terça-feira, 3 de novembro de 2020

INTRODUÇÃO ÀS ANTIGAS DOUTRINAS DA GRAÇA



INTRODUÇÃO

Dá-se o nome de As Antigas Doutrinas da Graça, aquelas doutrinas bíblicas defendidas durante a história bíblica e história da igreja, por diversos crentes que lutaram para manter intactos os ensinos bíblicos com respeito a doutrina da Eleição e Salvação Eterna.

Charles H. Spurgeon, grande pregador do evangelho, pastor Batista que viveu no século 19, falando sobre as Doutrinas da Graça, disse:

“Minha opinião pessoal é que não há pregação de Cristo e este Crucificado, a menos que se pregue aquilo que atualmente se chama calvinismo[...]”. (ANGLADA, 2009)

Já em sua época, Spurgeon experimentava uma aversão as doutrinas da graça, contudo, ele não concebia uma pregação que fosse fiel ao espírito do evangelho que não considerasse as doutrinas bíblicas que Calvino e tantos outros antes dele pregaram e defenderam. Por esse motivo, iremos partir do ponto de origem dessas doutrinas, a Sagrada Escritura. Por meio desse breve estudo iremos caminhar pelas vias da história até chegarmos ao momento em que essas doutrinas foram sistematizadas.

AS DOUTRINAS DA GRAÇA E AS ESCRITURAS

A história bíblica da redenção aponta para a ideia, que, Deus, durante a história, sempre agiu de forma eletiva com o homem. Essa eleição sempre ocorreu não com vista a uma retribuição divina as boas atitudes daqueles que foram alvo de sua eleição, mas contrariando essa perspectiva, Deus escolheu entre os homens aqueles que estavam perdidos.

No texto escrito por Paulo aos romanos, o apóstolo apresenta-nos em seus três primeiros capítulos a situação em que o homem caiu por ocasião da queda de nosso primeiro pai, Adão. Nesses capítulos Paulo encerra toda a humanidade debaixo do pecado e consequentemente alvos da ira de Deus. Por meio de sua argumentação, Paulo pretende demonstrar que não há diferença entre aqueles que são de Israel ou não, todos sem exceção necessitam da misericórdia de Deus e não possuem em si mesmos nada que os faça merecer a bondade Divina.

Rm 2:1  Portanto, és inescusável quando julgas, ó homem, quem quer que sejas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu, que julgas, fazes o mesmo. 2  E bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade sobre os que tais coisas fazem. 3  E tu, ó homem, que julgas os que fazem tais coisas, cuidas que, fazendo-as tu, escaparás ao juízo de Deus?

Rm 3:9  Pois quê? Somos nós mais excelentes? De maneira nenhuma! Pois já dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado, 10  como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. 11  Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. 12  Todos se extraviaram e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só.[1] 

Ambos os textos, acima citados, demonstram aquilo que o Apóstolo entendia, pelo Espírito Santo, sobre qual era a situação da humanidade diante de um Deus Santo. Esse entendimento Paulino com respeito a condição humana permeia praticamente todos os seus escritos, em Efésios, por exemplo, nos capítulos 1 e 2, ele trata claramente tanto da doutrina da eleição, quanto elucida o motivo pelo qual os homens não podem por suas próprias forças se achegarem a Deus.[2][3]

Obviamente muitos outros textos poderiam ser citados, não só paulinos, contudo, por se tratar de uma introdução, não pretendo estender o assunto uma vez que cada ponto ficará devidamente estabelecido durante a abordagem individual de cada tópico dos chamados cinco pontos do calvinismo. Basta saber nesse momento que as escrituras demonstram de forma abundante que a queda corrompeu de tal maneira o ser humano que ele é incapaz de buscar a Deus por suas próprias habilidades, que o homem natural é escravo do pecado e está constantemente sob a ira Divina.

AS DOUTRINAS DA GRAÇA E AGOSTINHO[4].

Santo Agostinho de Hipona, como é popularmente conhecido, era originário do Norte da África. Converteu-se em Milão e logo se tornou Bispo de Hipona. Combateu diversas heresias em seu tempo, entre elas: o maniqueísmo, o donatismo e o pelagianismo. Vamos discutir em particular seu debate com respeito as ideias heréticas de Pelágio.

