que sofreram infidelidade e resolveram se divorciar, e após o Divórcio casaram outra vez.
·         Hoje, entretanto nosso intuito é falar sobre o divórcio. Por isso, eu quero refletir com os irmãos sobre a seguinte questão:

Tema: O Que Precisamos Saber Sobre o Divórcio?

1º O Divórcio não pode ocorrer por qualquer causa (v.3-6).
·         Vivemos um momento histórico delicado onde as pessoas muitas vezes ingressam no casamento já com uma perspectiva pessimista: “Se der certo deu”. Quando não: “Eu caso e se não der eu me divorcio e caso de novo”. E ingressam no casamento com essa perspectiva pessimista por duas razões: ou não sabem quão grave é romper o Casamento, ou são licenciosos (as vezes é uma questão de depravação mesmo). De qualquer forma é alarmante o número de Divórcios entre cristãos e nós nem podemos fechar os olhos para isso, nem podemos enxergar nisso algo normal.
·         O Rev. Hernandes Dias Lopes em seu livro Casamento, Divórcio e Novo Casamento cita algumas causas ilícitas para o divórcio: “ausência de diálogo, emancipação da mulher, mudança do padrão profissional, desemprego, arrocho financeiro, facilidades legais para o divórcio, declínio da fé". Eu ainda acrescento outras duas: incompatibilidade de gênio, e porque o amor acabou (hoje está na moda estas duas desculpas). A meu ver duas desculpas sem a menor justificativa.
·         Nos dias de Jesus, a discussão envolvendo a possibilidade do Divórcio era dominada por das Escolas Rabínicas: a Escola de Hillel e a Escola de Shammai. Esses dois Rabinos se posicionaram acerca daquilo que está em Deuteronômio 24:1-4. Especificamente no v.1 quando o texto fala “coisa indecente”. Hillel interpretava isso numa perspectiva mais aberta (inclusive uma refeição mal feita). Shammai interpretava essa questão afirmando que ela se refere à imoralidade sexual (mas também abria exceções quando suas Regras de Conduta eram transgredidas). Jesus é taxativo ao dizer que apenas a infidelidade poderia ser causa para o Divórcio.
·         Eu fico a pensar que quando as pessoas dizem ama outra pessoa, e após casar, pouco tempo depois, ou por qualquer motivo se divorciam elas mentem. A semana passada aprendemos com base em Gênesis 2:23-24 que a única coisa que justifica o Casamento é o amor. E Paulo vai dizer em 1Coríntios 13:8: “O amor jamais acaba”. O texto grego diz literalmente: “O amor jamais cai/termina”. Ou seja, quem ama até o fim. Logo, um divórcio ilegítimo é sinônimo de nunca houve amor.
·         O que podemos aprender aqui? Aprendemos que o Divórcio não pode ser tratado como algo normal e que deva ser aceito com tal. Aprendemos que o Divórcio não deve ser idealizado antes de ingressar no Casamento como um modo adequado de resolver certos impasses que surgirão no decorrer do mesmo. Por mais que o Divórcio se mostre atraente nos momentos em que o Casamento está eivado de problemas, saiba que ele nem é a única nem a melhor opção.

2º O divórcio ocorre por permissão, não como padrão (v.7-8, 12).
·         Essa distinção deve ser repetida e enfatizada. O Divórcio foi tolerado e permitido por Deus, mas não estabelecido por Ele. Nos vs.3-4 Jesus já havia aludido à ordem da criação onde homem e mulher são descritos como “uma só carne”. Essa tolerância aparece claramente em Deuteronômio 24:1-4. Ali o Divórcio é regulamentado por Moisés. No contexto de Deuteronômio 24 nada é dito sobre as razões pelas quais Deus permitiu que Moisés incluísse na Lei tal permissão. Jesus em Mateus 19:8 esclarece que foi por causa “da dureza do coração do homem”.
·         O v.8 deixa muito claro que o divórcio foi permitido por causa da obstinação humana, não por iniciativa divina. Deus tem prazer na perpetuação do casamento, não em sua dissolução. E mais, o que os Fariseus chamam de mandamento, Jesus esclarece ser uma permissão. Uma permissão que não pode ser vista como padrão. A prova disso é que no final do v.8 Jesus disse: “Não foi assim desde o princípio”. O Dr. Köstemberger diz algo interessante: “Embora tanto Jesus quanto Paulo tenham defendido energicamente o ideal bíblico de um matrimônio monógamo e vitalício, ambos trataram da possibilidade de divórcio e novo casamento”. Possibilidade não é padrão, é exceção.
·         O padrão é o Casamento tal como Deus idealizou e Jesus mencionou nos vs.3-4. O grande problema é que o homem desde a Queda perverte os padrões estabelecidos por Deus ao acolher para si padrões que ele mesmo tende a criar. Hoje vemos muitos cristãos e até pastores tentam justificar o injustificável. Muitos já casaram e se divorciaram mais de uma vez e por isso fazem de tudo para defender como normal tal prática. Muitos inclusive se divorciaram em condições que a Bíblia não legitima. Esses também não são exemplos a serem seguidos ou levados a sério. O padrão é o Casamento duradouro. 
·         Quando olhamos para Gênesis 2:20-24 vemos claramente a alegria de Adão quando o Senhor criou Eva. Ele a chamou de “osso dos meus ossos e carne da minha carne”. Ou seja, ele a chamou de “pedaço de mim”. Logo, esse deve ser o padrão. Por outro lado, quando olhamos para um Divórcio vemos o oposto disso. Vemos o padrão estabelecido por Des sendo posto de lado. E lamentavelmente ouvimos pessoas dizendo o seguinte: “Durou muito. Eu pensava que iria durar menos”.
·         O que podemos aprender aqui? Aprendemos que nossos olhos devem estar voltados para a ordem da criação. O Casamento foi uma criação divina dada a homem como mandamento. Lembremos que em Gênesis 1:31Deus viu que tudo que Ele havia criado era muito bom”. Isso inclui o Casamento. Logo, o Divórcio o oposto disso. Ele é muito mau. Deus o deia, e aqueles que passam por ele jamais serão os mesmos.

3º O divórcio PODE ocorrer em caso de infidelidade (v.9-11).
·         O texto é claro ao dizer que o divórcio PODE ocorrer em caso de infidelidade. O texto não diz que o divórcio DEVE ocorrer em tal caso. Isso porque o cônjuge que sofreu a infidelidade PODE perdoar e permanecer com o cônjuge que cometeu infidelidade (ou não). O texto não diz que ele DEVE permanecer. Essas observações são importantes para não criminalizarmos todos os Divórcios. Aliás, só quem pode criminalizar um Divórcio é a Escritura.
·         Uma coisa é fato: Deus em sua santidade abomina o divórcio. Mas essa atitude divina precisa ser devidamente compreendida: O Rev. Jay Adams chama a nossa atenção para um fato importante: “Todos os divórcios são causados por pecados, mas nem todos os divórcios são pecaminosos [...] Deus odeia o divórcio, não como processo, mas por suas causas pecaminosas e por muitas das suas consequências devastadoras”. Ou seja, há divórcios lícitos e ilícitos.
·         O que é que estamos chamando de infidelidade? A palavra usada por Jesus e traduzida como “relações sexuais ilícitas” em Mateus 19:9 é porneia. Essa palavra abarca toda sorte de pecados sexuais. Ou seja, essa palavra abarca todos os pecados proibidos pelo sétimo mandamento (Êxodo 20:14 “Não adulterarás). D.A.Carson diz que porneia aqui pode ser traduzida como “imoralidade sexual”. Ou seja, infidelidade tem a ver com o envolvimento de um cônjuge com toda forma de vínculo sexual fora do casamento: adultério, pedofilia, incesto, homossexualismo, bestialidade etc.
·         Não é possível ignorar o fato de que quando Jesus afirma ser a infidelidade causa para o divórcio, ao mesmo tempo Ele afirme ser ela base legítima para o Novo Casamento. Ou seja, uma vez que a infidelidade é confirmada, o cônjuge que sofre a infidelidade PODE requerer carta de divórcio, e posteriormente vir a casar novamente. Por isso, aqueles que pensam em se divorciar e casar novamente devem ouvir o que Jesus diz sobre essa questão. E Jesus é claro: o Novo Casamento pode ocorrer após infidelidade sofrida e divórcio consumado.
·         O que podemos aprender aqui? Aprendemos que o Divórcio pode ocasionar a ruptura do Casamento. Uma ruptura traumática e cujas consequências serão sofridas por ambos os cônjuges (e para os filhos se houverem). Também aprendemos que o Divórcio uma vez consumado dá a parte ofendida a possibilidade (o direito) de ingressar em um Novo Casamento não sendo o mesmo permitido a parte ofensora.
Aplicações

1ª O Divórcio nunca será o padrão para nós cristãos.
2ª Não podemos transformar a exceção em regra.
3ª Avalie se de fato o divórcio é a melhor opção.