A controvérsia girou mais especificamente sobre qual o estado do homem após a queda. Pelágio[5] defendia que apesar da queda, o homem não havia sido corrompido totalmente pelo pecado e que este poderia, sem o auxílio Divino, responder positivamente a graça de Deus (livre arbítrio). Agostinho, por outro lado, defendeu que o homem, após a queda, tornou-se totalmente depravado, não podendo por suas próprias habilidades voltar-se para Deus e sua Graça.

RESULTADO

O Pelagianismo foi condenado oficialmente pela Igreja antiga nos concílios de Cartago (418 d.C.), de Éfeso (431 d.C.) e finalmente no Concílio de Orange II (529 d.C.). (MAIA)

O SÍNODO DE DORT

Dort ou Dordrecht é uma cidade da Holanda, que fica nas proximidades de Roterdã. Na época, Dort era uma das principais  cidades, a província mais poderosa da República. (DORT, 2016)

A palavra “sínodo” significa, na estrutura da Igreja Reformada, uma assembleia de pastores e presbíteros, representantes das igrejas locais. Existem sínodos provinciais ou regionais, e sínodos nacionais. (DORT, 2016)

ORIGEM DO NOME “ARMINIANOS”

O nome arminianos deriva do nome de um teólogo holandês que era pastor da igreja reformada em Amsterdã e foi nomeado, em 1603, professor de teologia na Universidade  de Leiden, a mais antiga e mais famosa da Holanda, Jacobus Arminius, ou em português, Armínio. Um ano depois, Armínio apresentou uma tese sobre a doutrina da predestinação, onde afirmava que a eleição não era baseada no Eterno Decreto de Deus, mas na presciência  Divina. Sua tese foi contestada por um teólogo chamado Francisco Gomarus, Gomaro. Neste mesmo ano, Gomaro, apresentou uma tese onde reafirmou o posicionamento já antes estabelecido e aceito sobre a doutrina da predestinação. Em sua tese, ele reafirmou que Deus elege pecadores, com base em seu Eterno propósito, sem prever neles qualquer boa obra que os faça merecer sua graça Salvadora e que os demais são deixados em seu estado natural de queda para que recebam a pena devida exigida pela justiça divina.

OS REMOSNTRANTES

Após a morte de Armínio, seus alunos colheram anotações de sala de aula e formularam seus posicionamentos com base na tese defendida por seu mestre. Eles pediram que fossem considerados seus posicionamentos e que, a doutrina da salvação, com base nos seus escritos, fosse revista e alterada. Por esse motivo o Sínodo foi convocado para tratar da questão, o que ocasionou a resposta por parte daqueles que defendiam a doutrina da salvação com base no Eterno decreto de Deus.

Composição do sínodo:

·         39 pastores;

·         19 presbíteros;

·         19 comissários políticos- havia na época uma relação estreita entre a igreja e estado;

·         Representantes das universidades e seminários regionais;

·         Foram convidados também representantes das igrejas reformadas estrangeiras.

O sínodo teve início no dia 13 de novembro de 1618, sob a presidência do pastor da Frísia, Johannes Bogerman, que tinha como seu secretario particular o pastor inglês, puritano, Guilelmus Amesius. (DORT, 2016)

DECISÕES TOMADAS NO SÍNODO

No livreto publicado pela editora Cultura cristã, “Os Cânones de Dort”, nos é  apresentado uma informação muito interessante sobre a posição dos arminianos no decorrer do Sínodo.

“Nas primeiras sessões,  o Sínodo discutiu a agenda e decidiu chamar treze dos teólogos arminianos mais importantes para defender sua doutrina. Episcopius, professor da Faculdade de Teologia em Leiden e sucessor de Armínio, e doze pastores compareceram em dezembro de 1618. Para eles, o Sínodo não passava de uma conferência e eles lhe negavam competência para agir como tribunal em questões de doutrina. Eles não queriam ser tratados como réus. A tática do grupo arminiano era obstruir as reuniões do Sínodo com debates formais. O Sínodo queria discutir os artigos da Remonstrância, mas o grupo arminiano se recusava a expor claramente sua posição doutrinária. Após quatro semanas de debates inúteis, o presidente do Sínodo dispensou o grupo dos arminianos. Com isso, o Sínodo passou a julgar a doutrina arminiana com base em seus escritos. Os cinco artigos dos arminianos foram discutidos e uma comissão preparou o texto dos cânones ou regras de doutrina em que se condenava a doutrina arminiana e se expunha a doutrina reformada.” (DORT, 2016)

Por algum motivo, parece que os arminianos, ou não estavam seguros de sua posição, ou tentaram utilizar alguma tática para atrapalhar a condução do Sínodo. Contudo, no dia 6 de maio de 1619, sendo aceitos por todos os delegados, os Cânones de Dort foram solenemente promulgados.