Conclusão
·         Finalizo citando o Rev. Jay Adams: “Diferentemente do Casamento o divórcio é uma instituição humana [...] Deus não deu origem a esse conceito como parte de sua ordem para o ser humano. Logo, o Divórcio e uma inovação humana [...] O fato de que Deus não estabeleceu o Divórcio, mas o permite em certas condições, é uma razão pela qual a Igreja tem tido problema em sua consideração essa prática”.    


domingo, 24 de novembro de 2019

Uma Introdução aos Estudos Teológicos



INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS TEOLÓGICOS


O período Patrístico- c.100-451 d.C.:
A origem do cristianismo: Palestina, mais especificamente na região da Judéia, em particular na cidade de Jerusalém”;
“No processo de expansão surgiram diversas regiões que se tornaram importantes centros de debate teológico. As três consideradas mais importantes são:
1.      A cidade de Alexandria;
2.      A cidade de Antioquia e a região vizinha da capadócia, na atual Turquia;
3.      O norte da África Ocidental.”

O termo “Patrístico” vem da palavra latina “pater”, “pai”, e tanto designa o período referente aos pais da igreja quanto as ideias características que se desenvolveram durante esse período”.

“O período Patrístico: esse termo representa algo definido de forma vaga que frequentemente é considerado como o período a partir do termino dos documentos do NOVO TESTAMENTO (c.100) até o decisivo Concílio da Calcedônia (451).”

Patrístico: normalmente, esse termo significa o ramo do estudo teológico que trata do estudo dos “pais” (patres) da igreja.”

Patrologia: Esse termo já significou literalmente “o estudo dos pais da igreja”, mais ou menos, da mesma forma que “teologia” significava “o estudo de Deus” (THEOS). Entretanto, em anos recentes a palavra sofreu uma alteração em seu significado. Agora, ela se refere a manuais de literatura patrística, como aquele do célebre acadêmico alemão JOHANES QUASTIN, que fornece a seus leitores fácil acesso às principais ideias dos escritores patrísticos e a alguns dos problemas de interpretação associados a elas.”

PROGRESSOS CRUCIAIS DA TEOLOGIA

A ampliação do cânon do NOVO TESTAMENTO: A palavra cânon deriva da palavra grega Kanon e significa “uma regra” ou “um ponto fixo de referência”.
O cânon das Escrituras refere-se a um conjunto restrito e definido de determinados livros. O termo “canônico” é usado em relação aos livros aceitos como parte do cânon.

A DEFINIÇÃO DOS CREDOS ECUMÊNICOS

A expressão “credo” vem da palavra latina, que apresenta a mesma grafia e cujo significado é “eu creio”, expressão inicial do Credo Apostólico.
Os credos são uma síntese da fé que deve ser comum a todos os crentes. São pontos essenciais, conjuntos de verdades que faria parte da confissão daqueles que seriam batizados.
Por seu caráter universal, os credos diferem das confissões de fé denominacionais.



“Vós quereis ouvir de por que e em que modo Deus há de ser amado? Eu vos respondo: a causa pela qual Deus há de ser amado é o próprio Deus; o modo é amar sem modo. É suficiente isso? Talvez seja, mas para os sábios. Mas eu estou em dívida em relação aos ignorantes (cf.rm1,14): embora, para os sábios, o que foi dito seja suficiente, para outros deve ser explicado.”
(BERNARDO DE CLARAVAL, 2010:9).


TEOLOGIA:

 DEFINIÇÕES a.C.
Para Platão: relaciona o termo com ensino mitológico.
Para Aristóteles: diz respeito a ciência teórica mais importante.

DEFINIÇÕES d.C.

Com o desenvolvimento do cristianismo, são formadas escolas de compreensão da Sagrada Escritura, desde então o termo é utilizado em sentido cristão.
Orígenes, pai que viveu entre II e III séculos, foi o primeiro a utilizar o termo em relação ao conhecimento de Jesus Cristo.
O que Orígenes chama de teologia pode ser entendido como a ação da igreja, presente na escrita do N.T.
“A teologia tem como ponto de partida a fé da Igreja”.
“Querigma: proclamar, anunciar”.
Ortodoxia: sistema teológico considerado único e verdadeiro pela igreja.
CONCÍLIO DE JERUSALÉM (ANO 51 a.C.).

ALTA IDADE MÉDIA: teologia expressa a totalidade da fé cristã. (da queda do império romano em 476 até o século IX).
Neste período, expressão como: sacra doctrina e sacra scriptura são usados como sinônimo de teologia.
No século IX temos o uso comum do termo teologia.

ACONTECIMENTOS DO PERÍODO MEDIEVAL:

Fundação de escolas e surgimento das universidades- passado o período turbulento dos reinos bárbaros no sul da Europa (até o século VIII).
A teologia chega as universidades- a dialética como contraposição de ideias, de argumentos, ganha espaço na reflexão. Surgimento das “summas” teológicas.
Surge a teologia da reforma protestante- Lutero protesta contra a escolástica.
Modernidade- a partir do século XVI, surgem a teologia moral e a teologia positiva. Críticas humanistas, tensão entre universidade e igreja.

INFLUÊNCIA DO RACIONALISMO:

Século XX traz a expressão “voltar as fontes”.
Concílio Vaticano II (1962-1965), “traz a filosofia de que conversando a gente se entende”.
Os primeiros teólogos eram leigos, não Clérigos, que formularam e contribuíram com a reflexão teológica.
Ex: AGOSTINHO DE HIPONA.

OS PRINCIPAIS MÉTODOS DA TEOLOGIA

Na teologia cristã temos como referência a sagrada escritura, a prática eclesial, o magistério e a linguagem.
Patrística- teologia dos primeiros pais da igreja.
·         De acordo com a região, o método patrístico assume características latinas ou gregas;
·         Predomina na antiguidade, durante o império romano no Ocidente e no Oriente;
·         Tem como método exegético a leitura do antigo testamento a partir de Jesus Cristo.
Escolástico-
·         Dois grupos identificados: o Tomista e o Franciscano;
·         No desenvolvimento, há a escolástica posterior e a teologia reformada;
·         A teologia atua como a inteligência da fé, o modo racional de entender o como. Ciência e religião caminham interligadas.
Moderna-
·         Põem em evidencia os desafios atuais, como pessoais e sociais;
·         Influência do iluminismo, valorização e progresso da ciência para a teologia.

PONTOS IMPORTANTES SOBRE A TEOLOGIA ATUAL

Pressupostos para a teologia:

·         A linguagem rigorosa, própria do meio acadêmico;
·         Resposta aos dramas da realidade a partir da perspectiva da palavra- mistério;
·         Autocrítica;
·         Mistagógica: em permanente aprofundamento da fé;
·         História: em processo de aprendizagem na caminhada no tempo;
·         Plural: diversidade de teologias;
·         Interdisciplinaridade: recebe contribuição de outras áres do conhecimento;
·         Fidelidade à palavra-Mistério.


A TEOLOGIA COMO CIÊNCIA

Ciência é o conhecimento em que definimos sua causa para demonstra-la. A partir do desenvolvimento da ciência, obtemos o conhecimento sistematizado por meio de um método.
Ciência = do grego scientia.
Palavras-chave: ciência, conhecimento, definimos, causa e demonstra-la.
Na teologia, “o que faz uma ciência não é seu assunto (objeto formal)”. (BOFF, 2014, p.21).
Palavras-chave: teologia, assunto (objeto material), modo (objeto formal).
“Teologia é a ciência que apresenta a Revelação de modo crítico, sistemático e amplo, buscando a compreensão do MISTÉRIO revelado em si mesmo e suas consequências para a existência humana”.
“O modo de fazer e o objeto da teologia são inseparáveis”.

REFERENCIAL E BUSCA:

·         Verdade como referencial e busca,
·         Na convivência com a pluralidade de verdades, a pesquisa teológica é entendida no campo da religião e esta tem seu espaço limitado ao privado;
·         A teologia reivindica seu estatuto como ciência, e o espaço público, tanto pelo seu pressuposto antropológico como pelo diálogo com a filosofia e com a área de ciências humanas.