Ao longo dos anos, a estudada resposta do Sínodo de Dort às “heresias” arminianas tem sido apresentada na forma de um acróstico formado pela palavra Tulip: (SPENCER, 2000)

T

Total depravity

Depravação total

U

Unconditional election

Eleição incondicional

L

Limited atenement

Expiação limitada

I

Irresistible grace

Graça irresistível

P

Perseverance of the saints

Perseverança dos santos

 

CONCLUSÃO

Nossa intenção foi de apresentar um breve histórico de como foram formadas e estabelecidas as doutrinas da graça. Uma abordagem minuciosa será apresentada na exposição individual de cada um dos cinco pontos. Contudo, é de extrema importância que o aluno detenha esse conhecimento introdutório para que tenha em mente o contexto que define o espírito da época, isso o fará entender o porquê certas decisões tomaram seus rumos atuais.

Bibliografia

ANGLADA, P. R. B. Calvinismo: As Antigas Doutrinas da Graça. 3ª. ed. Belém: Knox Publicações, v. 0, 2009.

DORT, O. C. D. Os Cânones de Dort. 3ª. ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2016.

MAIA, C. R. http://misscristianerodrigues.blogspot.com/. misscristianerodrigues. Disponivel em: <http://misscristianerodrigues.blogspot.com/2011/02/controversia-de-agostinho-e-pelagio.html>.

SPENCER, D. E. TULIP: Os Cinco Pontos do Calvinismo à Luz das Escrituras. 2ª. ed. São Paulo: PARAKLETOS, 2000.

 



[1] Sl 14:2  O SENHOR olhou desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia algum que tivesse entendimento e buscasse a Deus. 3  Desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos; não há quem faça o bem, não há sequer um. Paulo cita o Salmo 14-2.3.

[2] Ef 1:3  Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo, 4  como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em caridade, 5  e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, 6  para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado. 7  Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça, 8  que Ele tornou abundante para conosco em toda a sabedoria e prudência, 9  descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo, 10  de tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra; 11  nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade, 12  com o fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que primeiro esperamos em Cristo; 13  em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa; 14  o qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão de Deus, para louvor da sua glória. 

[3] Ef 2:1  E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, 2  em que, noutro tempo, andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que, agora, opera nos filhos da desobediência; 3  entre os quais todos nós também, antes, andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também. 4  Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, 5  estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), 6  e nos ressuscitou juntamente com ele, e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus; 7  para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça, pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus. 8  Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. 9  Não vem das obras, para que ninguém se glorie. 10  Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas. 

 

Agostinho nasceu em 13 de novembro de 354 d.C., em Tagasta, na África (hoje Argélia) e faleceu em 28 de agosto de 430 em Hipona. Foi um dos maiores pensadores da Igreja. Era filho de Patrício, homem de recursos, pagão, mas que se converteu nos últimos anos de sua vida e sua mãe Mônica, cristã que sempre dedicou a vida à sua formação, conversão e esperanças (ao filho), embora Agostinho tenha vivido dissolutamente e desregradamente até os 32 anos, quando ocorreu sua conversão. (MAIA)

[5]Pelágio um monge britânico, nasceu por volta do ano 350 e muitos de seus escritos são conhecidos através das citações e alusões feitas em livros que se opõem a ele e o condenam, sua vida é cheia de mistérios assim como tantos outros hereges do cristianismo primitivo. Chegou em Roma, por volta do ano 400 ou 405 e viajou para a África do Norte, onde poderia ter conhecido Agostinho. (MAIA)

2 comentários:

  1. Poxa que explicação, poderia colocar as duas vertentes que explica os conceitos de cada um, Arminio x Calvino, os pontos.

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    1. Bom dia Geo, muito obrigado pelo comentário. Farei isso, minha intenção é expor aquilo que cada ponto ensina e dar informações sobre como as posições contrárias!

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