HISTORICIDADE E USO DOS MÉTODOS HISTÓRICOS:

·         Como campo de conhecimento, a teologia se desenvolve na história, aprofundando a revelação, as leituras da realidade, a relação entre Deus e a humanidade, da humanidade entre si, identificando aspectos e iluminando questões;
·         O avanço do saber é progressivo e diretamente relacionado à significação da vida, tanto em seu entendimento como em seu agir.

ETAPAS DO SABER TEOLÓGICO:

·         Fixar os dados da revelação (objetos material e formal, fonte);
·         Determinar as questões que estes dados suscitam (problema e delimitação);
·         Refletir sobre os dados (objetivos e fundamentação teórica).

OBJETO MATERIAL E OBJETO FORMAL
·         Identificar o objeto de estudo, que, na teologia, é Deus e sua revelação;
·         Definir qual a perspectiva da pesquisa;
·         Estabelecer uma relação objetiva (objeto material) e uma relação subjetiva (objeto formal).

FONTE:
A teologia é uma ciência que busca compreender o que crê, a fé é a fonte subjetiva.
·         Sagrada Escritura: primeira fonte da teologia;
·         Tradição: é o processo dinâmico de nossa identidade como pessoa e da comunidade, que orienta na vivencia da fé, na continuidade histórica.

Ø  Tradição apostólica, norma de qualquer tradição eclesial;
Ø  Tradição eclesial, em continuidade com a apostólica, atualizando-a e desenvolvendo-a nas diferentes culturas e épocas.
·         Magistério;
·         História.

PROBLEMA:
Definimos a questão que queremos resolver.

DELIMITAÇÃO:
Precisamos aprender a limitar nossa análise para torna-la viável. E necessário considerar o assunto, a extensão e os fatores envolvidos.

OBJETIVO (PARA QUÊ):
Na pesquisa teológica, a relação entre Deus e a humanidade é o objetivo último.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA:
Fundamentamos teoricamente o assunto que pesquisamos, apresentando os conceitos centrais, as abordagens possíveis e as perspectivas desejadas.
Teologia é sempre uma continuidade, precisamos considerar e respeitar autores que já estudaram sobre o tema.


Para quem deseja conhecer mais, indico essa obra do Alister E. McGrath!

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

A grande comissão continua.


 

Pregação Expositiva

Sermão pregado na Escola Bíblica Dominical , Dia do Senhor, Cabo de Santo Agostinho, 03/11/2019.
Por: Presb. Sandro Francisco do Nascimento.

Texto base: Mateus 28:18-20.

Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os, em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.

Introdução

Autor e Data

Ao contrário das cartas paulinas, por exemplo, o Evangelho segundo Mateus, não trás o nome do autor. Apesar disso, a tradição tem atribuído a autoria a Mateus o publicano. Nos Evangelhos de Marcos e Lucas, ele é chamado pelo nome de Levi (Mc 2.14; Lc 5.27).[1]

Eusébio, por volta de 265-339 d.C., cita Orígenes,(185-254 d.C.), aproximadamente:

Entre os quatro Evangelhos, que são os únicos indiscutíveis na Igreja de Deus  debaixo do céu, aprendi pela tradição que o primeiro foi escrito por Mateus, que havia sido publicano, mas que posteriormente tornou-se apóstolo de Jesus Cristo, e foi preparado para os convertidos do judaísmo (história eclesiástica, 6:25).

Alguns autores identificam Mateus como sendo um judeu da palestina e que teria escrito para judeus da dispersão. A base para esta afirmação está ligada ao fato de ele citar profecias do A.T por mais de sessenta vezes. Além disso, Mateus sempre se refere ao “reino de Deus” como “reino dos céus”, um equivalente para não se referir ao nome de Deus, pois para um judeu, falar o nome de Deus era algo ofensivo.
Alguns estudiosos sugerem que tenha sido escrito antes do ano 70 d.C., por volta das décadas de 50 ou 60 d.C.

Propósito

O propósito, como parece evidente, é apresentar Jesus como o Messias prometido. A genealogia que leva Jesus até Abrão tem como objetivo demonstrar que Jesus é o cumprimento fiel de todas as profecias do A.T, a aliança é literalmente cumprida em Cristo, Nele, Abrão, pai da fé, se torna pai de todos aqueles que por meio da fé são alcançados pelo sacrifício de Jesus. Essa verdade é constantemente enfatizada na teologia paulina, em Cristo, somos feitos filhos de Abraão, com quem a aliança foi primeiro estabelecida.

Em seu comentário do A.T. e N.T, John MacArthur diz:
“Mateus demonstra a realeza de Cristo ao se referir a ele por “Filho de Davi” (1.1; 9.27; 12.23; 15.22; 20.30; 21.9,15; 22.42,45)”.

Exposição

1.      No verso 18b, Jesus estabelece a base pela qual os seus discípulos podem ter a liberdade de pregar o Evangelho. “toda a autoridade me foi dada no céu e na terra.”

                                I.            O Cristo prometido, tendo cumprido fielmente os termos da aliança, agora reivindica a recompensa. A lei de Deus agora foi legalmente satisfeita e a salvação pode finalmente, em Cristo, ser proclamada a todas as nações.
                             II.            Hendriksen, em seu comentário, faz distinção entre a autoridade de Cristo antes da ressurreição e após. Diz ele: “Antes de seu triunfo sobre a morte, o uso desse dom estava sempre restringido de algum modo”.
Ou seja, enquanto Cristo não fosse morto e ressuscitado como previa o cumprimento da lei, ainda faltava vencer um inimigo do povo de Deus, a saber, a“ morte”.
2.    Em um primeiro momento de sua missão, Jesus ordena que as boas novas sejam pregadas inicialmente a Israel, Mt 10.5-7. No verso 19, no entanto, agora fica claro que as boas novas devem percorrer por todas as nações. Para Hendriksen, o “ide”, ou “vão”, também aponta para a ideia de que seguir a Cristo não consiste somente em vir a igreja, mas em ir  e levar as boas novas para os outros. ... Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os, em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo...”.
                                I.            Segundo Hendriksen, a tradução literal deste verso é: “Havendo ido, portanto, façam discípulos...”. Neste caso, diz Hendriksen: ...tanto o particípio quanto o verbo que o segue pode ser - no presente caso deve ser – interpretado como tendo forca imperativa, “Façam discípulos” é por  natureza um imperativo. É um mandamento enérgico, uma ordem...
                             II.            Tanto Hendriksen, quanto Sayão, concordam que o verbo principal é: ...“façam discípulos”..., sendo assim, batizando e ensinando, são os meios pelos quais se produzirá discípulos.

3.     O batismo deve ser feito em um único nome: o Pai, Filho e Espírito Santo “batizando-os, em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. O batismo tem para aqueles que são incluídos na aliança, um sentido de união com o Deus Trindade.
4.      O ensino deve seguir a vida daqueles que são chamados a aliança a fim de que eles obedeçam a todas as coisas que Cristo ordenou. “ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado”. Ele finaliza o verso vinte com um consolo: “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século”.



Aplicações

1.      Devemos pregar o evangelho?! Devemos pregar o evangelho por pelo menos três motivos:
·         Jesus nos deu autoridade para pregar as boas novas do evangelho, somos seus representantes legais;
·         Pregar o evangelho não é uma opção, todos os eleitos de Deus são ordenados a proclamar as boas novas;
·         O evangelho é o meio pelo qual Deus chama seus eleitos.

2.      A pregação do evangelho tem função dupla, atrair os eleitos e sentenciar os reprovados.
Muito recentemente, conversando com um amado irmão, presbítero da IPAD, Igreja Pentecostal Assembleia de Deus, ouvi algo que me deixou estarrecido. O referido irmão, disse-me que soube por alguns irmãos calvinistas, que por causa da doutrina da eleição não se fazia necessário evangelizar os perdidos, ao contrário, diziam eles, “os eleitos irão ser chamados soberanamente, sem a necessidade da pregação”.
Essa afirmação não possui qualquer amparo bíblico, os eleitos de Deus são atraídos pela pregação. O Espírito Santo trabalha neles para que ouvindo a palavra entendam e venha a se arrepender.

3.      Devemos evangelizar com fervor, com alegria, pois Cristo prometeu estar conosco e essa é a garantia de que a nossa pregação irá operar segundo a vontade soberana de Deus, seja salvando, seja condenando.













Que o Senhor pois nos abençoe!



[1] Hangus,Joseph, História, Doutrina e Interpretação da Bíblia, p. 621, editora Hagnos.